A estimativa consta do Plano de Atividades da Cinemateca Portuguesa para 2024, desenhado pela direção que cessou funções em fevereiro, e que está a ser assumida interinamente pelo subdiretor, Rui Machado, enquanto ainda decorre o concurso público para os próximos cargos diretivos.
No documento, a Cinemateca lembra que estão ainda em curso dois projetos de digitalização do cinema português, o “FILMar” e o do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), mas que a Cinemateca terá de ser capaz de manter a longo prazo o arquivo digital e o património fílmico noutros suportes.
Isso implicará “o aumento dos custos de funcionamento e de recursos humanos especializados”, alertou a Cinemateca.
De acordo com o organismo, para 2024 estão orçamentados valores semelhantes para despesa e para receitas totais, a rondar os 11,4 milhões de euros cada.
Em termos de recursos humanos, na Cinemateca trabalham 84 pessoas, mas apenas estão ocupados 62 lugares do mapa de pessoal, o que significa que a instituição precisa de mais de vinte trabalhadores para suprimir as necessidades; e para os contratar depende sempre de autorização do Ministério das Finanças.
“Tendo em conta o grau de especificidade de alguns dos postos de trabalho, e apesar de todas diligências feitas pelo organismo, será muito difícil (para não dizer impossível) o seu preenchimento dentro dos recursos humanos do Estado”, lamenta a Cinemateca Portuguesa.
Há muito que a direção da Cinemateca alerta publicamente para os constrangimentos de gestão por questões burocráticas e administrativas decorrentes da condição de instituto público, dependente da Administração Pública, e defende um novo enquadramento legal.
Esses constrangimentos de gestão afetam sobretudo a atividade do laboratório de restauro, fotoquímico e digital, cuja manutenção é “um dos maiores alvos do esforço da direção da Cinemateca”, não só porque permite preservar o património fílmico em película e em digital, mas porque tem potencial de rentabilidade, trabalhando com outras cinematecas.
Sem trabalhadores especializados e sem investimento neste laboratório, a Cinemateca dá uma estimativa do que pode acontecer: “Ao ritmo anual, calcula-se que sejam precisos entre 40 a 50 anos para terminar o trabalho de preservação fotoquímica do cinema português (apenas longas-metragens)”.
E recorda: “Embora a digitalização de 1.000 filmes portugueses seja muito significativa, a verdade é que este número é uma pequena parte do universo de filmes que precisam de serem digitalizados depois da conclusão destes projetos de digitalização”.
Ao longo dos últimos anos, a Cinemateca apresentou várias propostas à tutela da Cultura, tendo havido contactos com a Unidade Técnica de Acompanhamento e Monitorização do Setor Público Empresarial, do Ministério das Finanças.
“Aguarda-se ainda a retoma e o desenvolvimento do percurso então encetado com vista à desejada aprovação de um modelo administrativo adequado”, lê-se no documento.
Entre os objetivos traçados para 2024, e deixados para a próxima direção, estão, por exemplo, continuar os projetos de digitalização, nomeadamente “mais de 100 longas-metragens do cinema português ou equiparado, para além de umas largas dezenas de curtas-metragens”; e “continuar, e talvez concluir, o processo de transferência do arquivo em película da RTP para os cofres climatizados” do Arquivo Nacional de Imagens em Movimento.
A comemoração dos 50 anos do 25 de abril de 1974 “terá um eixo programático ao longo do ano, invocando e trabalhando à volta desta efeméride”.
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