De dez em dez anos os habitantes de Portugal são convidados a responder aos Censos. Espera-se assim traçar um retrato do país e das populações, medir o pulso às localidades e entender como o evolui ou onde estagna o país. O Instituto Nacional de Estatística (INE) ajuda a desenhar esta caricatura com o estudo 'O que nos dizem os Censos sobre dinâmicas territoriais' cuja apresentação de resultados o SAPO24 acompanhou.

Entre 2011 e 2021, a população residente em Portugal diminuiu de 10 562 178 milhões para 10 343 066 milhões de habitantes, representando uma perda de 2.07%.  Em termos municipais, apenas 16% dos municípios registou uma evolução positiva da população, maioritariamente na Área Metropolitana de Lisboa (AML) e no Algarve.

Este estudo tentou perceber também os hábitos de deslocação dos portugueses, principalmente a questão 'casa-trabalho'. Em 2021 aumentou a população empregada, com o valor a bater nos 4,4 milhões de empregados. Mas menos 28,5% da população trabalha na freguesia em que reside, o que significa que as deslocações casa-trabalho são mais frequentes.

E como se deslocam as populações? Nos últimos dez anos, o automóvel ligeiro (como condutor ou passageiro) continua a ser o principal meio de transporte para as deslocações casa-trabalho, principalmente nas regiões de Leiria, Viseu Dão-Lafões, Aveiro, Alto Minho, Coimbra e Médio Tejo, com valores superiores a 80%. Apenas 12% dos residentes empregados recorre ao transporte coletivo, cerca de 1/4 destes estão na Área Metropolitana de Lisboa.

Com estes dados percebemos que em dez anos apenas em 32 municípios se aumentou o indício de polarização do emprego, que relaciona o número de empregados num determinado município com a população empregada residente nesse município. Os municípios de Lisboa (322 mil), Porto (119mil) e Oeiras (52mil) apresentam os melhores valores em termos de entrada de trabalhadores vindos de outros municípios. Sintra destaca-se com sendo o município de onde saem mais trabalhadores para trabalhar noutros concelhos, com cerca de 85mil, seguido de Vila Nova de Gaia (51mil).

Em termos de ocupação do território, o estudo evidencia uma maior concentração populacional do litoral de Portugal, nomeadamente na faixa entre Viana do Castelo e Setúbal e a faixa do litoral algarvio. O rio Tejo continua como fator diferenciador, abaixo deste existem vastas áreas despovoadas e acima deste áreas muito povoadas.

Continuando a percorrer o país, chega-se ao interior do Continente e à faixa litoral da região do Alentejo e as densidades populacionais são mais reduzidas, com o Alentejo a mostrar um sistema de povoamento fortemente concentrado, dando prioridade aos aglomerados populacionais, em relação ao resto do território português.

De um total de 308 municípios, apenas 50 viram a população crescer nos últimos dez anos, os quais são maioritariamente localizados na Área Metropolitana de Lisboa (14 num total de 18 municípios) e no Algarve (11 em 16). Na secção oposta, a região do Norte e da Madeira perdeu população. Curiosamente, é importante referir, os municípios de Lisboa e Porto apresentam decréscimos populacionais, com -1.25% e -2,44%, respetivamente.

Para Mário Vale, Presidente do Instituto de Geografia e Ordenamento do Território, "as políticas de investimento, principalmente de apoio ao investimento privado, não têm sido suficientes e isso é preocupante. Mas, devemos encontrar 'ilhas de esperança', que devem ser pontos intermédios na rede urbana. Devemos questionar o modelo trabalhado. Cidades capitais de distrito e cidades que atraem devem constituir bases".

Olhando para a mobilidade territorial, em Portugal, apenas 20.5% alteraram a sua residência dentro da mesma freguesia, enquanto 17.9% mudaram de freguesia do mesmo município. 10.3% tinham residência anterior no estrangeiro, em relação à realidade de 31 de dezembro de 2019.

Ao contrário de 2011, em 2021 no conjunto de população que mudou de residência, mais de metade (51.3%) era proveniente de outro município. Importa salientar a relação da distribuição da população e o parque habitacional. Nas Áreas Metropolitanos de Lisboa e do Porto a população residente é superior aos alojamentos, ou seja, "na generalidade dos municípios das Áreas Metropolitanas do Porto e de Lisboa, o peso da população residente era superior ao dos alojamentos familiares clássicos". Sintra e Vila Nova de Gaia surgem destacados, mas não pelos melhores motivos. As populações destes dois territórios não têm muita oferta de habitação, daí registar-se uma fuga para outros lados.