Patente ao público até dia 31 de agosto, a mostra “A liberdade passou por aqui” estará patente na Torre da Oliva e reunirá nesse equipamento cultural do distrito de Aveiro várias fotografias já conhecidas sobre a revolução e ainda imagens inéditas, num total de 60 registos que, a partir dos negativos originais de 35 milímetros, foram digitalizados em ‘scanner’-tambor e depois sujeitos a impressões em PVC de 60 por 80 centímetros e de 90 por 120.

Recordando que, quando documentou a revolução, era apenas um jovem que sonhava fotografar como os membros da agência Magnum, Alfredo Cunha admite hoje alguma angústia quando pensa que teria realizado um trabalho muito diferente caso fosse então um profissional mais experiente, mas reconhece também uma nova satisfação perante o impacto dessas fotografias ao redescobri-las agora num formato de maior dimensão.

“Sempre que revejo estes negativos, sinto que gostaria de ‘viajar até lá’, regressar a 1974, fotografar tudo de novo e assim resolver uma angústia que me persegue ao longo destes anos. Mas a vida é assim mesmo e estas fotografias são o trabalho possível de um miúdo de 20 anos, numa seleção com algumas novidades e até algumas surpresas para mim mesmo”, explica o fotógrafo.

O que ressalta do novo olhar de Alfredo Cunha sobre essa recolha é o seu impacto emocional e histórico: “Parece que o tempo não passou. Foi um privilégio fotografar uma revolução precisamente aos 20 anos e é sempre bom fazer a revisitação do 25 de Abril e mostrar como fomos felizes naquele dia”.

A ideia de recuperar parte desse arquivo e afirmá-lo num suporte “visualmente mais forte” foi do fotógrafo Aníbal Lemos, diretor do Centro de Arte de São João da Madeira e docente na IADE – Faculdade de Design, Tecnologia e Comunicação da Universidade Europeia.

“Decidimos lançar um ciclo de exposições sobre fotografia de reportagem e quisemos começar com o Alfredo Cunha, mas de uma forma diferente, porque nunca vimos estas imagens numa escala assim e o facto é que, em tamanho maior, elas se tornam mais poderosas e emotivas – impõem mais o conteúdo”, declara à Lusa.

O presente leque de registos sobre os acontecimentos de 1974 em Lisboa foi selecionado entre “umas 600 fotografias, o que representava um custo enorme naquele tempo, quando ainda era tudo analógico e revelado em papel”, e, mais do que novos detalhes sobre factos históricos, introduz uma reflexão “sobre a juventude”, de espírito e profissional.

“Mesmo sem os conhecimentos ou os recursos de hoje, o Alfredo soube colocar-se do lado certo do que poderia ter sido só uma revolta militar, se o povo não tivesse transformado tudo aquilo numa revolução. Ele ainda estava no início da sua carreira jornalística, mas foi percebendo o que podia sair dali: pôs-se a deambular pela cidade, acompanhou as sensações daquela gente toda e fê-lo com um tal ‘amadorismo’, com tal ‘inocência’, que isso confere pureza àquela abordagem”, defende Aníbal Lemos.

A exposição “A liberdade passou por aqui” pode ser visitada em qualquer dia da semana, sempre com entrada livre. Nos dias úteis a mostra está disponível no período das 10:00 às 12:00 e das 14:00 às 17:00, e ao fim de semana das 10:00 às 13:00, enquanto o Governo não levantar as restrições de atividade e mobilidade relativas à pandemia de covid-19.

É precisamente devido a esse contexto de contenção que Alfredo Cunha afirma: “Nestes tempos difíceis de pandemia ainda mais agradeço o esforço e o interesse de São João da Madeira pela nossa memória e pelo 25 de Abril libertado”.

Em complemento da mostra, a Torre da Oliva terá à venda uma edição especial do livro “Leica Years”, que se distingue por cada exemplar incluir uma de 30 cópias numeradas do icónico retrato que Alfredo Cunha fez do capitão Salgueiro Maia (1944-1992).

Por ter participado nessas operações enquanto oficial sob o comando de Salgueiro Maia, também o fotógrafo, docente e investigador Augusto Lemos estará presente domingo na inauguração da mostra, para ai deixar um testemunho sobre a sua experiência pessoal na chamada Revolução dos Cravos.