De acordo com a Culturgest, o ciclo inicia-se a 9 de março e contará com a presença de Steve Paxton, que estará em Lisboa no âmbito deste programa que visa demonstrar a transversalidade do seu trabalho.
O ciclo inclui uma exposição com curadoria de Romain Bigé e de João Fiadeiro (de 09 março a 14 julho), a apresentação de algumas performances históricas em palco (9, 20, 21, 22, e 23 de março), uma série de cinco conferências, a primeira das quais com o próprio Paxton (a 10 de março, 21 de março, 30 de maio, 6 de junho, e 25 de junho).
Também está previsto o envolvimento de famílias e escolas, com apresentação de uma performance de Tiago Cadete e Leonor Cabral (de 20 a 23 de março) e duas oficinas, sobre as suas técnicas "Contacto Improvisação", e "Material para a Coluna", em data a anunciar.
Ao longo das últimas seis décadas, Steve Paxton, nascido em 1939, "tem moldado continuamente a face da dança", recorda a Culturgest.
O coreógrafo iniciou a sua carreira nos anos 1950, dançou com José Limon e Merce Cunningham, foi um dos fundadores do Judson Dance Theatre, fonte de criações coletivas que lançaram as raízes da dança pós-moderna e membro fundador do coletivo de improvisação nova-iorquino Grand Union.
Inventou duas técnicas – "Contact Improvisation" (Contacto Improvisação) e "Material for the Spine" (Material para a Coluna) –, e cruzou-se com artistas plásticos (como Robert Rauschenberg), tornando-se também marcante para o universo das artes visuais.
Entretanto, escreveu extensamente sobre movimento - mais de 100 artigos desde 1970 - e atuou em espetáculos de dança improvisada por todo o mundo.
A Culturgest refere ainda que seu trabalho tem vindo a influenciar coreógrafos e bailarinos, muitas vezes, ao ponto de se perder a origem de algumas das suas pesquisas, nomeadamente no campo da análise e integração de movimentos quotidianos: como caminhar, a importância do tato, do peso e do balanço e a abertura ao corpo não-técnico.
"Em Portugal, o pensamento de Steve Paxton e do Judson Dance Theater tiveram uma influência decisiva em muitos dos integrantes da chamada Nova Dança Portuguesa, que partilhavam, em vários aspetos, as suas inquietações sobre a relação da arte e do quotidiano", salienta a entidade, sobre o ciclo.
O trabalho coreográfico de Steve Paxton é considerado pelos especialistas uma das referências fundamentais das práticas de movimento contemporâneas, atravessando toda a dança que se segue ao coreógrafo norte-americano Merce Cunningham.
"Continuamente na vanguarda dos movimentos pós-modernos norte-americanos, Paxton desde sempre deixou o caminho aberto à contaminação entre a arte e o quotidiano", sublinha.
A exposição "Esboço de Técnicas Interiores" é o primeiro olhar retrospetivo do ciclo sobre o trabalho e o legado de Steve Paxton, com curadoria de Romain Bigé e João Fiadeiro, que estudaram com o coreógrafo americano, tendo desenvolvido pesquisas metodológicas e académicas sobre e a partir do seu pensamento.
Concebida em torno de uma das questões mais obsessivas do artista – "o que é que o meu corpo faz quando não tenho consciência dele?" – a exposição desafia os visitantes a vaguearem pelo estúdio de dança, “não apenas para ver dança, mas principalmente para observar o movimento com os olhos de um bailarino”.
No contexto do ciclo Steve Paxton, a Culturgest apresenta três peças históricas de Paxton, reinterpretadas pelo coreógrafo e bailarino esloveno Jurij Konjar, nomeadamente "Flat" (1964), "Satisfyin Lover" (1967).
Steve Paxton iniciou a sua carreira com estudos em diversas áreas, desde as técnicas de ballet e dança moderna, passando pelas artes marciais orientais, que acabaram por contaminar o seu trabalho ao longo dos anos.
Evocando a experiência do jogo, influenciado pela prática da ginástica e do Aikido – arte marcial japonesa que torna ineficaz a violência de qualquer ataque – criou, no início dos anos 1970, a técnica "Contacto Improvisação" que continua a alimentar, um pouco por todo o mundo, inúmeras investigações artísticas e somáticas.
Tendo passado muitos anos em digressão, improvisando em solo, dueto ou em grupo, Paxton vive desde a década de 1970 numa comunidade artística no norte de Vermont.
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