A nova requalificação do Mosteiro de Santa Clara-a-Velha deverá ter início em 2024, prevendo a requalificação do centro interpretativo, intervenção na igreja com um sistema de proteção contra pássaros e nova sinalética e construção de equipamentos de apoio.
Dependendo da execução dos trabalhos, "o acesso ao espaço museológico poderá ser condicionado" durante a próxima intervenção, conforme plano de segurança da obra, que não prevê o encerramento ao visitante.
Essa requalificação que vai começar em 2024, sucede à intervenção concluída esta semana, no valor de 641 mil euros, destinada a reforçar a proteção deste monumento nacional face às cheias do rio Mondego, ocorridas em 2016.
“As intervenções tiveram como fundamental objetivo atender às consequências das cheias de 2016 e melhorar a capacidade de resposta face a novos episódios” de subida das águas do Mondego, respondeu ao SAPO24, a Chefe de Divisão de Comunicação Difusão e Promoção Cultural da Região Centro, Manuela Fonseca.
“Foram realizados trabalhos de conservação e restauro ao nível dos materiais pétreos, cerâmicos, azulejares e em rebocos, no conjunto monumental – igreja e claustro”, disse Manuela Fonseca em resposta às questões enviadas pelo SAPO24, via e-mail.
Na cerimónia de reabertura do Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, que decorreu na segunda-feira, a diretora regional de Cultura do Centro, Suzana Menezes, aludiu “à longa jornada”, plena de “desafios e atribulações”, que foi necessário levar a cabo para chegar “à recuperação deste icónico monumento nacional”.
“Os trabalhos de requalificação iniciaram em 2020 porque foi necessário fazer o levantamento das patologias, preparar os necessários projetos de suporte à intervenção e, também, procurar financiamento para os realizar, o que veio a ser assegurado no âmbito do Programa Operacional CENTRO 2020, com candidatura submetida pela DRCC em 2018. Após um primeiro concurso público para realização da empreitada ter ficado «deserto» em 2019, foi necessário prever uma verba mais elevada e voltar a repetir o procedimento”, afirmou Manuela Fonseca.
O Mosteiro de Santa Clara-a-Velha foi fundado no século XIII, em 13 de abril de 1283, por Dona Mor Dias, dama da nobreza. Em 1314, é refundado por Isabel de Aragão que pediu para ali ser sepultada. A sua proximidade ao Mondego permitia o acesso a água doce, contudo, estar perto do rio marcou a história do Mosteiro até aos dias de hoje por causa das cheias cíclicas do Mondego que tornaram a vida das freiras que ali habitavam difícil, levando ao abandono definitivo em 1677, altura que se mudaram para o novo convento, alguns quilómetros acima, no Monte da Esperança, onde está atualmente o Mosteiro de Santa Clara-a-Nova.
Na requalificação agora concluída, procedeu-se à “reparação das bombas e limpeza dos 4 furos existentes”, pode ler-se no e-mail enviado por Manuela Fonseca, que servirá “como prevenção de futuras cheias”, espera-se.
“Avançou-se com a reparação e reconstrução dos muros que contribui para o controlo da entrada de águas em caso de enchente e transbordo do leito do rio”, diz no texto enviado pela responsável do Museu.
As ruínas de Santa Clara-a-Velha de Coimbra compreendem, para além da igreja, um claustro com dimensões monumentais, que o tornam no maior claustro gótico conhecido em Portugal, e um centro interpretativo.
Será feita, “na ruína, uma intervenção de conservação, criar condições para que os pássaros não entrem e para refazermos toda a sinalética de enquadramento e pensamento informativo”, explicou à Lusa, a Diretora Regional de Cultura do Centro.
A intervenção, de acordo com Suzana Menezes, que está a ser projetada por uma equipa multidisciplinar, terá, como dono de obra, o município de Coimbra e será financiada com verbas do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).
