“Até ao momento, não temos razões para nos preocuparmos, até porque o presidente da Porto Vivo – Sociedade de Reabilitação Urbana (SRU) já disse que não aprovará nada sem o aval da autarquia, o que me parece muito bem. Creio que estamos no bom caminho”, afirmou o autarca independente, Rui Moreira, na reunião camarária pública.
O independente notou que o projeto da Time Out, que no início de 2017 teve outra versão contestada e acabou suspenso pela empresa, vai ser “avaliado à luz do Plano Diretor Municipal (PDM) e de um conjunto de constrangimentos em relação ao que lá se pretende fazer”, por se tratar de uma estação histórica e inserida na zona classificada como Património da Humanidade.
“Não nos devemos precipitar, para não optar por medidas proibicionistas em relação a algo que não conhecemos. Sei que a SRU [detida em 60% pelo Estado mas em processo de municipalização] nada aprovaria sem o aval da Câmara. Foi dito que mal o projeto chegasse à SRU seria entregue à Câmara”, informou Rui Moreira, perante as questões da oposição.
O BE revelou na semana passada ter dirigido uma pergunta ao Ministério da Cultura sobre o que diz ser uma torre com seis pisos e mais de 18 metros de altura proposta pelo arquiteto Eduardo Souto de Moura para a área da estação.
Ao jornal Público, João Cepeda, responsável da Time Out pela expansão do conceito inaugurado em Lisboa com o Mercado da Ribeira, desmentiu que a torre tenha essa altura, mas preferiu não divulgar a proposta.
Hoje, o tema foi levantado na reunião da Câmara do Porto pelo socialista Manuel Pizarro, de acordo com quem as notícias veiculadas sobre o tema “pecam por ser pouco exageradas”, porque a dimensão em causa “não são os tais 18 metros”.
“O que está no projeto tem mais de 20 metros de altura”, notou.
Pizarro criticou o “secretismo” em torno do projeto, destacando que a Câmara “não pode ficar à margem” do processo nem o pode avaliar apenas “à luz do PDM”.
“É preciso também ter em conta o impacto que não é diretamente mensurável. Está em causa saber se a cidade quer uma intervenção profunda em São Bento, para cafés, bares e restaurantes”, frisou o socialista.
Rui Moreira recordou que, no fim de 2016, a Câmara foi “surpreendida” com “a construção de um hostel à revelia da autarquia e da SRU”, pelo que não deixará de olhar “com atenção” para esta matéria.
Ilda Figueiredo, da CDU, disse estar “profundamente contra” uma intervenção para instalar “um centro comercial” na estação centenária, “uma das mais importantes marcas identitárias da cidade”.
“Não vou embarcar numa conversa demagógica sobre algo que não conhecemos. Não acredito que Souto Moura algum dia pense em instalar um centro comercial na estação de São Bento”, respondeu Rui Moreira.
A 5 de outubro de 2016, quando se assinalou o centenário da inauguração da Estação de São Bento, o ministro do Planeamento anunciou que seriam instalados no edifício um hostel, um mercado “Time Out”, uma loja “Starbucks”, um café, 15 restaurantes, quatro bares e uma galeria de arte, a concluir até finais de 2017.
A Câmara do Porto disse, então, desconhecer qualquer projeto e, uns dias depois, a SRU embargou a obra de um hostel que avançava sem o devido licenciamento.
O alvará de obra do hostel na ala norte da estação acabou por ser concedido após a apresentação do pedido de licenciamento, mas a Câmara do Porto alertou que “não prescindia” de se pronunciar sobre o projeto da Time Out, por estar em causa um edifício classificado.
O projeto foi arquivado pela SRU em janeiro de 2017, depois de a Time Out pedir a suspensão da apreciação do pedido de informação prévia relativo a um mercado com 2.200 metros quadrados, 500 lugares, 15 restaurantes, quatro bares, quatro lojas, uma cafetaria e uma galeria de arte.
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