“Não passa uma semana sem que eu receba três, quatro ou cinco cartas de fãs e pedidos de autógrafos, é constante”, disse Joe Alves, em entrevista à Lusa. “Vêm de todo o mundo”, acrescentou. “É interessante, não sei porquê mas parece ser o filme preferido de muita gente”.
Esse culto ficou patente este fim de semana no Museu da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, em Los Angeles, numa sessão esgotada onde o lendário artista luso-americano contou a história original de “Tubarão” e autografou o livro que escreveu com Dennis Prince, “Designing Jaws” (Desenhando ‘Tubarão’).
O trabalho que fez entre 1973 e 1975, ano em que o filme estreou, mal lhe permitiria ter antecipado o sucesso que continuaria a ter cinquenta anos depois.
“Quando terminámos o filme não éramos heróis, tínhamos ultrapassado o orçamento e a data limite”, contou. “Os tubarões originais foram atirados para um canto e apodreceram”.
As histórias mirabolantes dessa altura, em que o sistema dos estúdios estava em ebulição em Hollywood e Steven Spielberg era ainda um jovem, fascinaram a audiência que esteve no Museu da Academia. Alves, agora com 87 anos, mostrou-se entusiasmado por partilhar o momento e as memórias com os fãs.
“Desenhei o tubarão e o Steven Spielberg ainda nem sequer estava no filme”, recordou.
Disse também que nunca tinha sido contactado por jornalistas portugueses, e nunca sequer lhe tinham perguntado pela sua herança étnica.
Joseph Manuel Alves nasceu na Califórnia filho de dois emigrantes portugueses, que saíram do nordeste de Portugal primeiro em direção ao Havai e depois para a baía de São Francisco. Foi lá que casaram, numa zona onde muitos outros emigrantes portugueses se fixaram durante décadas.
“Sempre tive muita consciência da minha herança portuguesa”, disse Joe Alves, explicando que aprendeu a falar algum português enquanto crescia sobretudo por causa dos avós, que nunca falaram inglês.
“Os meus pais foram muito cautelosos para que eu falasse inglês”, afirmou. “Nunca falaram português em casa, só quando íamos visitar familiares”. Mas tinham uma igreja católica a menos de dois quarteirões e Joe Alves lembra-se das festas e das procissões da comunidade.
Há cinco anos, o artista visitou Portugal e foi à procura da casa onde o seu pai nasceu, um edifício de granito com um portão verde que se diz ter centenas de anos.
“Tinha uma fotografia antiga da casa, numa aldeia no nordeste de Portugal”, contou. Deambulou pela aldeia em busca da casa e acabou por encontrá-la, na companhia da sua mulher e de um casal amigo.
Foi aí que se deu a experiência que deixou Joe Alves encantado: encontraram uma mulher que os convidou a entrar, comunicando através do tradutor do telemóvel.
“Ela convidou-nos a almoçar e depois levou-nos até ao apartamento onde estava uma senhora vestida de negro, numa cadeira de baloiço, com um gato branco no colo”. A senhora, de 101 anos, era a prima do pai de Joe Alves, encontrada muitos anos depois de aquele ter deixado a aldeia para trás.
A prima do pai Alves, nascido em 1904, ofereceu-lhes um cálice de vinho do Porto e um vislumbre de laços de sangue que nunca teriam sonhado.
“Não é incrível”, questionou. “Tive a oportunidade de conhecer familiares”. Alves caracterizou a viagem como “muito agradável”, elogiando o país e as suas gentes. “As pessoas são muito simpáticas, a comida é excelente”, afirmou o artista. “Portugal foi uma experiência maravilhosa”.
“Tubarão” foi um filme pioneiro, que inaugurou as estreias de grandes filmes no verão e criou um novo género. Alves viria a trabalhar também em “Tubarão 2” (1978) e a realizar “Tubarão 3D” (1983). Da sua longa lista de créditos consta ainda “Encontros Imediatos do Terceiro Grau (1977) e “Nova Iorque, 1997” (1981).
* Por Ana Rita Guerra, da agência Lusa
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