Jerónimo de Sousa, em entrevista à agência Lusa e a pouco menos de um mês do arranque oficial da campanha eleitoral, pronunciou-se também especificamente sobre o seu homólogo “rosa”: “é um PS, um homem, dirigente do PS, que tem um sentido de perspicácia e de inteligência, em relação ao diálogo, em relação a saber ouvir”.

“António Costa tem a consciência de que nós [PCP] não falávamos de cor. Quando havia o reconhecimento dessa razão… Obviamente, é, no plano político, uma pessoa capaz de compreender o fundamental e não o acessório. Por isso, nessas relações que tivemos com António Costa, temos de reconhecer que teve sempre um papel de procura da solução e não do problema”, afirmou.

O líder do PCP reiterou que não houve “um Governo de esquerda, nem uma maioria de esquerda”, mas antes um “Governo minoritário do PS”, com “políticas de direita”, nomeadamente em matéria de legislação laboral, por exemplo, ou nos “constrangimentos, limitações e opções” a que o PS se curvou, em favor do “grande capital monopolista e da banca” e da “União Europeia e suas instituições”.

“O PS, em relação a medidas positivas, concretizou-as e isso não pode ser escondido. Nas relações que tivemos com o PS sempre houve uma grande franqueza, de procura de fundamentação, de demonstração, de que era possível ir mais longe, garantir direitos. Da parte do PS, embora nalgumas matérias bastante renitente, onde, por vezes, quase era necessário uma paciência revolucionária – passe o termo -, fosse nas reformas, pensões ou manuais escolares, lá vinha sempre a preocupação em relação ao défice, à economia, com o Ministério das Finanças a ter ali um papel de negação ou de carimbo em relação àquelas medidas”, descreveu.

Contudo, Jerónimo reconhece que “há um valor que tem de ser ponderado, da parte do PS, também com franqueza e sinceridade – às vezes com posições negativas -, [o PS] sempre acabou por contribuir para esses avanços, mas isto é claramente insuficiente” e “mal seria se o PS retrocedesse nesta perspetiva de que é possível avançar, valorizar o trabalho e os trabalhadores”.

“Eu falei de paciência revolucionária com António Costa e com os ministros, com aquele trabalho de argumentação”, explicou, quando questionado se a dose extra de complacência era devida ao secretário-geral socialista devido aos seus conhecidos dotes e qualidades de negociador.

“Uma coisa é o anúncio – nós queremos o aumento das reformas e das pensões. Vem logo o argumento ‘ai, cuidado, com a Segurança Social’. Esse argumento hoje já nem colhe, tendo em conta o crescimento e situação financeira da Segurança Social, numa forma estável e em crescendo. Mas era um trabalho de grande exigência, de fundamentação, em que, nalgumas comissões e grupos de trabalho, quando o PCP dizia essas contas estão erradas. A primeira reação do PS era rebater tal tese. Passado uns tempos, era o próprio PS a dizer que se vocês acham que as contas estão erradas, o melhor é reconsiderar. Tivemos uma posição construtiva, mas determinada, muito firme, eram elementos de convencimento do PS”, descreveu.