A escolha da artista Paula Rego, que reside em Londres, foi anunciada pelo filho, o realizador Nick Willing, numa sessão que decorreu na Casa das Histórias Paula Rego, em Cascais.
Ao prémio, no valor de mil euros, apresentaram-se 85 candidatos com obras a concurso, e as 37 escolhidas por Paula Rego numa primeira seleção, estão expostas na Casa das Histórias até 08 de janeiro de 2018.
Paula Rego escolheu a obra “Comeste? Sim, Mãe”, a qual descreve – numa mensagem enviada pelo filho – como “um quadro bastante sinistro”.
“Há qualquer coisa que vai acontecer. O quadro é desconfortável, o que é interessante, mas um pouco assustador”, aponta, sobre o desenho, que ficará a fazer parte da coleção pessoal da pintora.
“A composição está fora do centro, o que é desconfortante e misterioso. A mulher parece que está toda magoada. É bastante confuso – não se entende o que está no chão; parece uma cabeça. Talvez esteja a ir-se embora, porque parece que está a fazer a mala… Será uma perna de galinha que ela tem na mão?”, acrescenta Paula Rego sobre o trabalho que escolheu para vencedor.
Nesta segunda edição, a pintora destacou mais cinco obras de que “gostou muito”, segundo Nick Willing: “A aula de natação”, de Maria Inês Alves, “Mrs May’s dream”, de Mariana Tilly, “Gira-sol”, de Beatriz Fernandes, “Já estive aí”, de Catalina Sandulescu, e “O Caçador”, de Sara Tristão.
Paula Rego considera a peça de Maria Inês Alves “muito bem desenhada, com grande simplicidade, com as várias posições que as crianças têm antes de se deitar à água”. “Algumas vão dar um mergulho, outras só escorregam para dentro d’água. Consegue dizer muito com poucas linhas. Bela composição, direta e simples”.
Sobre “Mrs May’s dream”, da estudante Mariana Tilly, Paula Rego diz: “A rapariga está bastante sossegada no meio dum ambiente tenebroso. Não parece estar assustada, e está a abraçar a almofada para se confortar. Ela não dá pelo terror que a rodeia. É um quadro ameaçador. Eu gosto muito”.
Em “Gira-sol”, de Beatriz Fernandes, aponta: “É um lindo desenho de uma menina a olhar para nós. Não está muito feliz. Mais uma vez, parece que qualquer coisa vai acontecer. Está a olhar para nós. É corajosa. Deve-nos conhecer”.
“Já estive aí”, de Catalina Sandulescu, é outro favorito da pintora, que o descreve assim: “Talvez alguém a tenha posto sobre a mesa. É possível que ela esteja a gritar. O quarto parece húmido e abandonado. Parece um escritório ou um consultório. Mas uma mesa? Porquê uma mesa? É muito misterioso. Só a pessoa que fez este quadro sabe o que e de que se trata. É realmente muito interessante. É audacioso – pôr uma coisa assim no meio do quarto. Não tem nostalgia nenhuma. Está qualquer coisa a acontecer neste momento. E porque é que está gesticulando para cima? Isso é ambíguo. A figura está toda mole. Talvez não se vá levantar. Não quero que ela esteja morta. Uma muito boa e corajosa composição”.
Quanto a “O Caçador”, de Sara Tristão, Paula Rego avisa: “Isto tem humor, mas também perigo… Mas ele também podia ser a vítima. Quem sabe? Tem uma boca ‘sexy’. Ai cuidado!”
Este desafio do prémio foi lançado pela artista plástica portuguesa, radicada em Londres, aos jovens alunos de Belas-Artes, para os incentivar a criar um desenho que conte uma história.
“Eu acho que o desenho — a ligação que se faz no cérebro ao segurar o lápis, olhar e desenhar alguma coisa — não é a mesma que se faz ao usar um computador: é muito física e faz descobrir coisas que nunca pensámos serem assim”, considera Paula Rego, citada num comunicado da FBAUL sobre o galardão.
A estudante Margarida Salvador foi a vencedora da primeira edição, no ano passado.
De acordo com a curadora Catarina Alfaro, da Casa das Histórias Paula Rego, um dos acontecimentos mais marcantes da vida de Paula Rego foi, segundo a artista, o prémio que lhe foi atribuído na competição anual “Summer Composition”, enquanto ainda estudante da Slade School of Fine Art, em Londres, em 1954.
“Paula Rego afirma hoje que este prémio lhe deu a confiança necessária para continuar a pintar num contexto que não lhe era favorável, por ser mulher e por não ser britânica. Foi ao recordar o seu impacto que decidiu instituir, no museu dedicado à sua obra, o Prémio Paula Rego”, recorda, sobre a criação do galardão.
Para a concretização do Prémio Paula Rego 2017 voltaram a reunir-se a FBAUL, a Casa das Histórias Paula Rego (CHPR) e a Fundação D. Luís I (FDLI), com o apoio da Câmara Municipal de Cascais (CMC) e a colaboração de Nick Willing, realizador do documentário “Paula Rego: Histórias & Segredos”, estreado este ano.
Podem concorrer a este prémio todos os alunos inscritos nos cursos do 1.º e 2.º ciclos da FBAUL, com matrícula válida à data da candidatura.
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