Num comunicado, a editora sublinhou que Oe “morreu de velhice” e que a família já realizou, entretanto, o funeral do escritor, um ícone japonês progressista e inconformista.

Nascido em 1935, numa remota aldeia da ilha de Shikoku, no sudoeste do Japão, no meio de uma vasta floresta, cenário que utilizaria frequentemente no seu trabalho, Oe estudou literatura francesa na Universidade de Tóquio.

Na sua obra, denunciou incansavelmente a violência infligida aos fracos e manifestou-se contra o conformismo da sociedade japonesa moderna.

Em 1958, ganhou o prestigiado prémio Akutagawa para jovens autores por “A Captura”. A trágica história de um piloto afro-americano capturado por uma comunidade japonesa durante a Segunda Guerra Mundial seria mais tarde adaptada para o cinema por Nagisa Oshima.

Oe ganhou o Prémio Nobel da Literatura em 1994, tornando-se o segundo autor japonês a alcançar essa distinção.

Na altura o júri elogiou o escritor como alguém “que, com grande força poética, cria um mundo imaginário onde vida e mito se condensam para formar um quadro confuso da atual frágil situação humana”.

Pouco depois Oe recusou a Ordem da Cultura, uma distinção japonesa atribuída pelo imperador, algo que causou polémica. “Não posso reconhecer nenhuma autoridade, nenhum valor superior à democracia”, justificou.

O escritor foi um ardoroso defensor da causa antinuclear e da constituição pacifista adotada pelo Japão após a Segunda Guerra Mundial.

Odiado pelos nacionalistas japoneses, Oe seria processado por difamação, mas absolvido, por ter lembrado no ensaio “Notas de Okinawa” (1970), que civis tinham sido levados ao suicídio por soldados japoneses durante a Batalha de Okinawa em 1945.