A INFLUÊNCIA DAS REDES SOCIAIS NA NOSSA SAÚDE MENTAL

As redes sociais não influenciam apenas a forma como te apresentas ao mundo, têm também um impacto profundo na estrutura interna da tua autoestima, emoções e comportamento. A forma como pensas, interpretas e ages perante ti e o mundo pode ser significativamente moldada pela constante interação com estas plataformas digitais.

Vamos explorar as consequências internas e emocionais. Mais à frente, serão também abordadas as consequências cognitivas.

AUTOESTIMA E AUTOPERCEÇÃO

A autoestima é a avaliação que fazes de ti próprio, influenciada por experiências, relações e realizações. Segundo Rosenberg (1965), tem uma dimensão afetiva (como te sentes em relação a ti) e uma cognitiva (crenças sobre as tuas competências). Já a auto- perceção é como te vês, baseando-te nas tuas ações e nas interações com os outros, como sugere a Teoria da Autoperceção. Resumindo, a autoestima é como te sentes em relação a ti, e a autoperceção é como te vês. Para te alinhares com a pessoa que queres ser, precisas de estar em contacto com os teus valores. Por exemplo, se valorizas a saúde, mas o teu comportamento é sedentário e desleixado, a tua autoestima e a autoperceção serão prejudicadas. Nas redes sociais, se valorizas conexões genuínas, mas passas o tempo a cultivar uma imagem idealizada e a procurar validação através de likes, isso pode afetar a tua autoestima e distorcer a tua autoperceção, fazendo-te sentir menos autêntico em relação ao teu «eu real».

(DES)REGULAÇÃO EMOCIONAL

A regulação emocional é a forma como procuras lidar com as tuas emoções, assumindo a responsabilidade sobre quando e como as sentes e expressas. É essencial para o teu bem-estar mental e social. No contexto das tecnologias, torna-se mais difícil devido ao constante fluxo de estímulos emocionais – sons, notificações e publicações –, que podem intensificar a tua reatividade. Cada comentário ou notícia pode gerar respostas emocionais fortes, levando-te a uma montanha-russa de emoções. Ficas feliz com «gostos», mas rapidamente te comparas com outros e sentes inveja, o que acaba por te deixar emocionalmente exausto. 

Para uma boa regulação emocional, o primeiro passo é reconheceres e acolheres as tuas emoções. Não é um processo fácil e depende de muitas variáveis, e, por isso mesmo, podes ter uma boa regulação ou, pelo contrário, uma desregulação emocional.

Os mecanismos de defesa têm um papel fundamental na nossa vida, em determinados momentos, podendo ser muito protetores; contudo, é sempre importante que não vivas em fusão constante com eles. Por exemplo, pode fazer todo o sentido evitar uma conversa sobre uma discussão num momento em que precisas de pensar. No entanto, não é saudável se evitares conversar sempre que há um conflito.

"É Desta Que Leio Isto"

"É Desta Que Leio Isto" é um grupo de leitura promovido pela MadreMedia. Lançado em maio de 2020, foi criado com o propósito de incentivar a leitura e a discussão à volta dos livros.

Já folheámos as páginas de livros de autores como Luís Sepúlveda, George Orwell, José Saramago, Dulce Maria Cardoso, Harper Lee, Valter Hugo Mãe, Gabriel García Marquez, Vladimir Nabokov, Afonso Reis Cabral, Philip Roth, Chimamanda Ngozi Adichie, Jonathan Franzen, Isabel Lucas, Milan Kundera, Joan Didion, Eça de Queiroz e Patricia Highsmith, sempre com a presença de convidados especiais que nos ajudam à discussão, interpretação, troca de ideias e, sobretudo, proporcionam boas conversas.

