A exposição vai estar patente até 29 de junho no Centro Nacional de Arqueologia Náutica e Subaquática (CNANS), em Xabregas, na zona oriental de Lisboa, e apresenta gráficos, textos, imagens das intervenções, e também materiais recolhidos dos sítios arqueológicos subaquáticos.

Em entrevista à agência Lusa, o diretor do CNANS, José Bettencourt, disse que a exposição “apresenta o trabalho que tem sido desenvolvido, na última década e meia na costa continental portuguesa, nomeadamente as mais recentes descobertas, como do naufrágio da nau Belinho”, de cerca de 1600, em Esposende.

A exposição inclui parte dos objetos resultantes de intervenções entre a barra do rio Tejo e a foz do rio Arade, em Portimão.

Estes objetos estão sob a guarda do CNANS que o seu diretor quer “mais aberto à população”, projetando visitas guiadas aos seus depósitos.

Entre os objetos expostos, destacam-se as duas pirogas monóxilas (canoas escavadas num único tronco), encontradas em 1985 no rio Lima, em Viana do Castelo, “os mais antigos objetos” expostos, com os seus mais de dois mil anos.

No âmbito desta mostra, o responsável destacou “os trabalhos desenvolvidos na barra do rio Tejo, nos últimos cinco anos, que permitiram a descoberta de vários naufrágios, nomeadamente no sítio ‘Búgio 2’, do naufrágio de uma nau da carreira da Índia, provavelmente os restos da nau S. Francisco Xavier que naufragou em 1625”.

José Bettencourt destacou também “três naufrágios que apareceram entre a Parede e a praia de Carcavelos [nos arredores de Lisboa] com cargas militares, que estarão provavelmente relacionados com o apoio logístico às forças luso-britânicas que estavam a tentar defender Lisboa, durante as invasões napoleónicas, em princípios do século XIX”.

Da exposição constam alguns objetos do naufrágio da nau de N. S. dos Mártires, na costa de Cascais, “um sítio clássico da arqueologia subaquática, já trabalhado”, mas a exposição pretende “dar ênfase às principais descobertas da última década, até para mostrar que há continuidade na investigação”.

Na exposição vão estar patentes “cerâmicas de produção portuguesa e asiática, materiais orgânicos, como parte dos aparelhos dos navios, além das pirogas do rio Lima”.

Questionado sobre o ponto da situação da investigação arqueológica subaquática portuguesa, José Bettencourt disse à Lusa que “nunca se está satisfeito e quer-se sempre mais". "Mas estamos numa fase de mudança com diversas equipas a trabalhar”, acrescentou, referindo que cabe ao CNANS coordenar a atividade arqueológica subaquática, que não é feita só pelo centro, mas também pelas câmaras municipais, centros de investigação universitários, empresas privadas, “e isso é positivo”.

Bettencourt disse que a atividade está em crescimento, “com um número cada vez maior de profissionais”.

“Há, todavia, muito para fazer tendo em conta o potencial que têm as águas portuguesas com naufrágios desde a Antiguidade até ao século XX, com importância patrimonial e científica muito elevada. E o que nós conhecemos é apenas a ponta de um grande novelo”.

O responsável afirmou mesmo ser “inesgotável” o potencial português neste domínio científico.

“Temos vários 'museus debaixo de água' e temos de os trazer à superfície, não necessariamente recuperando as peças, mas através de um maior conhecimento, não há qualquer dúvida”, declarou.

Esta exposição assinala o final do projeto “Water World – Capacitação e competências para a conservação e gestão do Património Cultural Subaquático”, financiado pelo mecanismo europeu EEA Grants, que envolve a Noruega, Islândia e o Liechtenstein, no âmbito do Espaço Económico Europeu.

O projeto “Water World” foi desenvolvido entre 2021 e o ano passado, e “privilegiou uma abordagem integrada nos planos da salvaguarda, proteção, conservação, preservação, monitorização e disseminação do património cultural náutico e subaquático português”, segundo o comunicado do instituto público Património Cultural.

“Entre as múltiplas ações concretizadas, destacam-se programas de formação e capacitação de recursos humanos, a conservação e o restauro de bens arqueológicos visando a sua devolução às comunidades locais, a sistematização da informação e a monitorização de sítios arqueológicos, a par de diversas atividades de disseminação”, lê-se no mesmo documento.

O diretor do CNANS qualificou este apoio como importante, na medida em que permitiu “o tratamento de vários objetos que estavam em depósito à espera de condições para a sua conservação e preservação".

Ao mesmo tempo, contribuiu "para a formação de uma nova geração de arqueólogos em várias metodologias" que estavam a ser utilizadas "de uma forma muito tímida", promovendo um desenvolvimento por esse lado, e permitiu também "fazer algum trabalho de campo e sistematização da informação sobre o património cultural subaquático na carta arqueológica”.

O diretor realçou ainda “o positivo que é estar em contacto com outras experiências noutras latitudes”.

A inauguração da mostra, pelo presidente do Património Cultural, João Soalheiro, entre outras personalidades, conta com um momento musical protagonizado pelo barítono Rui Baeta acompanhado ao piano por Paulo Pacheco.

A exposição “Water World. Passado Submerso” abre ao público na quinta-feira e pode ser visitada até 29 de junho.