Nas previsões económicas da primavera do executivo comunitário hoje publicadas, as primeiras projeções sobre o potencial impacto da pandemia na economia europeia, a instituição aponta que, embora a crise gerada pela covid-19 represente um “choque simétrico” a nível europeu, os “impactos diferem entre os Estados-membros, refletindo a gravidade da pandemia, o rigor das medidas de contenção e as diferentes exposições, por exemplo, à dimensão do setor do turismo”.

E, embora “se espere que estas medidas sejam gradualmente levantadas e que a procura global recupere, […] o comércio de serviços, particularmente o turismo, deverá recuperar mais lentamente”, indica o documento.

Para estas previsões económicas, a Comissão Europeia recorreu a três cenários: considerando que medidas de confinamento adotadas pelos Estados-membros duram seis semanas, 10 semanas ou 12 semanas.

Ainda assim, aos três é comum a previsão de que a atividade turística cai 50% este ano, na qual se inclui transporte, hospitalidade, entretenimento e cultura, com Bruxelas a prever “efeitos duradouros” das medidas de contenção.

Para esta previsão entra também a “menor confiança e as perdas de rendimento” dos cidadãos, que serão “dissuasores de viagens não essenciais”.

Especificamente sobre Portugal, a Comissão Europeia antecipa “uma forte recuperação da economia após o choque inicial”, mas alerta para que, “em alguns setores, particularmente no turismo, espera-se que os efeitos secundários se prolonguem”.

Desde logo, por causa da “dependência de Portugal do turismo estrangeiro”, destaca Bruxelas.

Recorrendo a dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) referentes a 2018, a Comissão Europeia destaca nas previsões que Portugal é dos países mais dependentes do turismo, país no qual este setor representa 8% do PIB e 9,8% do emprego, apenas superado nesta dependência por Espanha (onde representa 11,8% do PIB e 13,5% do emprego).

Isto também leva a consequências no desemprego em Portugal, com Bruxelas a indicar que a “lenta recuperação esperada no turismo e em serviços relacionados deverá ter um impacto negativo na procura de mão-de-obra durante um período mais longo”.

Questionado sobre os efeitos económicos da crise no turismo, o comissário europeu da Economia, Paolo Gentiloni, referiu em conferência de imprensa que “é preciso trabalhar para garantir que o turismo sobrevive ao verão”, mesmo que seja “em diferentes condições […] do verão passado”.

“Temos de tentar criar diretrizes e possíveis regras para coordenar a situação porque temos diferentes tipos de turismo e países como Portugal e outros que são mais expostos ao turismo estrangeiro”, adiantou Paolo Gentiloni, falando aos jornalistas na apresentação destas previsões económicas da primavera.

A Comissão Europeia prevê para Portugal, em 2020, uma recessão de 6,8% e que a taxa de desemprego suba para os 9,7% devido ao impacto da pandemia de covid-19, foi hoje divulgado.