“A detalhada e profunda investigação de Gonçalo Couceiro revela pela primeira vez a atividade [de Manuel Teixeira Gomes] de agente da Companhia de Seguros Fidelidade em Portimão”, escreve no prefácio a jornalista Helena Garrido, destacando que a investigação permite “compreender melhor a sua atividade e experiência de empresário exportador”.

No livro “Manuel Teixeira Gomes – A Arte de Negociar”, Couceiro relata o último negócio fechado em território nacional, quando viajava no cargueiro Zeus a caminho da Argélia onde residiu exilado, em Bougie, atual Béjaïa, até morrer.

O navio atracou no porto de Setúbal, cidade onde se jogou uma partida de futebol entre o Vitória local e o Portimonense, e onde Teixeira Gomes recebeu o seu amigo de infância António do Alvo que, tratando-o por 'Manelinho', lhe propôs um negócio, de imediato fechado.

“Pela primeira vez, encontrámos documentos que bem atestam o modo de agir de um empresário moderno, muito atento à prevenção de risco e à montagem das operações comerciais e logísticas, em terra ou no mar, que envolviam a sua atividade”, salienta Gonçalo Couceiro.

Até 1904, em nome do pai, José Libânio Gomes, Manuel Teixeira Gomes garantia o expediente, contabilidade e atividade seguradora da então Vila Nova de Portimão, mas “o próprio Teixeira Gomes foi também, por alguns meses, o agente da Companhia de Seguros Fidelidade”, realça Couceiro referindo que este facto é “ignorado e omisso nas suas biografias”.

Manuel Teixeira Gomes foi negociante e exportador de frutos secos, em particular para o norte da Europa.

Quando o escritor se viu obrigado a deixar os negócios, redigiu uma carta ao irmão José. Nesse documento, Manuel Teixeira Gomes revela-se “um homem prático, um gestor que [...] domina a escrituração contabilística e financeira e estabelece um ‘manual’ para uso interno”.

Realça ainda Gonçalo Couceiro, que os papéis de Teixeira Gomes em Portimão, como o escritor disse ao jornalista Norberto Lopes, autor de "O Exilado de Bougie", foram queimados, por ordem sua.

“De 1911 para trás, isto é, antes da minha partida para Londres [onde foi embaixador de Portugal], não tenho passado. E olhe não me arrependo de ter mandado queimar essa papelada velha”, disse a Norberto Lopes, cita Couceiro.

Os documentos sobre a sua atividade como agente de seguros estão todavia preservados no arquivo da respetiva companhia, e merecerá um tratamento futuro, “até estatístico/comercial”, mais detalhado, alvitra Gonçalo Couceiro que considera não ter sido dado “justificado relevo à sua atividade comercial” em obras sobre o autor de “Agosto Azul” e "Sabina Freire".

Para o autor esta omissão deve-se por se considerar a faceta comercial pouco relevante, “em vista da espantosa produção literária ou do desempenho notável que teve na vida pública”.

Foi a sua atividade comercial, com sede em Portimão e um escritório em Antuérpia - recorda o investigador -, que “lhe deu independência económica, liberdade pessoal e lhe possibilitou ser colecionador que reuniu perto de um milhar de obras de arte que hoje se encontram nos museus portugueses”.

Gonçalo Couceiro afirma-se “convicto” de que foi a sua condição de homem de negócios que “lhe permitiu uma vida ‘romanesca’, livre e criadora”.

A obra publica alguma documentação, nomeadamente na área de seguros e alguma correspondência o que permite uma aproximação "à forma como eram feitos os negócios da sua casa comercial e sobretudo na transição operada" após a morte do pai do escritor, em 1905.

Gonçalo Couceiro foi diretor do antigo Instituto de Gestão do Património Arquitetónico e Arqueológico (Igespar), de 2009 e 2011 e, entre outras obras, é autor de “A Igreja de São Paulo de Macau”, “Artes e Revolução” e “Elementos para a História Da Fábrica de Faianças e Azulejos Sant’Anna, desde 1741”.