"Havia uma enorme vontade de fazer alguma coisa sobre um setor da música quase completamente novo. Queria-se um veículo para uma música especial, que não existia, e que era tão diferente e tão entusiasmante", afirmou à agência Lusa José Moura, um dos fundadores da Príncipe Discos.

Essa música entusiasmante, eletrónica afro-portuguesa e que José Moura simplifica como "batida e as duas variantes", é feita por músicos, produtores e DJ da região de Lisboa, em particular dos bairros sociais e periféricos da capital - das duas margens do Tejo -, de Loures, Sintra, Sacavém, Corroios, e cuja identidade passa por África, com a inclusão de kuduro, kizomba e funaná.

Foi através da Príncipe Discos que sobressaíram nomes como DJ Marfox, DJ Nigga Fox, DJ Firmeza e Piquenos Djs do Guetto, mas também Nídia, Niagara, DJ Nervoso e DJ Lycox. Alguns começaram ainda adolescentes e têm hoje repercussão internacional, com atuações em clubes e críticas na imprensa especializada.

"Era um mundo novo para nós, que estava acontecer aqui ao lado, mas a intenção era facilitar uma ligação com o mundo, ser um canal de divulgação, sem desvirtuar aquilo que fazem", explicou José Moura, também ligado à loja de discos Flur, em Lisboa.

Um dos princípios da Príncipe Discos foi manter a produção e edição localmente, numa relação de proximidade com os artistas. DJ Marfox foi o primeiro a editar - o EP "Eu sei quem sou" -, abrindo caminho para o conhecimento de outros artistas.

Além de fazer um trabalho de campo de pesquisa e procura, a Príncipe Discos já recebe solicitações de outros DJ que gostam do perfil da editora e querem trabalhar com ela.

"No início não foi fácil, porque estamos falar de coisas muito locais e muito próprias, mas acabou por se tornar numa bola de neve e hoje as coisas já são um pouco mais automáticas [na divulgação] e é possível ter mais destaque internacional", sublinhou o editor.

José Moura recorda como ponto de mudança uma atuação de DJ Marfox na Polónia. "Estava uma concentração anormal de pessoas do meio e a palavra espalhou-se".

Esse trabalho de visibilidade feito pela Príncipe Discos passou também por uma residência mensal no espaço Musicbox, em Lisboa, com uma regularidade que se mantém até hoje.

"Foi fundamental porque os dois primeiros anos da Príncipe foram um pouco de incerteza", lembrou José Moura.

O sétimo aniversário da Príncipe Discos será, então, celebrado a 23 de fevereiro não só no Musicbox, como noutros clubes que, de alguma forma têm apoiado os artistas da editora, nomeadamente o Lounge, o Damas e a ZDB.

Haverá ainda uma sessão de atuações no Pérola Negra, no Porto.

Entre os artistas da Príncipe convocados para o aniversário estão Marfox, DJ Firmeza, DJ Narciso, Niagara, Puto Anderson, Nídia e Blacksea Não Maya.