Felipe Neto, nascido a 21 de Janeiro de 1988, é, aos 32 anos, figura central no debate político brasileiro. A sua principal arma política é a influência através das redes sociais, contando, atualmente, com 39.7 milhões de seguidores no YouTube, 12.8 milhões no Instagram e 12.4 milhões no Twitter.
Apesar da popularidade, Neto, que emprega cerca de 300 pessoas em quatro empresas ligadas ao mundo digital, garante, à agência de notícias France-Press (AFP) numa entrevista concedida via email, não ter "nenhum interesse" em seguir uma carreira política.
Quem é Filipe Neto? Youtuber, empresário, influenciador…? Porque incomoda tanto o Governo?
Sou um criador de conteúdo e empresário do ramo do entretenimento. Crio vídeos para a família, gosto de divertir, fazer rir, ajudar a aliviar o dia stressante das pessoas. Contudo, no meu Twitter e na vida pessoal, sou um cidadão brasileiro como qualquer outro, manifestando o que penso a respeito das coisas que acontecem. O que incomoda os governantes é o facto de milhões de pessoas concordarem com a minha visão sobre o “bolsonarismo”, ainda mais por ser, justamente, no ambiente em que eles se acostumaram a dominar completamente, que é o digital.
Continua a pensar que Bolsonaro é o “pior Presidente do mundo” em tempos de pandemia, como se expressou numa coluna redigida para o New York Times? [Pode assistir ao vídeo aqui]
Ele é o pior Presidente do mundo nas ações relacionadas com a pandemia e em todas as ações voltadas para o meio ambiente. O “bolsonarismo” consegue ser mau em basicamente tudo. A economia do país vai de mal a pior (…), a nossa política internacional é inexistente, somos uma piada no mundo inteiro, a inflação está assustadora. O Brasil está afundado.
Quais foram as consequências de ter dado a sua opinião numa coluna do New York Times? Pensou em desistir?
Desistir significa calar-me, e isso não é uma alternativa (…). Tentaram de todas as formas associar o meu nome a crimes de pedofilia, ao comunismo, a extorsão de dinheiro. Porém, graças à nossa estratégia de comunicação e ao facto de ter uma base muito forte de seguidores, não conseguiram atingir o objetivo de destruir a minha reputação. Pelo contrário, só fizeram com que a minha imagem crescesse. Então, da noite para o dia, os ataques coordenados pararam.
Porque decidiu posicionar-se politicamente e quais foram as consequências dessa decisão?
Comecei muito jovem no YouTube e fui amadurecendo enquanto muitas pessoas me acompanhavam. Não é fácil amadurecer com muitas pessoas a olhar para tudo o que fazemos. Cometi muitos erros, ainda os cometo, mas tenho o compromisso de estudar e evoluir diariamente. Sempre falei de política, não houve um momento em que começasse a “falar mais”, o problema foi o cenário político do país ter mudado e muitas pessoas terem começado a ver o tamanho do buraco em que nos enfiámos.
Financeiramente foi altíssimo. Neste exato momento não tenho um único contrato de patrocínio a longo prazo. As empresas afastaram-se, as que tinham contrato acabaram por não renovar, mesmo com os meus números a bater todos os recordes de envolvimento e de retorno para as marcas. Foram milhões de reais em contratos perdidos. Além disso, tem também o custo de liberdade, pois tenho que ter um fortíssimo esquema de segurança para lidar com ameaças. Além do medo pelos meus familiares. Contudo, não me arrependo de nada, pois durmo tranquilo todas as noites, sabendo que dou tudo no combate ao fascismo.
Acredita que estes episódios podem ser combatidos com uma lei contra as “fake news” [notícias falsas]?
Não há qualquer possibilidade de chegar às quadrilhas de articulação do ódio através de mudanças na lei (…). A articulação do ódio não vai parar só porque criaram uma lei, que qualquer um consegue driblar usando um simples VPN para mascarar o IP. A solução para o atual problema na comunicação digital do Brasil só é possível através de dois fatores: projetos de educação em massa para instruir o povo brasileiro a usar a Internet de maneira segura e investimentos na Polícia Federal e nas técnicas de investigação.
Como recebeu a inclusão do seu nome na lista das 100 pessoas mais influentes de 2020 segundo a revista Time?
Foi uma enorme surpresa, pois não sabia sequer que o meu nome estaria a ser pensado (…). Apenas 12 brasileiros na História apareceram na lista TIME, sendo que é a primeira vez que alguém do entretenimento é citado. Foi uma honra enorme e serve para que dê ainda mais importância à responsabilidade que preciso de ter com esta influência.
Tem planos para entrar na política?
Não tenho hoje absolutamente nenhum interesse em disputar um cargo eletivo na política. (…) O mundo da política não me atrai, principalmente porque sinto que posso fazer muito mais do lado de fora, como através do terceiro setor, em ONG’s e institutos.
Por: Eugenia Logiuratto da agência France-Press (AFP)
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