Surgido através de um manifesto na rede social Facebook por parte da Frente Unitária Antifascista, o protesto conta com uma petição pública eletrónica "Contra a conferência Neonazi do dia 10 de Agosto em Lisboa", que tinha reunido até hoje ao fim da manhã 3.974 assinaturas.

Os subscritores estão a promover uma concentração, que designaram de "mobilização nacional antifastista", para sábado às 13:00, em Lisboa, no mesmo dia da "conferência nacionalista" organizada pelo grupo de extrema-direita `Nova Ordem Social´, dirigido pelo já condenado por vários crimes de índole racial Mário Machado.

"A realização, no próximo dia 10 de Agosto, em Lisboa, de uma reunião de organizações de extrema-direita da Europa, algumas assumidamente de ideologia fascista e neonazi, motivou a convocatória de uma manifestação de protesto para o mesmo dia e local por uma frente de organizações nacionais e internacionais", refere a petição.

Dirigido ao Presidente da Assembleia da República, ao Presidente do Tribunal Constitucional, Ministra da Justiça, grupos parlamentares e direções partidárias, a petição apela para que tomem posição e impeçam a realização do encontro.

“É um grito de cidadania. O objetivo é fazer um alerta público face ao encontro de organizações declarada e abertamente racistas, cuja existência em si é uma afronta à Constituição da República Portuguesa", defendeu o dirigente do SOS Racismo, Mamadou Ba, em declarações à Lusa.

O dirigente do SOS Racismo, que se associou ao manifesto de protesto, sustentou que "as próprias autoridades têm de atuar" e considerou desejável “mão firme, pois algumas daquelas pessoas que vão cá vir advogam a violência racial", frisando que "o racismo é uma ideologia que mata e nenhuma ideologia que mata deve ser divulgada no espaço público”.

Pela União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR), a dirigente Joana Sales declarou à Lusa que a sua associação subscreveu o manifesto porque “sempre luta por valores democráticos e uma manifestação neonazi não pugna por esses valores”.

“Não percebemos sequer como é que uma coisa destas é legal. Eu não sou jurista, mas o Estado não devia permitir isto, um evento de grupos que apelam diretamente à violência. Parece-me claramente inconstitucional. Estamos divulgar a iniciativa e vamos participar. A concentração está aberta a todos quantos queiram marcar presença pelos valores democráticos”, disse.

No texto da petição pública, os promotores “solicitam também que os partidos políticos tomem uma posição clara” e apelam ”à mobilização de todos os cidadãos, partidos, sindicatos, movimentos e organizações para que no dia 10 de Agosto de 2019 o povo português deixe uma mensagem clara aos neonazis europeus”.

Fonte policial adiantara já à Lusa que o Serviço de Informações de Segurança (SIS) está a acompanhar “muito de perto” a “conferência nacionalista” que vai contar com representantes de partidos e movimentos europeus, estando já confirmados sete oradores: Mário Machado, Josele Sanchez (Espanha), Adrianna Gasiorek (Polónia), Blagovest Asenov (Bulgária), Francesca Rizzi (Itália), Mattias Deyda (Alemanha ), Yvan Benedetti (França).

Os organizadores da conferência nacionalista só pretendem divulgar o local do seu evento, marcado para as 14:00, no próprio dia, pelas 09:00, segundo a página do grupo de extrema-direita "Nova Ordem Social" na Internet.

O Relatório Anual de Segurança Interna (RASI) de 2018 refere que a extrema-direita portuguesa continuou, no ano passado, “a revelar grande dinamismo na luta pela ‘reconquista’ da Europa, nomeadamente no que diz respeito ao combate à imigração ilegal, à islamização, ao multiculturalismo e ao marxismo cultural”.

Segundo o RASI, o setor identitário e neofascista destacou-se novamente em 2018 através da organização de conferências, ações de propaganda, celebrações de datas simbólicas, ações de protesto, eventos musicais e sessões de treino de artes marciais, num “perfeito alinhamento com o modo de atuação dos seus congéneres europeus, com quem manteve contactos frequentes”.

A tendência ‘skinhead’ neonazi esteve “menos ativa”, mas manteve as suas atividades tradicionais, como concertos e reuniões, além de associar pontualmente às iniciativas do movimento identitário e neofascista, indica o RASI, frisando que a extrema direita registou “uma intensa difusão de propaganda em ambiente virtual, com o objetivo de criar condições favoráveis ao sucesso eleitoral de forças políticas nacionalistas ou populistas em 2019”.