Segundo aquela estrutura partidária do distrito de Aveiro, a expressão "picos" é do próprio Fernando Leão, presidente da Junta da União de Freguesias de Santa Maria da Feira, Travanca, Sanfins e Espargo, que justificou o abate no lugar do Cavaco com a "segurança" dos transeuntes, já que "a haste da árvore era cheia de picos" e terá "aleijado várias pessoas".

Contactado pela Lusa, o presidente da Junta não soube dizer que espécies foram cortadas, mas confirmou: "As árvores tinham rancos [galhos] e espetos, não davam flor nem nada e claro que mandei pô-las abaixo. Aquilo não podia estar assim na via pública, a bater na cabeça das pessoas, e quem as plantou lá devia ser preso".

O Bloco de Esquerda rejeita, contudo, que estes critérios justifiquem o derrube e realça que "as árvores abatidas, com uma única exceção, eram relativamente novas e sem quaisquer pragas ou doenças".

A coordenação local do partido defende que a ação da Junta da Feira "é inaceitável" porque "qualquer abate deve ser precedido de um estudo realizado por especialistas da área, discutido com a população" da zona afetada e "sempre assente na premissa do respeito integral pelo meio ambiente".

Para o BE, o que se verificou no lugar do Cavaco foi um "abate indiscriminado" e isso revela "uma insensibilidade ambiental típica de quem é incapaz de se adaptar à modernidade e ao avanço civilizacional, e de potenciar a qualidade de vida e a melhoria do ambiente na sua freguesia".

À Lusa, o presidente da Junta insiste que o corte "tinha que ser feito”.

"Não sei que espécie de árvores eram - só sei que tinham espetos! Não me interessa se eram azáleas, magnólias ou o que fosse! O que sei é que aquilo não podia estar na via pública. Quem as pôs lá, em 1996 ou 1997, devia ser preso porque aquilo são árvores sem jeito nenhum e quem trata dos jardins até se recusava a podá-las para não se aleijar", afirmou.

Fernando Leão assume que não houve qualquer avaliação técnico-científica prévia e que o abate, embora já previsto há algum tempo no âmbito de um arranjo urbanístico idealizado para a zona, nunca foi discutido na Assembleia de Freguesia, "nem tinha que ser".

"Isto não tem um interesse assim transcendente! Também já plantei magnólias na Rua Florentino Andrade e Silva e requalifiquei o jardim da Praça 20 de Janeiro, e isso não foi à Assembleia", declara.

Fernando Leão adianta, em todo o caso, que as árvores abatidas no Cavaco "vão ser substituídas na próxima semana". As espécies a replantar ainda não estão decididas, mas o autarca diz que "devem ser laranjeiras, limoeiros, magnólios e assim".