A semana passada foi conhecido que o espanhol ABanca acordou comprar o negócio de retalho do alemão Deutsche Bank em Portugal, sem ser conhecido o montante da compra, e que a operação deverá estar concluída no primeiro semestre de 2019 (após as aprovações dos reguladores).

Num encontro com jornalistas, hoje em Lisboa, o principal acionista e também presidente do ABanca, Juan Carlos Escotet, também não quis revelar o valor do negócio, justificando com a confidencialidade que lhes foi pedida.

Segundo Escotet, que é também o dono do banco venezuelano Banesco (um dos maiores daquele país), o ABanca já vinha procurando oportunidades no mercado português e a compra da operação do alemão Deutsche Bank agora faz “muito sentido”, uma vez que Portugal atravessa uma fase de crescimento económico e de redução do desemprego que, pelas estimativas do banco, se deverá manter.

Quanto ao negócio, disse que o ABanca - com a operação do Deutsche Bank integrada - quer crescer no negócio com empresas, aumentando a concessão de crédito, e na banca ‘private’ (destinada a clientes com altos rendimentos).
“Queremos aumentar o negócio de crédito, aproveitando o excedente de liquidez que a instituição tem”, afirmou.

O banco quer também aumentar o crédito ao consumo, depois de em 2017 ter adquirido o Popular Servicios Financieros, e a venda de produtos de seguros, acrescentou.

Até agora, o ABanca (que resultou da fusão de caixas da região espanhola da Galiza) tinha em Portugal 45 trabalhadores e apenas quatro agências (Braga, Lisboa, Porto e Viana do Castelo), focando-se nas pequenas e médias empresas. Algumas dessas empresas são fornecedoras do grupo Inditex (dono da Zara, Pull and Bear, Massimo Dutti, Bershka, entre outras), uma vez que este conglomerado espanhol de empresas têxteis trabalha com o ABanca em Espanha.

A este pequeno negócio somar-se-ão agora 41 agências e 330 funcionários do negócio de retalho do Deutsche Bank.
Escolet recusou hoje cortes nos postos de trabalho, afirmando que o ABanca precisará de todos para manter e reforçar o negócio em Portugal. “Os trabalhadores vão manter-se”, disse.

O Abanca tem 627 balcões em Espanha e mais de 4.600 colaboradores e diz ser mesmo o líder no Noroeste do país. O banco, que é supervisionado diretamente pelo Banco Central Europeu (BCE), tem ainda presença em França, Suíça, Alemanha, Reino Unido, México, Panamá, Venezuela e Brasil, além de Portugal.

O ABanca resultou de uma intervenção na caixa Novaalicia (que já era resultado de uma fusão da Caixanova e da Caixa Galicia). Em 2011, para evitar a falência, o banco foi nacionalizado e o o fundo de resolução bancário espanhol interveio com 10 mil milhões de euros.

O banco entrou posteriormente em processo de privatização e, em final de 2013, o banqueiro venezuelano de origem espanhola Juan Carlos Escotet (que fundou o Banesco na Venezuela, hoje um dos maiores bancos do país) comprou o banco por cerca de 1.000 milhões de euros, criando o ABanca.

Também em 2013, o Banesco comprou o Banco Etcheverría, que era o mais antigo banco de Espanha, fundado em 1717, que agora pertence ao Abanca.

Sobre o futuro do ABanca, Escotet disse hoje que o grupo está a “entrar numa fase de crescimento inorgânico”, em que poderá reforçar-se por aquisições.

Afirmou ainda que há a possibilidade de o banco passar a ser cotado em bolsa no prazo de três anos, quando as taxas de juro subirem, mas vincou que, mesmo nesse caso, o capital a dispersar em bolsa seria minoritário, mantendo o controlo da entidade.

Em 2017, o ABanca teve lucros de 367 milhões de euros, um aumento de 10% em relação a 2016.
No final do ano passado, um dirigente chavista (Diosdado Cabello) falou na possibilidade de nacionalizar o Banesco.
Juan Carlos Escotet recusou hoje comentar este tema. Disse apenas que são entidades distintas o Banesco e o Abanca.

Segundo o Bloomberg Billionaires Index, citado pela EFE, Escotet é o único venezuelano entre os 500 homens mais ricos do mundo.

No encontro hoje com jornalistas portugueses, estiveram também presentes, o administrador delegado do Abanca (presidente executivo), Francisco Botas, e o gerente da operação do ABanca em Portugal, Pedro Pimenta.

Ainda com a compra do Deutsche Bank PCC Portugal, o ABanca soma ao negócio que já tem uma carteira de crédito bruta de 2.400 milhões de euros, 1.000 milhões de euros em depósitos e 3.100 milhões euros fora do balanço, números que lhe permitem ter um volume de negócios de 6.500 milhões de euros. Terá ainda mais 50.000 clientes.

O grupo alemão Deutsche Bank tem vindo a desfazer-se de várias operações no estrangeiro. Em dezembro passado foi conhecido que os espanhóis do Santander ficaram com operações do Deutsche Bank na Polónia, um negócio a que também tinha concorrido o banco português BCP.

Mesmo com a venda da operação de retalho ao ABanca, o Deutsche Bank vai manter uma presença em Portugal, através da sucursal Deutsche Bank Portugal, que desenvolverá atividade ao nível da banca corporativa e de investimento, incluindo com serviços bancários a empresas nacionais e estrangeiras e ao Estado.