PCP, Bloco de Esquerda, PAN, Livre, MAS e Volt marcaram presença na concentração que começou no jardim Amália Rodrigues, no alto do Parque Eduardo VII, onde a primeira faixa a levantar-se proclamava que "o capitalismo não é verde".

A porta-voz da Greve Climática Estudantil Diana Neves disse à agência Lusa que "só deixa de haver motivos para fazer greve quando os governos e as instituições decidirem dar ouvidos" e "fazer uma transição justa, tanto climática como social".

"Até lá, vamos continuar a sair e a reivindicar os nossos direitos, sobretudo o direito a ter futuro", declarou, apontando que "o sistema socioeconómico continua a ser guiado pelas empresas [que exploram combustíveis] fósseis".

Questionada sobre a presença dos partidos que se foram juntando à concentração, Diana Neves declarou que "a greve é apartidária", recusando associar a greve climática a qualquer "partido em específico ou movimento político partidário".

Sobre o tom ideológico do manifesto lançado pelo movimento internacional Fridays for Future para balizar a greve, em que se aponta o sistema capitalista, o "Norte global” e os "colonizadores do Norte" como responsáveis, referiu que "a Ciência diz e a História diz" também que os países do hemisfério Norte "têm a responsabilidade histórica" pelo maior nível de emissões de gases poluentes para a atmosfera.

É a esses países, defendeu Diana Neves, que cabe a responsabilidade de cortarem o maior volume de emissões. "É óbvio que as pessoas do Sul global, que estão mais expostas e já sofrem as consequências [das alterações climáticas] não têm tanta responsabilidade de cortar emissões porque também não as produzem tanto", argumentou.

Outro dos vetores do Fridays for Future é a associação entre alterações climáticas e problemas sociais como o racismo, o sexismo ou a discriminação em função da sexualidade, que Diana Neves analisa referindo que "a crise climática é um dos fatores que vai aumentar todas as outras crises".

"Sabemos que são sempre as mesmas pessoas que estão mais expostas e são mais fragilizadas a qualquer crise social, desde as minorias étnicas às mulheres, aos trabalhadores ou aos 'LGBTQIA+", disse a porta-voz da Greve Climática Estudantil.

Beatriz Lopes, que não teve que faltar às aulas para estar na greve uma vez que concluiu este ano a licenciatura em Geografia e Planeamento Regional, disse à Lusa que "justiça climática" significa "alterar este sistema capitalista que não permite ser verde, que não permite a alteração para as energias renováveis".

"A nível internacional, há uma maior tendência para quererem puxar para a agenda verde, mas não sei se é só para efeitos políticos e para trazer votos ou se é mesmo a intenção dos políticos. Por isso é que continuamos a sair para a rua, porque podemos ver isso apenas como agenda política e não mesmo como intenção de mudar o sistema que está cada vez mais a colher os recursos do nosso planeta", acrescentou.

Entre ensaios de palavras de ordem, canções e elaboração à mão de cartazes, o número de aderentes ao protesto foi aumentando paulatinamente no cimo do Parque Eduardo VII.

Pouco a pouco, foram-se-lhes juntando bandeiras dos partidos que se quiseram associar, incluindo os candidatos autárquicos a Lisboa do PAN, Manuela Gonzaga, Beatriz Gomes Dias, do Bloco de Esquerda, e Tiago Matos Gomes, do Volt e um deputado europeu ex-PAN.

A assistir a tudo, a estudante alemã Sophie disse à Lusa que fez questão de reservar um dia da viagem de duas semanas que está a fazer entre Faro e o Porto para engrossar a manifestação.

"Os políticos precisam de entender que a luta é contra as alterações climáticas. Não importa se a manifestação é grande ou pequena. Estarem cá todos os que estão é melhor que do que não estar ninguém", afirmou.

Sensivelmente à mesma hora a que decorria a concentração de Lisboa, na capital do seu país natal, Berlim, a ativista que deu origem à greve climática estudantil, a sueca Greta Thunberg, desfilava também.

"A geração mais jovem está a fazer barulho e quer que [os políticos] saibam. Na Alemanha, o tema está bem presente por causa das eleições [legislativas], é por isso que há lá tantos protestos, tal como em toda a Europa".

Centena e meia de pessoas marcham pelo Clima e contra as desigualdades no Porto

A convocatória falava na “junção de lutas” contra as desigualdades, mas foi mesmo a questão ambiental a que mais se fez ouvir na marcha de hoje no Porto, marcada pelo movimento da Greve Climática Estudantil.

“Ó senhor ministro, explica por favor, porque é no inverno ainda faz calor”, foi um dos cânticos que se ouviram hoje na marcha entre a Praça da República e a Avenida dos Aliados, que se fez passando pela Rua Gonçalo Cristóvão e descendo a movimentada Rua de Santa Catarina.

