Localizada numa zona florestal junto à Barragem da Aguieira, no lugar do Freixo, a Central de Biomassa Florestal de Mortágua recebe diariamente cerca de 30 veículos pesados com 'lixo' florestal, proveniente da limpeza de matas e que servirá de combustível para produção de energia elétrica.
À entrada para a central, os camiões passam por uma balança onde são pesados e por cada tonelada de 'lixo' florestal é paga uma média de 20 euros, tendo em conta o fator qualidade.
"A biomassa é um combustível muito heterogéneo e temos de ter um padrão de qualidade, que depende da forma como é tratada na floresta e da percentagem de humidade, que deve ser entre 25 a 35%, e a quantidade de inertes: areias e pedras que vêm agregadas", explicou Silva Lopes, da direção de Cogeração e Biomassa da EDP.
A fragrância que transpira de um camião que acaba de chegar adivinha o carregamento de ramagem de eucalipto que traz no seu interior, mas minutos depois um outro pesado traz biomassa triturada que só a experiência de largos anos de trabalho dos funcionários permite identificar.
"Cerca de 60% da biomassa que nos chega vem destroçada e 40% por destroçar. E chega-nos de uma envolvente até 100 quilómetros daqui: temos 50% do distrito de Viseu, 27% do distrito de Aveiro e 23% do distrito de Coimbra", informou.
A descarrega é feita e o combustível é armazenado para uma espécie de um silo, onde desponta uma garra automática, de grandes dimensões, que consegue fazer o transporte do combustível até à caldeira, onde será queimado, consoante a necessidade.
Com a queima é feita a separação dos inertes - pedras e cinzas - e os gases são limpos e libertados pela chaminé para a atmosfera.
"Liberta CO2 e por efeito da fotossíntese é convertido novamente em oxigénio, o que faz com que seja um processo sustentável com balanço de emissões de CO2 nulo. A produção de eletricidade é conseguida por um alternador que é acionado por uma turbina e que recebe vapor da caldeira, resultante da transferência de calor entre a combustão e a água que circula na caldeira", apontou.
No seu entender, a Central de Mortágua, ao consumir 300 toneladas por dia de biomassa florestal "dinamiza o setor florestal da Região Centro, o que corresponde a uma valorização de 3,3 milhões de euros por ano".
"Contribui para a diminuição da dependência externa, evitando a importação anual de 15 M metros cúbicos de gás natural com um valor estimado em 4 milhões de euros e contribuiu ainda para o cumprimento das metas ambientais, evitando a emissão de 29.000 toneladas de CO2 por ano", referiu.
Em termos de emprego em zona rural, cria um total de 28 postos de trabalho diretos e mais de 100 indiretos (quem faz limpeza e destroçamento da biomassa, quem conduz os camiões que a traz, entre outros).
"Contribui também para a redução do risco de incêndio florestal, retirando das matas 137.000 toneladas de biomassa por ano, números estes relativos ao ano de 2016", destacou.
O colaborador da EDP Pedro Lopes, que reside no concelho de Mortágua, recorda que o último grande incêndio de que tem memória remonta ao ano de 2005, acrescentando que no ano passado dois incêndios vindos de concelhos vizinhos chegaram apenas aos limites de Mortágua.
"Penso que tem grande impacto tirarmos 137 mil toneladas de combustível da floresta, pois limpa a floresta e nós reaproveitamos para produção de energia elétrica", concluiu.
A Central de Biomassa Florestal de Mortágua foi inaugurada em 1999, sendo no setor da energia renovável a primeira central a produzir energia elétrica a partir da biomassa florestal.
O investimento realizado representou cerca de 30 milhões de euros, sendo a licença de exploração detida pela EDP Produção Elétrica S.A., uma 'joint venture' entre o Grupo Altri (50%) e o Grupo EDP (50%).
A Operação e Manutenção da Central é assegurada pela EDP Produção - Direção de Cogeração e Biomassa.
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