A 95ª edição da cerimónia dos Óscares, se tivéssemos de apostar, será provavelmente menos memorável do que a anterior - reveja aqui a análise ao evento do ano passado - , pelo menos no que diz respeito à polémica. O glamour, as entrevistas no tapete vermelho, o desfile dos principais atores e atrizes de Hollywood estarão certamente presentes, mas será difícil haver um momento como aquele protagonizado por Will Smith e Chris Rock em 2022. Contudo, é esperado que uma ou outra pessoa faça pelo menos uma brincadeira com isso, nem que seja o próprio host deste ano, Jimmy Kimmel.

2022 e o início de 2023 fazem parte de um período em que o cinema começou a dar os primeiros passos no regresso a níveis pré-pandemia: mais pessoas a ir às salas de cinema (mas só para certos tipos de filmes) e alguns filmes conseguiram ultrapassar a marca dos mil milhões de dólares de bilheteira (“Top Gun: Maverick”, “ Avatar: O Caminho da Água” e Jurassic World: Dominion”).

Foi também um ano recheado de novos projetos, novas narrativas, novas personagens que acabaram nomeadas para esta edição dos Óscares.

É também o ano em que vamos estar a fazer figas para ter o primeiro projeto portugês a vencer uma estatueta com “Ice Merchants” (nos cinemas) de João Gonzalez e Bruno Caetano, na categoria de Curta-Metragem de Animação.

A quatro dias da cerimónia, aqui fica um guia para fazer último sprint e ficar a par de todos eles, quando a emissão dos Óscares começar este domingo, pelas 23h, na RTP.

Os Melhores Filmes

  • Everything Everywhere All At Once (Cinema)

A longa-metragem produzida pela A24 e realizada por Daniel Kwan e Daniel Sheinert (The Daniels) é o projeto com mais nomeações deste ano (11) e um dos sérios candidatos a ganhar o principal galardão da noite. O filme mistura comédia, ficção científica e a noção de um multiverso onde questionamos todas as diferentes versões de nós próprios que podem existir num infinito número de realidades. As performances de Michelle Yeoh, Ke Huy Quan, Stephenie Hsu e Jamie Lee Curtis mereciam ser todas premiadas, mas poderá ser difícil tal acontecer.

  • The Fabelmans (Cinema)

O regresso de Steven Spielberg (nomeado para Melhor Realização) ao leme de um filme deu-nos um dos seus melhores projetos de sempre. “The Fabelmans” é baseado na própria vida do realizador norte-americano e naquela que foi a origem do seu percurso para se tornar num dos cineastas mais icónicos da História. Michelle Williams (nomeada para Melhor Atriz), Paul Dano e Gabrielle LaBelle dão vida a uma história que poderá ser uma das maiores vencedoras da noite.

  • Women Talking (Cinema)

Juntar Claire Foy, Rooney Mara e Frances McDormand no mesmo filme tem tudo para dar bom resultado, especialmente se se tratar de uma história baseada em factos reais, na qual uma comunidade de mulheres numa colónia menonita na Bolívia tenta escapar à subjugação a que são sujeitos por parte dos homens. Está também nomeado para melhor Argumento Adaptado.

  • Elvis (HBO Max)

Contar a história do “Rei do Rock” nunca seria tarefa fácil, mas a extravagância já conhecida de Baz Luhrman e a caracterização impecável de Austin Butler como Elvis (nomeado para Melhor Ator) ajudaram a contar uma história de altos e baixos, de uma superestrela que acabou por se rodear das piores companhias possíveis e sofrer as consequências disso.

  • All Quiet On The Western Front (Netflix)

Como ver a Primeira Guerra Mundial da perspetiva dos alemães e ter alguma empatia por essa história? Foi essa a missão desta produção alemã da Netflix, com um grande épico de guerra que nos dá o choque de realidade de um soldado alemão a tentar sobreviver ao conflito e uma narrativa parela sobre as discussões para o armísticio que lhe colocaria um fim. É um dos filmes com mais nomeações com um total de 9, incluindo a de Melhor Filme Estrangeiro, categoria que deverá vencer.

  • Banshees of Inisherin (Cinema)

Não é fácil definir o tema principal deste filme. A relação problemática entre as personagens de Colin Farrell (nomeado para Melhor Ator) e Brendan Gleeson (nomeado para Melhor Ator Secundário) numa pequena vila irlandesa é um estudo sobre amizade, sobre propósito e sobre a definição de deixar um legado para alguém. Num ano diferente, a longa-metragem de Martin McDonagh (nomeado para Melhor Realização) até poderia ser uma das principais candidatas a ganhar a categoria principal.

  • Triangle of Sadness (Filmin por 3,95)

O filme de Ruben Ostlund (nomeado para Melhor Realização) tem a particularidade de parecer uma minissérie composta por três episódios que vemos de seguida e que de alguma forma estão interligados. Vemos uma relação amorosa com dinâmicas de poder problemáticas, entramos num cruzeiro de luxo que grita privilégio (e onde acontece uma das cenas mais caricatas deste ano) e acabamos numa ilha isolada onde sobreviver se torna o mais importante. A produção sueca é certamente uma das surpresas deste ano.