Em declarações à agência Lusa, João Silveira, um dos organizadores da iniciativa, adiantou que o movimento ia “reivindicar por várias coisas, não só por um futuro para todos nós, mas um futuro justo, em que queremos igualdade em todas as áreas".

As bandeiras LGBTQI+ marcaram presença, mas as palavras de ordem foram dedicadas ao clima.

Érica Ribeiro, de 18 anos, saiu hoje à rua porque a sua geração “vai ser a que vai sofrer as maiores consequências” e sentiu a necessidade de “lutar por aquilo que a geração dos nossos pais está a falhar em fazer”.

Ainda que com o foco no ambiente, a jovem não esqueceu as outras causas: “se isto piorar, a pobreza será muito pior, e os pobres são quem sofre mais, e quem sofre de racismo”.

“Não podemos esperar sentados. Em vez de estar a passear, pensei ‘tenho de fazer alguma cena, mesmo que seja pequena’, e decidi vir à manifestação”.

Como ela, pensaram outras cerca de 150 pessoas, segundo a estimativa apontada pela PSP à Lusa, incluindo os cabeças de lista à Câmara do Porto do Bloco de Esquerda, do PAN e do Livre.

Para o organizador João Silveira, de 18 anos, “é interessante ver os representantes” partidários naquela iniciativa, ainda que tenha frisado que aquele é “um movimento apartidário”.

“Não apoiamos nenhum, mas é importante que tenham noção de que os jovens e a população em geral no Porto querem saber, e é importante que mudem as suas políticas”.

E as políticas foram, de facto, um alvo, como se ouviu quando a multidão ecoou que “o planeta está a aquecer, há medidas a tomar e o governo anda a brincar”.

Renato Oliveira, de 15 anos, foi perentório em atirar: “o Governo não está a fazer nada, o que eles querem é dinheiro. O que nós queremos é o planeta bom”.

O jovem, que não é estreante naquelas andanças, frisou que “é importante lutar sempre pelo bem e não desistir, levantar a cabeça sempre”.

“Dizem que o povo não tem poder, mas todos juntos somos mais fortes”.

Já Inês Silva, de 17 anos, saiu à rua pela primeira vez, embora já tivesse desperta para a questão: “sempre estive interessada em causas climáticas, mas não conseguimos fazer nada sentados no nosso próprio sofá. Tudo bem que partilhar ‘stories’ [publicações instantâneas nas redes sociais] e chamar a atenção dos nossos seguidores é importante, mas sinto que precisava de fazer mais”.

“Sempre quis vir a uma greve climática, porque sinto que estar aqui rodeada de pessoas que acreditam no mesmo que eu pode fazer a diferença”, continuou.

E um dos grupos que parecia mais empenhado em fazer a diferença era o da Escola de Segunda Oportunidade de Matosinhos, a que pertence também Renato Oliveira.

Vestidos a rigor, com cartazes e bidons a servir de bombos, os alunos daquela escola não passaram despercebidos quando chegaram à Praça da República, já depois da hora marcada, mas ainda muito a tempo de se juntarem à manifestação naquele local, antes de seguir viagem.

Diogo Carneiro, de 18 anos, juntou-se porque acredita que é preciso “mudar o nosso planeta”.

Naquela que foi a sua primeira greve, não se acanhou em atirar farpas ao poder político, dizendo que espera “que o Governo pense um bocado e faça mudar isto”.

Os professores responsáveis pela mobilização daqueles alunos, Miguel Silva e Daniela Laranjeira, explicaram que a participação em manifestações “faz parte do plano na escola de cativar os alunos para despertar consciências para estes problemas, que já são tão reais”.

À Lusa, Daniela Laranjeira explicou que, antes de ali chegarem, estiveram a preparar uma “coreografia, todos os jovens assistiram a alguns documentários para abrir a consciência e todos eles participaram nessa iniciativa”.

“Estamos aqui com essa vontade, de eles zelarem pelo planeta e pelo que é necessário fazer, e urgente, agora”, prosseguiu.

Miguel Silva adiantou que aquela “é também uma maneira de eles aprenderem – é ir além das salas de aula e despertar consciências”.

“Fala-se muito hoje na aprendizagem para a cidadania, mas acreditamos mais na aprendizagem na cidadania, fazendo cidadania onde tem de ser feita, na rua, juntando-nos a estes movimentos”, completou a professora.

E assim foi para a mais de centena e meia de pessoas que hoje pediu ao trânsito do Porto que os deixasse passar – “Sou ativista e o mundo é para mudar”, argumentaram.

A data marcada pelo movimento internacional foi assinalada desta forma no Porto, mas foram também agendados protestos para Albufeira, Aveiro, Braga, Caldas da Rainha, Coimbra, Faro, Funchal, Guimarães, Lisboa, Mafra, Santarém, Sines e Viseu.

(Notícia atualizada às 19h04)

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