Por ocasião do 16º Dia Internacional para a Segurança em Passagens de Nível, que hoje se assinala, a Infraestruturas de Portugal (IP), empresa pública que faz a gestão da rede rodoviária e ferroviária, divulgou que está a desenvolver um plano de intervenção nas passagens de nível, com o objetivo reduzir os acidentes naqueles locais para menos de 10 por ano até 2030.
Em 2023 foram registados 22 acidentes, que causaram oito vítimas mortais, e globalmente os números tem decrescido desde 1999, ano em que começaram a ser adotadas medidas para minimizar os riscos e durante o qual ocorreram 156 acidentes em passagens de nível, causando 38 mortes.
“É uma redução significativa, mas enquanto uma pessoa morrer numa passagem de nível, não podemos estar satisfeitos”, disse, em entrevista à Lusa, António Viana, diretor da Estrutura de Missão para a Redução da Sinistralidade na IP.
O plano prevê o reforço da segurança, com a supressão de 135 passagens de nível consideradas de maior risco e a reclassificação de outras 237, com aposta na automatização e outros métodos que impeçam ou dificultem contornar as barreiras, além do recurso a tecnologias como o vídeo, “para detetar e sancionar o incumprimento”.
O investimento previsto neste plano é de 316 milhões de euros.
“Todas as passagens de nível rodoviárias da Linha do Norte serão suprimidas e ficarão quatro passagens de nível pedonais, para as quais, neste momento, ainda não se encontrou a solução, mas que pode vir a ser encontrada”, adiantou, destacado que as passagens de nível em vias múltiplas são onde há maior risco para o atravessamento.
Em Portugal existem atualmente 810 passagens de nível quando em 1999 existiam cerca de 2.500.
Nestes 25 anos já foram gastos cerca de 400 milhões de euros em alterações nestas passagens de nível, como na sinalização, em supressões e na construção de passagens desniveladas.
O comportamento de risco é a principal causa dos acidentes. Tal como acontece na maior parte dos países, “também em Portugal, cerca de 50% dos acidentes ocorrem em passagens de nível que têm proteção ativa”.
“Ou seja, têm sinalização ou têm barreira. E isso porquê? Porque há um desrespeito pelas regras de segurança. A pressa, a não valorização do risco, a distração são fatores que levam as pessoas a atravessar, indevidamente, as passagens de nível e, disso, podem resultar acidentes”, afirmou.
Por isso, a educação e a sensibilização para mudanças nos comportamentos de risco das pessoas é outra das apostas da IP, porque há a consciência de que nenhum plano de supressão e reclassificação de passagens de nível será eficaz sem mudar hábitos instalados.
“E isso é um desafio que tem que ser abraçado por mais entidades. Não pode ser só a IP a abraçar este desafio. As autarquias, as comunidades, as escolas, as forças policiais têm que fazer parte de todo este trabalho de prevenção, de sensibilização das pessoas, para que, efetivamente, consigamos mudar os hábitos”, considerou.
Para consciencializar os utentes que os comportamentos que adotam “são determinantes para evitar os acidentes”, a IP acompanha países parceiros da União Internacional de Caminhos de Ferro (UIC) numa campanha de sensibilização para o risco de atravessamento das passagens de nível.
Serão divulgados hoje materiais em diversos suportes que alertam para os perigos de atravessar a linha de comboio, nomeadamente um vídeo que reúne imagens de comportamentos de risco reais e que têm em comum a mensagem “Atenção aos comboios. A vida pode mudar numa fração de segundo”.
A UIC estima que no mundo existam mais de 500 mil passagens de nível, 100 mil delas na Europa e, nestas 100 mil, ocorrem todos os anos cerca de mil acidentes, que resultam em 300 vítimas mortais.
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