Passa pela requalificação do centro interpretativo inaugurado em 2009 - quando o espaço ocupado pelo mosteiro localizado na zona de Santa Clara abriu ao público –, intervenção na igreja com um sistema de proteção contra pássaros e nova sinalética e construção de equipamentos de apoio.
“Na próxima requalificação os trabalhos irão incidir na correção de diversos problemas existentes no centro interpretativo (infiltrações, reparação e melhoramento do sistema AVAC, rede elétrica e rede de incêndios) e na reformulação do projeto museográfico, entre outros trabalhos”, completou Manuela Fonseca.
O novo investimento com verbas do PRR deverá, assim, resolver um problema que se mantém em Santa Clara-a-Velha desde 2009: a constante presença de pombos no interior da igreja, que ali depositam excrementos, situação que tarda em ser resolvida.
“Na ruína, o sistema de controlo de aves será melhorado e ampliado e será feita a revisão da cobertura da igreja. Também o espaço exterior será alvo de intervenções estando prevista a reparação de estruturas e a revisão do sistema de iluminação, a reparação e atualização da sinalética, entre outros trabalhos”, completou a Chefe de Divisão.
“A intervenção também contempla a construção de um novo espaço de reserva arqueológica que possa albergar, em condições adequadas, o extenso espólio arqueológico à guarda da DRCC, proveniente não só do próprio Mosteiro, como de outras intervenções ocorridas na zona Centro”.
De acordo com a secretária de Estado da Cultura, no âmbito do PRR, a região centro contará com um investimento inicial de 13 milhões de euros, que no futuro poderá ter um valor adicional de 7,7 milhões de euros, disse a governante citada pela Lusa.
Ainda no âmbito dos investimentos PRR “será instalado WIFI em toda a área do Mosteiro (centro interpretativo e ruína) e será produzida uma visita virtual”, completou Manuela Fonseca.
Sobre o Museu, o que é que o visitante pode encontrar?
“O Mosteiro de Santa Clara-a-Velha é um sítio arqueológico que dispõe de um centro interpretativo. O centro interpretativo não reabriu uma vez que nunca esteve fechado”, esclarece Manuela Fonseca.
“Apenas a ruína arqueológica fechou ao público quando as obras iniciaram em 2020. Em 2016, o Mosteiro (ruína arqueológica) esteve fechado após as cheias, mas apenas enquanto duraram os trabalhos de limpeza. Mesmo nesse período o Centro Interpretativo manteve-se em funcionamento”, explica.
No centro interpretativo o visitante pode encontrar a exposição permanente Freiras e Donas de Santa Clara: Arqueologia da Clausura. “Esta exposição apresenta parte do espólio recuperado no âmbito das escavações arqueológicas efetuadas no Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, de 1995 a 2000. Está organizada em sete áreas temáticas: Fundação, Devoção, Comunidade, Afazeres, Administração, Alimentação, Corpo e Morte”, descreve.
A exposição mostra diversos testemunhos materiais da vivência quotidiana no Mosteiro, no período compreendido entre os séculos XIV e XVII.
“Além da exposição permanente, o espaço dispõe de uma sala para exposições temporárias. No auditório pode ser visualizado um pequeno filme com a duração de 15 minutos que contextualiza o passado histórico do Monumento, desde a sua fundação ao abandono das instalações em 1677”.
A visualização do vídeo é fundamental para quem visita, “uma vez que a contextualização da ruína será mais evidente”, explica Manuela Fonseca. “Após o vídeo o visitante poderá optar por ver a exposição permanente “Freiras e Donas de Santa Clara: Arqueologia da Clausura” ou seguir imediatamente para a ruína arqueológica, regressando depois ao centro interpretativo onde poderá concluir a visita (a entrada e saída é sempre efetuada pelo centro interpretativo)”, recomenda.
O Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, classificado como monumento nacional desde 1910, poderá agora ser visitado de terça a domingo, entre as 10:00 e as 18:00, tendo o bilhete geral um custo de 4 euros.
*com Lusa
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