  • Avatar: The Way of the Water (Cinema)

13 anos depois, James Cameron provou que continua a ser um incrível cineasta e sobretudo um visionário naquilo que é a criação de narrativas que apelem a milhões e milhões de pessoas. A sequela de “Avatar” chegou no final de 2022, num clima de grande incerteza sobre se seria capaz de replicar o sucesso do filme original (o mais rentável de sempre). E a verdade é que o fez ultrapassando o 2 mil milhões de dólares de bilheteira e atingindo o terceiro lugar do ranking. O regresso a Pandora deverá valer ao filme um Óscar, pelo menos nas categorias mais técnicas.

  • Top Gun: Maverick (SkyShowtime)

36 anos depois do filme original, que bom que foi ver Tom Cruise a regressar à personagem que o colocou no mapa de Hollywood. “Maverick” esteve vários anos em produção e a ser desenhado quer para apelar à nostalgia de quem cresceu com o primeiro filme, quer para a nova vaga de fãs que privilegiam grandes blockbusters no grande ecrã. A sequela é a todos os níveis um espetáculo visual, no qual nos sentimos autênticos pilotos de aviões. Provavelmente, não vai ganhar nada, mas foi um dos filmes mais importantes do ano. Está também nomeado para melhor Argumento Adaptado e Melhores Efeitos Especiais.

  • Tár (Cinema)

O filme realizado por Todd Field (nomeado para Melhor Realização) acompanha a história de uma maestro de renome, Lydia Tár, responsável pela Orquestra Filarmónica de Berlim. No auge da carreira, Lydia, protagonizada por Cate Blanchett (nomeada para Melhor Atriz) toma uma série de decisões que a levam a um caso em tribunal que prejudica a relação com a sua mulher e o seu estatuto na indústria. A vitória é quase certa para Blanchett, que com uma interpretação incrível, tem vencido a categoria nos prémios que têm antecedido os Óscares.

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Valem a pena pela performance

  • Brendan Fraser e Hong Chau em The Whale (Cinema): Fraser passou uns anos fora do radar depois do fim da trilogia “A Múmia”, com uma série de casos que o levaram a problemas de sáude mental e a interromper a carreira. Está agora nomeado para Melhor Ator, tal como a sua colega Chau, que está nomeada para Melhor Atriz Secundária e que, mais recentemente, tinha aparecido na série “The Watchmen”.
  • Bill Nighy em Living (Cinema): aos 73 anos, o ator, que esteve presente em filmes como “Love Actually”, “Underworld”, “Piratas das Caraíbas”, “Harry Potter” e “About Time”, teve a sua primeira nomeação para um Óscar, o de Melhor Ator.
  • Paul Mescal em Aftersun (Cinema): O ator ficou na ribalta depois da sua personagem na série “Normal People” e conseguiu a sua primeira nomeação para Melhor Ator
  • Bryan Teree Henry em Causeaway (Apple TV+): O ator conhecido pelo seu papel na série “Atlanta” ao lado de Donald Glover aka Childish Gambino foi nomeado para Melhor Ator Secundário.

Documentários nomeados já no streaming

  • All That Breathes (HBO Max): a história de dois irmãos em Nova Deli, que conjugam a sua rotina diária de trabalho com a proteção de uma espécie de pássaros em perigo por causa da poluição.
  • Fire of Love (Disney+): o documentário aborda a vida e a carreira de dois vulcanologistas franceses, Katia e Maurice Krafft, que morreram na erupção de um vulcão no Monte Uzen em 1991.
  • Navalny (HBO Max): este filme acompanha a investigação da tentativa de assassinato a Alexei Navalny, o líder da oposição ao Governo de Putin, mostrando também a sua luta por uma Rússia mais democrática.

Fora dos principais prémios, mas merecem atenção

  • Babylon (Cinema): O novo filme Damien Chazelle (“Whiplash” e “La La Land”)
  • Glass Onion: A Knives Out Story (Netflix): Um novo mistério para Benoit Blanc, protagonizado por Daniel Craig
  • Bardo, Falsa Crónica de Umas Quantas Verdades (Netflix): o regresso de Alejandro González Iñárrítu (“The Revenant”, “Birdman”)
  • The Batman (HBO Max): a nova adaptação do popular super-herói, agora protagonizado por Robert Pattinson.

Na animação

  • Ice Merchants (nos cinemas): a curta-metragem portuguesa, que vai estar disponível para a aluguer na Film In a partir deste domingo, 12 de março, tem 14 minutos e aborda o amor familiar pelo olhar de João Gonzalez e Bruno Caetano.
  • Pinocchio (Netflix): a adaptação de Guillermo de Toro à popular personagem foi muito bem conseguida. Já ganhou a categoria de Melhor Filme de Animação nos Globos de Ouro e nos BAFTA e, por isso, é o principal candidato a vencer do domingo.
  • Turning Red (Disney+): é a aposta da Disney e da Pixar para este ano que, comparado com os anteriores, parece ter ficado aquém das expectativas.
  • O Gato das Botas - O Último Desejo (nos cinemas): vimo-lo pela primeira vez em “Shrek” e, desde aí, já gastou 8 das suas 9 vidas. Agora vai numa aventura para recuperar todas.