“O Christian está sempre pronto para a trincheira e nunca se queixa”, disse o realizador Scott Cooper numa sessão de visionamento antecipado em Los Angeles. “Filmámos com 13 graus negativos e em sítios de difícil acesso”, continuou. “Quando o Christian não se queixa, ninguém se queixa. É o primeiro a chegar e o último a sair”.
O argumento baseia-se no livro homónimo de Louis Bayard (2003) e debruça-se sobre o mistério de cadetes assassinados na academia militar de West Point, estado de Nova Iorque, em 1830. Coloca o escritor e poeta Edgar Allan Poe, conhecido como o precursor das histórias de detetives, no centro da trama.
“Gosto disto como história de origem de Poe e como ele afeta este personagem fictício Landor, e como o rejuvenesce”, disse Christian Bale, no mesmo encontro em Los Angeles. “Poe devolveu a humanidade a Landor e fá-lo querer viver outra vez”.
O seu personagem, o detetive August Landor, é chamado pelos responsáveis de West Point para tentar identificar o responsável pela morte de um cadete em circunstâncias macabras.
O velho detetive, explicou Bale, “é um homem que sente que esteve no comando toda a sua vida e que descobre estar à mercê de outros”. Essa é uma revelação chocante para ele, na sua idade, quando pensava que todas as histórias tinham ficado para trás. “E descobrimos que não, que as histórias que o vão definir estão à sua frente”.
Edgar Allan Poe, que realmente passou pela academia de West Point quando tinha 21 anos, em 1830, é interpretado nesta produção Netflix pelo ator Harry Melling.
“É incrível a ‘nuance’, na criação de uma história entusiasmante sobre quem será o culpado e ao mesmo tempo um retrato belíssimo de personagens, combinado com a história de origem do pai do macabro e das histórias de detetive”, disse Christian Bale.
Filmado entre a Pensilvânia e Nova Iorque durante o pico da variante Ómicron da pandemia de covid-19, no último inverno, “Os Olhos de Allan Poe” é um filme de época que tenta mostrar uma nova versão de um tipo de história contada muitas vezes.
“Já todos vimos o detetive grisalho que está reformado”, disse o realizador Scott Cooper. “Christian Bale conseguiu dar-lhe humanidade, sagacidade, humor, intensidade”, continuou, referindo que a história vai deixando pistas e migalhas que permitem à audiência descobrir uma outra perspetiva quando vê o filme pela segunda vez e já sabe quem é o culpado.
Na busca de autenticidade, a equipa de produção passou muito tempo em West Point a estudar os uniformes de 1830, que não mudaram muito até hoje, e usam os mesmos tecidos e tipos de botões.
A luz de velas da época é usada em várias cenas.
“Queríamos as cores negras muito profundas e textura na imagem”, indicou Scott Cooper. “Queria que este filme, que foi filmado a cores, quase parecesse feito a preto e branco”.
Com estreia marcada para os cinemas a 23 de dezembro e chegada à Netflix a 6 de janeiro de 2023, o filme “Os Olhos de Allan Poe” conta ainda com Gillian Anderson (“Julia Marquis”), Robert Duvall (“Jean-Pepe”) e Lucy Boynton (“Lea Marquis”).
A produção é de Tyler Thompson e John Lesher, além de Bale e Cooper. Este é o terceiro filme com Christian Bale realizado por Scott Cooper, depois de “Para Além das Cinzas” (2013) e “Hostis” (2017).
Edgar Allan Poe é considerado o fundador do romance policial, com a publicação d’”Os crimes da Rua Morgue” em 1841, por ter elevado as histórias de detetives a género literário, com um personagem a analisar o caso e a resolver o mistério.
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