"Maestro" é um retrato de várias coisas: música, família, energia, excentricidade, intimidade. Mas é sobretudo um retrato de amor. Neste caso, daquele partilhado entre Leonard Bernstein, o primeiro grande compositor norte-americano, e a mulher, a atriz e ativista Felicia Montealegre Bernstein, que sempre o acompanhou. No entanto, é também como Leonard vivia entre esse amor incondicional e os casos extraconjugais que ia tendo com outros homens.
A pegar na história desta figura icónica da cultura americana está um Bradley Cooper em modo cineasta: Cooper realiza, produz, escreve (a meias com Josh Singer, o guionista de "Spotlight") e dá vida ao energético e prodigioso homem da batuta que tanto compunha música clássica como ligeira. Ao Tudum, Cooper revelou que em "Assim Nasce uma Estrela", a "arma nuclear foi sempre a voz da Lady Gaga". Mas em "Maestro", o seu segundo filme como realizador, achou que era a sua vez de "agitar as águas", uma que vez estava na posse de "uma arma nuclear": a música de Leonard Bernstein.
Leonard Bernstein foi mais do que um dos primeiros maestros nascidos nos Estados Unidos a ter fama planetária e a conduzir orquestras de classe mundial. Era uma figura maior do que a própria vida e um homem com uma enorme versatilidade: era pianista, compositor ("West Side Story" viverá para sempre), autor, em Harvard foi aluno e professor ao mesmo tempo, foi pai, marido, amante (de muitos), lutador de causas, radialista e personalidade de televisão (o seu programa musical "Concerto Para Jovens" era um fenómeno cultural porque descodificava o hermetismo que acompanha a música dita séria). Bernstein foi tudo isto. Mas como revelam as suas cartas, por detrás do brilhantismo, estava alguém igualmente muito complexo.
A transformar o solo de Bradley Cooper num dueto está a britânica Carey Mulligan — que, mesmo contando com duas nomeações para os Óscares, confessou recentemente sentir que nunca foi "realmente uma atriz" até fazer este filme, no qual "deu tudo" e mergulhou por completo no papel de Felicia Montealegre. Nascida na Costa Rica e criada no Chile, Montealegre era uma atriz em ascensão na Broadway e televisão quando em 1946 foi a uma festa e conheceu o ambicioso maestro e compositor.
Nas décadas seguintes, Bernstein e Montealegre formaram um poderoso casal da sociedade americana e criaram três filhos juntos durante o seu casamento que durou 26 anos — apesar de a sua relação ser tudo menos simples e dos muitos desafios e dificuldades porque passou. Bernstein teve casos com vários homens e não era subtil quanto a isso.
No entanto, segundo a revista Time, não obstante ter sacrificado a própria carreira para ser a âncora da sua família, Montealegre não se arrepende de ter casado com Bernstein e ficou a seu lado até à sua morte em 1978, aos 56 anos. Assim como sempre soube e aceitou a natureza sexual do marido ("Vamos relaxar sabendo que nenhum de nós é perfeito e esquecer a ideia de sermos MARIDO E MULHER em letras maiúsculas, não é assim tão horrível!", diria Montealegre a Bernstein numa carta). E tal como é demonstrado no filme e revelado pela filha mais velha do casal numa entrevista à PBS em 1997, apesar de toda atribulação da relação ao longo dos anos, a amizade e amor partilhado por ambos não podiam ser mais genuínos.
Quanto à opinião do painel do Acho Que Vais Gostar Disto em relação ao filme, há o consenso de que estamos perante um dos melhores do ano. Assim como deixam rasgados elogios às performances de Bradley Cooper e Carey Mulligan — e a crença é a de que ambos estarão nomeados nas respetivas categorias na próxima edição dos Óscares. Se vão ganhar, a conversa já é outra, mas consideram ser difícil os seus nomes não fazerem parte do lote final. Relativamente à questão se Bradley Cooper vai brilhar também na categoria de realização, não conseguem responder. Porém, e ainda que a amostra seja pequena - Cooper realizou apenas dois filmes -, já conseguem ver um paralelismo com a carreira de Clint Eastwood.
- "Maestro" já estreou nas salas nacionais e ficará disponível a partir do dia 20 de dezembro na Netflix.
- Na rubrica Créditos Finais, recordamos a série "Band Of Brothers" (HBO Max) e falamos sobre o disco "Afro Fado" de Slow J e dos 40 anos de "Scarface".
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