Estar no topo da lista realizada pela Lusa com base nos resultados nos exames nacionais “é uma surpresa e uma não surpresa” para o diretor da escola artística de Lisboa, Rui Madeira.

Na Escola Artística António Arroio, muitos alunos fazem o seu percurso de três anos sem se preocuparem com os exames nacionais, porque servem apenas para acesso ao ensino superior português e na escola “mais de 20% dos estudantes” querem ir para o estrangeiro estudar, onde “os exames não têm peso nenhum”, contou o diretor.

“Fora de Portugal não há necessidade de concorrer com exames nacionais, é o portefólio e a entrevista que normalmente é feita para acesso nessas escolas estrangeiras”, sublinhou.

E para onde vão estes finalistas? “Vão até onde a imaginação der”, disse, dando como exemplos escolas em Inglaterra, Holanda, França, Itália, Espanha, garantindo que muitas vezes são “os primeiros a entrar”.

Para explicar o sucesso dos seus alunos, Rui Madeira aponta várias variáveis: O currículo “permite ao aluno ganhar capacidades e ter uma bagagem muito grande”, os estudantes “têm mais horas nas escolas, têm mais trabalho, o rácio de professores por aluno também é um bocadinho melhor e há um grande reforço” ao longo de todo o percurso académico.

Nem todos os que idealizam um futuro na área das artes conseguem frequentar a António Arroio. Todos os anos, entram 416 novos alunos para o 10.º ano. Mas são muito mais os que querem aprender na escola onde estudou Júlio Pomar, Mário Cesariny ou Joana Vasconcelos.

“Quase todos os anos mais de 90 alunos ficam de fora”, segundo o diretor, acrescentando que, no ano passado, ficaram mais de cem. “É preciso fazer uma seleção”.

E essa seleção continua ao longo do percurso académico. No 10.º ano, os alunos fazem “uma espécie de ano zero”, experimentando as seis áreas da escola, desde as artes do fogo – cerâmica e ourivesaria – passando pelo design de produto e design comunicação, até aos meios digitais, cinema e vídeo e fotografia.

Quando terminam o 10.º ano, candidatam-se à área que pretendem seguir, sabendo que existem ‘numerus clausus’ de acesso ao 11.º ano, estando previstas situações de exceção para os casos de educação especial.

A fama e ambiente da António Arroio há muito que extravasaram os portões da escola, do bairro, da cidade. Tem “uma projeção regional na área metropolitana bastante visível”, porque “há muita gente que passa a palavra que aqui se faz um caminho feliz no ensino secundário e as artes são precisamente o fator diferenciador desse sucesso”.

Mais de metade dos alunos não vive na capital. Vêm de longe. Muitos apanham mais do que um transporte público, demoram mais do que uma hora a chegar. “Muitas vezes, os que vivem mais longe são os mais pontuais. Há um ritmo de vida que até transforma o dia-a-dia da própria família”, disse o diretor, explicando que os “arroianos” chegam de toda área metropolitana de Lisboa num raio de 50 quilómetros.

Ao tempo perdido nas viagens diárias soma-se o tempo ganho em horas de escola, que no 12.º ano corresponde quase a uma semana de trabalho de 40 horas.

A carga horária dos alunos vai aumentando. No 10.º é muito parecido com o científico-humanísticos, “no 11º já tem mais uma boa parte de carga horária e no 12.º é praticamente o dobro: São 2.025 minutos no currículo completo. Portanto, é uma semana de trabalho, são praticamente 40 horas”, contou o diretor.

Pela primeira vez em duas décadas de análise dos resultados dos exames nacionais do ensino secundário, as duas escolas artísticas mais conhecidas do país – António Arroio, em Lisboa, e Soares dos Reis, no Porto – ocupam os primeiros lugares de uma tabela de escolas públicas realizada pela Lusa.

A escola lisboeta surge em primeiro lugar da lista elaborada pela Lusa com base em dados disponibilizados pelo Ministério da Educação, tendo em conta apenas estabelecimentos de ensino com mais de cem provas realizadas.

Um dos motivos para este sucesso poderá estar também no facto de muitos dos alunos terem feito as provas que permitiram ter melhores notas nacionais. Numa lista feita pela Lusa, que ordena as cinco disciplinas com melhores médias nos exames nacionais do ano passado, surgem Inglês, Desenho A, História A, Historia da Cultura e das Artes e Geometria Descritiva.

As provas mais realizadas no ano passado pelos alunos da António Arroio foram precisamente Desenho A (291 provas), História da Cultura e das Artes (243 exames), Geometria Descritiva (162 provas), Português (130 provas) e Inglês.

Além disso, entre 2020 e 2021, apenas duas disciplinas subiram a média nacional: Geometria Descritiva que subiu 1,1 2 valores e Português que subiu 0,67 valores. Todas as outras disciplinas registaram uma descida da média nacional.