Ao longo da história do nosso clube, já tivemos o privilégio de contar nomes como Teolinda Gersão, Afonso Cruz, Tânia Ganho, Filipe Melo e Juan Cavia, Kalaf Epalanga, Maria do Rosário Pedreira, Inês Maria Meneses, José Luís Peixoto, João Tordo e Álvaro Laborinho Lúcio, que falaram sobre as suas ou outras obras.

Para além dos encontros mensais para discussão de obras literárias, o clube conta com um grupo no Facebook, com mais de 2500 membros, que visa fomentar a troca de ideias à volta dos livros, dos seus autores e da escrita e histórias que nos apaixonam.

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Mecanismos de defesa

Repressão – Bloqueio inconsciente de pensamentos e sentimentos dolorosos.
Exemplo: Uma pessoa que sofreu um trauma na infância, como episódios de abuso, pode reprimir memórias dolorosas, bloqueando-as do seu consciente. Embora as memórias não sejam ativamente lembradas, podem influenciar o comportamento e as emoções de forma inconsciente.

Supressão – O ato consciente de evitar pensamentos ou sentimentos perturbadores.
Exemplo: Um estudante que está ansioso com um exame importante pode conscientemente decidir não pensar sobre a sua ansiedade durante um evento social para poder desfrutar da companhia dos amigos.

Deslocamento – Transferência de sentimentos de uma fonte de stresse para outra menos ameaçadora.
Exemplo: Um funcionário que é repreendido pelo seu chefe pode, em vez de expressar a sua raiva no trabalho, ir para casa e descarregar a frustração no seu parceiro ou família, transferindo a fonte de stresse para um alvo mais seguro.

Negação – Recusa em aceitar a realidade de uma situação dolorosa.
Exemplo: Uma pessoa que recebe um diagnóstico sério de uma doença pode recusar-se a aceitar a realidade, agindo como se estivesse tudo bem e não tomando as medidas necessárias para o tratamento.

Projeção – Atribuição dos próprios sentimentos ou características indesejadas a outra pessoa.
Exemplo: Alguém que alimenta pensamentos e sentimentos relacionados com a infidelidade, pode acusar o seu parceiro de ser infiel, atribuindo os seus próprios pensamentos ou sentimentos indesejados a outra pessoa.

Intelectualização – Uso de raciocínio lógico para evitar lidar com emoções desconfortáveis.
Exemplo: Alguém que recebe a notícia da morte de um ente querido pode focar-se em pormenores da logística do funeral e noutros aspetos práticos, usando o raciocínio lógico para evitar lidar com a dor emocional.

Racionalização – Justificação de comportamentos e sentimentos com explicações lógicas.
Exemplo: Um estudante que falha um exame pode justificar o fracasso ao dizer que a matéria não era importante ou que o professor não explicou bem o conteúdo, em vez de aceitar a falta de preparação.

Fuga/Fantasia – Uso de fantasia ou imersão em atividades para evitar a realidade dolorosa.
Exemplo: Uma pessoa que está insatisfeita com a sua vida pode passar muito tempo a sonhar acordada com uma vida ideal, ou a mergulhar em livros, filmes ou jogos para escapar à realidade desconfortável.

Substituição – Troca de um sentimento ou reação inaceitável por uma aceitável.
Exemplo: Alguém que sente raiva do seu chefe pode canalizar essa emoção para a prática de um desporto intenso, substituindo a raiva inaceitável por um comportamento mais aceitável e saudável.

Identificação – Assumir características de outra pessoa por quem se sente admiração.
Exemplo: Uma pessoa que admira um colega de trabalho bem-sucedido pode começar a adotar os mesmos hábitos e comportamentos profissionais desse colega, como forma de se sentir mais confiante e bem-sucedido na sua própria carreira.

