O projeto Raízes — Redes Locais para o Turismo Sustentável e Inclusivo em Santo Antão — é uma iniciativa promovida pela Associação de Defesa do Património de Mértola (ADPM), em parceria com três associações locais e com as autarquias do Paul e do Porto Novo e o Instituto Superior de Ciências Económicas e Empresariais (ISCEE) do Mindelo.
Financiado pela União Europeia e pelo instituto Camões, o projeto está em curso desde setembro de 2017 e tem a duração de três anos.
Neste período, o Raízes já penetrou em toda a ilha de Santo Antão, com mais profundeza nos concelhos do Paul e Porto Novo, tendo já realizado várias iniciativas, segundo Dilma Gomes, coordenadora do projeto na também conhecida como “ilha das Montanhas”.
A implementação de dois centros de interpretação do território e posto de turismo, a publicação de vídeos e artigos promocionais, a participação em várias atividades para divulgar Santo Antão, o mapeamento de todos os atores ligados ao turismo e ao património natural e cultural e a aposta na formação são algumas das iniciativas já realizadas.
Mas a face mais visível é a sinalização de 74 caminhos vicinais, num total de 455 quilómetros de caminhos rurais, na segunda maior e ilha mais a norte de Cabo Verde, com uma área de 779 quilómetros quadrados e cerca de 47 mil habitantes, que vivem essencialmente da agricultura, pecuária, pesca e comércio.
“Os caminhos vicinais estão todos identificados no mapa”, indicou Dilma Gomes à Lusa, adiantando que a ideia é colocar todos os trilhos num aplicativo móvel, onde uma pessoa pode caminhar sozinha ou identificar o roteiro a partir de qualquer parte do mundo.
Entretanto, reconheceu que muitos caminhos vicinais precisam de intervenção urgente.
A mesma opinião tem Kristof, guia turístico de nacionalidade francesa, natural de Paris, que aterrou em Cabo Verde há mais de 10 anos. Diz que há muitos caminhos que precisam de ser arranjados, para dar mais segurança aos turistas.
De acordo com a coordenadora, Santo Antão já tinha algumas iniciativas, mas o projeto veio impulsionar e “dar maior dinâmica e mais força” ao turismo de montanhas, que atrai por ano milhares de turistas, sobretudo franceses, mas também alemães, espanhóis, italianos, suíços.
“Santo Antão agora é totalmente diferente de há um ano e meio”, sustentou a responsável, para quem há mais informação, mais organização e mais divulgação, o que faz com que as entidades já olhem para a ilha “de forma diferente” e “como um exemplo a seguir”.
“O projeto veio sobretudo valorizar os produtos locais, colocar os atores a funcionar em rede, também mudar comportamentos, com ações de sensibilização nas escolas, para despertar desde já nas crianças a ideia de preservação e transmitir um pouquinho do conceito do turismo”, disse.
Para Dilma Gomes, “Santo Antão ainda está por descobrir e há um conjunto de oportunidades” que podem ser exploradas, nomeadamente na investigação.
É com esta ideia que o projeto está a implementar dois doutoramentos, um em Turismo e outro em Ciências Empresariais, em parceria com o ISCEE.
Segundo dados do Instituto Nacional de Estatísticas (INE), perto de 15 mil turistas visitaram Santo Antão no primeiro trimestre do ano, mas Dilma Gomes considerou que, com o reforço da divulgação da ilha, a perspetiva é aumentar o número de visitantes.
“Mas como o turismo é um fenómeno, as vezes acontece, às vezes não acontece. Queremos que aconteça, que Santo Antão seja divulgado, que a ilha possa posicionar entre os melhores e é isso que o projeto Raízes está a fazer”, salientou.
Dilma Gomes disse à Lusa que ainda não há nenhuma decisão concreta relativamente ao seguimento do projeto após o próximo ano, mas está ciente que é uma “iniciativa forte”, que resulta de um “enorme rede” de parcerias e que “vai continuar” a deixar marcas em Santo Antão.
Com uma agência de turismo em São Vicente, Kristof disse que já percorreu praticamente todos os trilhos em Santo Antão e considerou também que Raízes é uma iniciativa positiva atualmente, e não têm dúvidas que vai continuar a sê-lo no futuro.
Em mais de 10 anos a subir e a descer montanhas, percorrer ribeiras, descobrir vales, montes e cutelos, conhecer gentes e a provar tudo o que a ilha tem de bom e de melhor, o guia turístico é de opinião que o turismo “desenvolveu muito” em Santo Antão, onde os turistas procuram a natureza, “coisas autênticas e tradicionais”.
Entretanto, nota que ainda há alguns desafios, nomeadamente proporcionar mais segurança aos caminheiros, mais organização e formação e aposta na qualidade do serviço que é oferecido aos turistas que desembarcam na ilha todos os dias.
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