"O meu filho mais velho entrou este ano para o segundo ciclo de ensino e de repente comecei a receber emails todas as semanas sobre as suas avaliações. Nunca tinha recebido nada disto antes e fiquei esmagado (e um pouco aborrecido) com a quantidade de informação. Alguém me disse inclusive que podia ir a um site e pedir para não receber mais nada, mas pareceu-me demasiado trabalho. Portanto, continuei a receber os emails. E, garantidamente, agora faço o acompanhamento: ' hey, vais falar com a tua professora sobre aquele trabalho? Manda-lhe um email se não conseguires falar com ela hoje' (tenho a certeza que o meu filho adora isto). Apesar da minha aversão inicial, os emails parecem estar a funcionar".
Este é o testemunho de David Evans, economista chefe da delegação do Banco Mundial para África foi publicado, no início de janeiro, no blog desta instituição internacional. E serviu para lançar uma discussão mais alargada sobre o impacto da informação regular que a escola pode ou deve dar aos pais e que não seja apenas a tradicional reunião trimestral sobre avaliação ou as chamadas de atenção nas cadernetas escolares (sobretudo para os mais novos).
O que vários estudos indicam é que, efetivamente, o desempenho escolar de crianças e jovens melhora se os pais tiverem informação regular por parte da escola e dos professores. Porquê? Aparentemente porque, de uma forma geral, os pais têm uma ideia enviesada sobre o real desempenho escolar dos filhos: pensam, por exemplo, que falham menos trabalhos ou que falta a menos aulas do que aquilo que acontece na prática.
David Evans decidiu aprofundar alguma informação sobre este tema e resolveu abordar Peter Bergman, professor no Teachers College, e autor de um ensaio intitulado "Parent-Child Information Frictions and Human Capital Investment: Evidence from a Field Experiment Investment.” Este ensaio chama à diferença entre a ideia que os pais fazem e a realidade dos filhos "fricções de informação". "Uma amostra de pais recebeu informação detalhada, duas vezes por semana, sobre os trabalhos que os seus filhos não tinham feito e sobre as avaliações. Descobri que os pais tinham uma convicção enviesada - e melhorada - sobre os esforços fetos pelos filhos. Ao dar mais informação atenua-se esse enviesamento e melhora-se o desempenho dos alunos", escreve Peter Bergman.
O estudo teve por base um grupo de centenas de alunos de escolas públicas de Los Angeles e muitas das famílias envolvidas eram de baixo rendimento. Também é curioso assinalar que a maioria dos pais (79%) escolheu as mensagens de texto para o telemóvel como forma de contacto preferida.
Mais do que nas notas de avaliação, o impacto fez-se sentir nas actividades escolares. Houve um aumento de 25% nos trabalhos entregues e a probabilidade de falta de hábitos de trabalho e de cooperação baixou 24% e 25%, respetivamente. No que respeita às faltas às aulas, baixaram 28%.
Para a escola e para os professores este tipo de comunicação implica novas rotinas. "Contactar os pais por mensagem de texto, telefonema ou email demora aproximadamente três minutos por aluno. Angariar os contactos e mantê-los acrescenta mais cinco minutos por estudante, em média", detalhou Peter Bergman. É importante dizer que neste grupo-alvo, os professores são pagos por este tempo extra de trabalho: o valor varia por distrito e de acordo com a característica de cada professor mas estima-se, em média, 40 dólares/hora.
Além do estudo de Peter Bergman, outras investigações semelhantes têm sido feitas noutras partes do globo, como é o caso deste trabalho realizado no Chile ou deste em Filadélfia. A evidência parece ser a mesma: uma comunicação regular, quase diária, com os pais pode ser aborrecida, para pais e filhos, no início, mas ao que tudo indica tem bons resultados para todas as partes.
Comentários