Outra forma de desregulação emocional que observo em contexto clínico é a procrastinação, cada vez mais comum, especialmente como consequência do uso de redes sociais. Quantas vezes já deste por ti a utilizá-las para evitar lidar com emoções ou tarefas difíceis? Este comportamento proporciona um alívio temporário, mas impede-te de desenvolver recursos saudáveis de regulação emocional e pode criar dependência. Quando te sentes ansioso ou frustrado, ou enfrentas algo desafiante, recorrer às redes sociais para te distraíres ativa o sistema de recompensa do teu cérebro e proporciona um prazer temporário que mascara o desconforto. Embora esse alívio seja momentâneo, procrastinar através das redes sociais tem consequências negativas a longo prazo, como a redução da produtividade, atrasos, ou o aumento da ansiedade e do stresse.

Lembra-te, a regulação emocional é um processo contínuo e essencial para a tua saúde mental e bem-estar. Aceitares e responderes às tuas emoções de forma equilibrada permite-te viver de forma mais autêntica e satisfatória. No capítulo 5, são apresentadas dezenas de estratégias para gerires melhor as tuas emoções.

IMPACTO NA SAÚDE MENTAL

Nos últimos anos, vários estudos que têm vindo a ser realizados mostram que a utilização intensiva das redes sociais pode ter algumas consequências:

  • Diminuição da autoestima e do bem-estar social, devido à comparação social e à busca de validação externa.
  • Maior insatisfação corporal e internalização de padrões de beleza irrealistas.
  • As comparações sociais feitas nas redes sociais podem afetar negativamente a imagem corporal e o humor de mulheres jovens.
  • Foi encontrada uma correlação significativa entre o uso intensivo de redes sociais e níveis mais altos de depressão entre jovens adultos.
  • Interações passivas, como a visualização de conteúdo, estão associadas a uma menor autoestima e satisfação com a vida, enquanto interações ativas, como comentar e conversar, estão associadas a um maior bem-estar.

A desconexão entre a tua identidade real e a tua imagem online pode criar uma sensação de alienação e insatisfação, afetando negativamente o teu bem-estar geral.

Estas influências podem refletir-se não só em sintomas psicológicos e emocionais como também em sintomas cognitivos:

  • Distração constante;
  • Dificuldade de concentração;
  • Impulsividade;
  • Desregulação emocional;
  • Agitação mental;
  • Dificuldade de concentração em tarefas importantes;
  • Sensação de sobrecarga cognitiva;
  • Memória afetada.

Livro: "Estou Sempre a Mil"

Autor: Rita Gama Ferreira

Editora: Contraponto

Data de Lançamento: 16 de janeiro de 2025

Preço: € 17,70

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As redes sociais têm um impacto profundo na estrutura interna da tua autoestima, emoções e comportamento, bem como na cognição, assunto que será abordado mais à frente.

ABORRECE-TE!

O aborrecimento é a ausência de estímulos que ocupem a mente. Em vez de ser uma experiência interpretada como negativa, pode servir como porta de entrada para a introspeção e criatividade. Contudo, o aborrecimento tornou-se quase uma experiência estranha e aversiva para muitos de nós.

De acordo com um estudo publicado na revista Academy of Management Discoveries (2019), os períodos de aborrecimento podem levar a um aumento da criatividade. Quando a mente não está ocupada com tarefas específicas, permite-se divagar e explorar pensamentos e ideias novas, promovendo a inovação e a resolução criativa de problemas.

Estar aborrecido é uma ferramenta poderosa para o teu auto-conhecimento. Sem distrações constantes, és forçado a confrontar os teus pensamentos e emoções. Pode ser desconfortável, especialmente quando há problemas ou preocupações subjacentes que tens evitado. No entanto, enfrentar esses pensamentos e emoções pode levar a um maior entendimento do teu mundo interno e das tuas necessidades emocionais.

Estar aborrecido não é algo a temer, mas sim uma oportunidade para te (re)conectares contigo. Em vez de fugires do aborrecimento, acolhe-o como uma ferramenta valiosa para o crescimento pessoal. Podes descobrir que a tua criatividade floresce e que a tua capacidade de enfrentar desafios emocionais se fortalece, proporcionando-te uma vida mais equilibrada e satisfatória.