Contactadas pela agência Lusa, três das 15 galerias portuguesas, que estiveram presentes nesta 37.ª edição, consideram que continua a ser importante a participação no certame que, este ano, em vez de ter um país convidado, teve o futuro como tema.

"Nota-se a falta dos colecionadores brasileiros e norte-americanos, mas a feira, globalmente, correu bem. Mesmo existindo a ARCOlisboa, esta feira é muito importante para as galerias portuguesas", comentou José Mário Brandão, da Galeria Graça Brandão, contactado pela agência Lusa.

Para o galerista, na ARCOmadrid, "há um público que compra, mas, além desse, há muitos visitantes que vão ver, porque apreciam arte contemporânea e isso é muito positivo".

Quanto à polémica surgida logo na abertura da feira, quando a organização decidiu retirar a série de 24 fotografias de detidos em Espanha, criada por Santiago Sierra, o galerista português fala em "intolerância crescente em todo o mundo".

"O trabalho era medíocre, mas tiro o chapéu ao artista, porque a provocação é importante para suscitar a reflexão", opinou.

A obra de Sierra, intitulada “Presos Políticos na Espanha Contemporânea”, reunia fotografias, com pixeis aumentados, de 24 “detidos conhecidos”, como o ex-vice-presidente do Governo catalão, o independentista Oriol Junqueras, jovens acusados de agredir dois guardas civis, em Alsasua, Navarra, e ativistas do movimento de cidadãos 15M, que realizou uma manifestação em várias cidades espanholas, em 15 de maio de 2011.

Para José Mário Brandão, que já participou em trinta edições deste certame, desde 1985, "o ato de censura foi uma estupidez, mas não afetou a feira".

Francisco Fino foi uma das três galerias portuguesas convidadas para participar no programa Opening, comissariado por Stefanie Hessler e Ilaria Gianni, centrado em galerias com um máximo de sete anos.

Criada em maio do ano passado, a jovem galeria considera "de grande importância estar presente numa feira ibérica com muitos curadores, instituições e colecionadores", que este ano recebeu cerca de 200 galerias de 29 países.

"Apresentámos um 'stand' com uma instalação de obras de Diogo Evangelista, e duas das três peças foram vendidas, além de termos realizado vários contactos com colecionadores para futuras vendas. As feiras são sempre um processo", salientou Francisco Fino, em declarações à Lusa.

Sobre a controvérsia, rejeitou que tivesse afetado as vendas, mas considera que esse impacto poderá ter acontecido no mercado espanhol de galerias.

"Foi mesmo um ato de censura e isto não pode acontecer em pleno século XXI", declarou.

Também para a galerista Cristina Guerra, presente no Programa Geral da ARCOmadrid, o certame tem um balanço positivo: "Correu bem, vendi bem e fiz bons contactos", disse à Lusa.

Relativamente à polémica, considerou que a maior parte das galerias "não ligou muito ao caso", sobre o qual a organização acabou por pedir desculpas, três dias depois, pela retirada de “Presos Políticos na Espanha Contemporânea”.

"Foi um incidente, que espero que não se repita. Não deviam ter proibido a presença das obras. Sou a favor da liberdade de expressão, e as peças devem ser mostradas porque a realidade é esta", justificou.

Também na opinião das galerias ouvidas pela publicação The Art Newspaper, as vendas não foram tocadas pela controvérsia da censura, que aconteceu na última quarta-feira.

Na edição 'online', a publicação internacional dedicada à arte contemporânea refere que o acontecimento suscitou debates sobre as ligações à política e sociedade, mas, afinal, não afetou o decorrer normal do certame.

A obra mais cara vendida no certame foi um Picasso, por 2,5 milhões de euros, pela Galeria Leandro Navarro, e uma obra do artista venezuelano Jesús Rafael Soto foi vendida por 800 mil euros, pela Leon Tovar Gallery, de Nova Iorque.

A galeria estreante König, com base em Berlim e Londres, deu conta - também à The Art Newspaper - da venda uma obra de Jeppe Hein "You make me wonder"(2016), por 40 mil euros. Uma escultura da artista Alicja Kwade foi vendida por 150 mil.