O prémio é entregue a Marlene Monteiro Freitas depois da estreia italiana do espetáculo “Bacantes – Prelúdio para uma purga”, estreado em abril do ano passado, no Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa.
Nascida em 1979, em São Vicente, Cabo Verde, Marlene Monteiro Freitas é um “presença eletrizante”, detentora de “um poder dionisíaco”, nas suas produções, destacou a Bienal, quando anunciou a atribuição do prémio de carreira à bailarina e coreógrafa, no passado mês de janeiro.
Marlene Monteiro Freitas cofundou em Lisboa a estrutura cultural P.O.R.K, com a qual assinou coreografias como “Paraíso-coleção privada (2012-13) e “marfim e carne — as estátuas também sofrem” (2014), entre outras obras.
Em entrevista à Lusa, depois da atribuição do pémio, a coreógrafa explicou que, no seu processo de trabalho – cheio de referências de várias áreas artísticas -, lhe interessa “deformar algo para chegar a outra coisa”, e que, “para chegar a uma metamorfose, é preciso haver forçosamente uma transgressão”.
“O meu objetivo não é a transgressão em si, mas usá-la para atingir a metamorfose”, justificou.
Outro aspeto importante nas suas motivações é o lado emocional de uma obra coreográfica.
“Claro que a narrativa é importante, mas interessa-me mais ter uma relação emocional com o público do que o reconhecimento de uma história na coreografia”, apontou, sublinhando que dá também particular relevância à relação direta entre o bailarino e o público.
Em “Bacantes – Prelúdio para uma purga”, que tem hoje estreia italiana, o ponto de partida é o mundo moral e estético de Eurípides, com apelo a fatores comuns à sua obra – “a abertura, a impureza, a intensidade” -, com o ojetivo de impor um “autêntico combate de aparências e dissimulações”.
“Em Eurípides, está presente o delírio e o irracional. Manifesta-se a ferocidade e o desejo de paz, a selvajaria e a aspiração a uma vida simples. Encontram-se, no seu texto, direções contraditórias, elementos que chocam, corpos íntegros que se desmembram e crenças testadas ao limite. Este é o mundo, moral e estético, que o autor convida a percorrer”, lê-se na apresentação da obra.
Estreada no ano passado, em Lisboa, no Teatro Nacional D. Maria II, em associação com o festival Alkantara e o Festival das Artes de Bruxelas, “Bacantes” contou ainda com apoio do Festival de Dança de Montpellier, do centro de desenvolvimento coreográfico Le Cuvier, d’O Espaço do Tempo, de Montemor-o-Novo, do Teatro Municipal do Porto e do Programa Cultura da União Europeia.
O festival belga, na apresentação da obra, disse que Marlene Monteiro Freitas é “uma das maiores descobertas da atual cena internacional”, capaz de “fascinar audiências com a sua linguagem de abundante vitalidade, o seu imaginário forte e a riqueza de referências” que detém.
A Bienal de Dança de Veneza encerra no próximo domingo. Nesta edição, foi igualmente homenageada a coreógrafa norte-americana Meg Stuart, com a atribuição do Leão de Ouro de Carreira, conhecida do público português por criações como “Running”, “Violet”, “Hunter” ou “Blessed”.
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