“O dia em que perdemos a cabeça”, publicado este mês em Portugal pela Suma de Letras, chancela do grupo editorial Penguin Random House, foi lançado em Espanha, em 2017, primeiro na Amazon, onde se tornou um fenómeno de vendas, e depois em papel.

Na versão de livro impresso, conseguiu, em ano e meio, alcançar as 26 edições, vender mais de 350 mil exemplares, estar dez semanas no top e fechar um acordo para ser adaptado à televisão, contou à Lusa o autor, de passagem por Portugal para lançar o livro.

Este consultor financeiro, revelou como aquilo que começou por ser um ‘hobby’ se transformou numa “surpresa” que lhe alterou completamente a vida, permitindo-lhe deixar o emprego e dedicar-se exclusivamente à escrita.

“Foi muito surpreendente, porque eu escrevia contos quando era muito jovem, mas a vida levou-me a estudar finanças, e dediquei-me durante muito tempo a essa área, e escrever era o meu ‘hobby’. Um dia decidi escrever um romance [‘thriller’] e escrevi-o nos únicos momentos que tinha vagos: nas viagens de comboio para o trabalho”, contou o escritor.

Quando terminou, imprimiu quatro exemplares e enviou-os a editoras, uma das quais lhe disse que demoraria um ano a dar-lhe uma resposta.

Javier Castillo não quis esperar, submeteu-o à Amazon e, nos primeiros tempos, esqueceu-se do assunto, retomando a sua vida normal.

“Duas semanas depois fui ver se alguém tinha opinado ou comprado o romance e de repente dou-me conta de que era o número um na Amazon em Espanha. Nesse momento já tinha no 'email' ofertas de todas as editoras”.

Depois de publicado em papel, foi “ainda mais surpreendente: semana após semana era número um de vendas em Espanha, sem ninguém me conhecer, sem eu ser ninguém”, disse o autor.

“Inicialmente, o meu editor achou que o livro era interessante, mas que não se ia vender muito, o normal. Mas no primeiro dia chamou-me e disse que no primeiro dia se esgotou a primeira edição, em três dias a segunda, numa semana tinha quatro edições”.

A princípio Javier Castillo diz que não deu grande importância ao fenómeno, mas quando já vendera mais de 150 mil exemplares, decidiu “apostar” na escrita e dedicar-se a ela “a cem por cento”, porque essa era a sua paixão.

Este ‘thriller’ é narrado a três tempos e começa no centro de Boston, a 24 de dezembro, com um homem que caminha nu, trazendo nas mãos a cabeça decapitada de uma jovem mulher.

O diretor do centro psiquiátrico da cidade e uma agente do FBI dão início a uma investigação que colocará em risco as suas vidas e a sua conceção de sanidade.

Javier Castillo confessa que este é o estilo literário que mais gosta e no qual se sente mais à vontade, não manifestando muito interesse em aventurar-se por outros géneros que não os do suspense, sejam eles mais “trepidantes” ou “psicológicos”.

“O que eu aspiro a fazer é escrever livros que entusiasmem, que prendam, como eu gosto de ler também. Se um livro é chato as pessoas acabam por abandoná-los, porque é uma pena, com tantos livros que há, perder tempo com livros que não nos prendem. Em Espanha 80% dos livros comprados não são lidos até ao fim”, afirmou.

Por isso, partiu para a escrita consciente de que “tinha de escrever uma história impossível de não terminar, que fosse sempre uma surpresa, que se lesse entre paragens de metro, ou pela noite adentro”.

A ideia para esta história partiu da imagem inicial – do homem nu com a cabeça decapitada nas mãos -, que por sua vez lhe apareceu em sonho.

“Sonho coisas estranhas e aponto-as todas, tenho um caderninho de sonhos, e é divertido lê-las. Essa imagem pareceu-me muito boa para montar uma história, para lançar perguntas como ‘quem é este homem?’, ‘assassinou a mulher?’".

Sobre o processo de escrita, diz que demora cerca de três meses a planificar tudo, criando personagens, construindo a trama, encadeando os capítulos, esquematizando tudo num papel, e depois passa para o processo de escrita, com as alterações que vão surgindo, o que lhe demora à volta de nove meses.

Javier Castillo já publicou em Espanha o segundo volume desta história – “O dia em que perdemos o amor” – que se tornou outro sucesso de vendas - e prepara-se para publicar, dentro de cerca de duas semanas um novo livro, de suspense psicológico: "Tudo o que aocnteceu com Miranda Huff".