É o primeiro passo do projeto “Memória Educativa Virtual: Digitalização e preservação do acervo do Museu Escolar de Marrazes”, hoje apresentado, que prevê uma parceria sem termo entre as duas entidades.
Criado em 1992 por duas professoras do 1.º ciclo e desde 2001 integrado na Rede Portuguesa de Museus, o Museu Escolar de Marrazes (MEM) tem um espólio que, calcula-se, supera as 60 mil peças, entre livros (do século XIX à atualidade), documentos, mobiliário, brinquedos e equipamentos como palmatórias, batas, microscópios e até orelhas de burro.
O projeto arranca no ano letivo 2024/25 e, através do envolvimento dos alunos da Escola Superior de Educação e Ciências Sociais (ESECS) do Politécnico de Leiria que frequentam a licenciatura de Educação Básica, visa a digitalização de materiais impressos, como livros, documentos ou jornais que compõem o acervo do MEM, para divulgação ‘online’.
“Individualmente é mais difícil chegarmos a públicos diversos. Todas as parcerias que o MEM tem e venha a ter, é uma grande família que está a construir em torno de um grande projeto: a educação do país. É uma oportunidade de fazer diferente e de divulgar o que achamos que é mesmo importante”, afirmou à agência Lusa o presidente da União das Freguesias de Marrazes e Barosa, responsável pela gestão do MEM.
Para Paulo Clemente, o protocolo com a ESECS para preservar o acervo do museu vai, já durante o próximo ano, trabalhar “uma coleção muito importante”.
“Já tínhamos alguns livros e recebemos agora mais”, disse o autarca sobre a Coleção Educativa, reforçada recentemente com uma doação da Direção-Geral dos Estabelecimentos Escolares (DGEstE) do Centro.
Para o diretor da ESECS, Pedro Morouço, o trabalho feito pelo MEM “é extraordinário e fundamental”.
“A ESECS fica muito grata por poder contribuir para disseminar tudo o que aqui está”, afirmou o responsável, defendendo mesmo que seja dado “um passo de gigante” para levar mais longe a ação do MEM.
“Duvido que muitos espaços tenham as sete ‘Lições de Salazar’ nas condições em que estas estão”, disse, a título de exemplo, apontando para os cartazes de propaganda pendurados nas paredes do museu.
É também do tempo do ditador António Oliveira Salazar o material que, a partir de setembro, os alunos da escola de Leiria vão tratar. Cerca de 300 estudantes serão convidados a participar, tanto a nível académico como extracurricular.
“O projeto tem muito potencial. Gostava que todo o estudante da Licenciatura de Educação Básica tivesse proximidade a este projeto e que, de alguma maneira, contribuísse para o seu sucesso”, desejou Pedro Morouço.
A diretora técnica do MEM, Rita Brites, salientou a importância do material que será digitalizado: “A Coleção Educativa fazia parte das bibliotecas populares”, pequenos móveis instalados nas escolas durante o Estado Novo para difundir a leitura, num tempo em que “a taxa de analfabetismo era gigantesca”.
Os livros destinavam-se aos alunos da instrução primária, mas também à educação supletiva de adultos, e tratavam temas como História da Pátria, Geografia, Agricultura, Educação Sanitária, Música, Educação Moral e Cívica, Desporto, Química, Eletricidade ou Imprensa.
Alguns volumes que chegaram até hoje apresentam uma das primeiras páginas arrancadas.
“A coleção iniciava com um parágrafo de Salazar. Quando chegou o 25 de Abril, saiu uma normativa: era necessário rasgar essa página de alguns e outros, quando o conteúdo era todo político, era mesmo para queimar e destruir. Felizmente temos exemplares intactos”, assinalou a técnica.
O conteúdo da Coleção Educativa ficará disponível dentro de um ano no ‘site’ do MEM.
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