Em causa, diz o estado do Missouri, está a forma como a China lidou com o surto de covid-19, que surgiu em Wuhan e se propagou, causando assim danos económicos e humanos “irreparáveis” no estado norte-americano e no mundo.

De Pequim uma reação: "Nada menos do que absurdo", disse um porta-voz do Ministério dos negócios Estrangeiros da China, acrescentando que a acusação não tem base legal.

O processo judicial, a cargo do procurador-geral republicano Eric Schmitt deu entrada num tribunal federal e, entre outras acusações, alega que a China foi negligente na forma como lidou com o vírus que o surto que mais tarde se transformou numa pandemia.

"O governo chinês mentiu ao mundo sobre o perigo e a natureza contagiosa do covid-19, silenciou pessoas que alertaram para o vírus e fez pouco para travar a propagação da doença", diz Schmitt.

Segundo o procurador, as dissimulações de que acusa a China geraram “uma pandemia mundial inútil e evitável” que causou mortos e consequências económicas significativas, com perdas de pelo menos vários milhares de milhões de dólares no Missouri, de acordo com documentos legais.

"Eles devem ser responsabilizados pelas suas ações", concluiu.

A retórica contra a China tem aumentado. Depois de acusar a Organização Mundial de Saúde (OMS) de ser pró-China e de administrar mal o combate contra a pandemia de covid-19 — levando mesmo à suspensão do financiamento norte-americano à organização  — Trump alertou  no passado sábado a China para as possíveis consequências se for provado que este país foi "conscientemente responsável" pela pandemia da covid-19.

“Podia ter sido impedida antes de ter começado e não foi”, disse Donald Trump durante a conferência de imprensa diária na Casa Branca. “E agora o mundo inteiro está a sofrer por causa disso”, salientou.

Questionado sobre se a China devia sofrer consequências por causa do surto, que surgiu em dezembro na cidade chinesa de Wuhan, Trump disse: “Se foram conscientemente responsáveis, certamente. Se foi um erro, um erro é um erro. Mas se foram conscientemente responsáveis, sim, então devia haver consequências”.

“Foi um erro incontrolado ou foi um erro deliberado? Há uma grande diferença. Em ambos os casos, deviam ter-nos avisado”, acrescentou.

O Presidente norte-americano disse esperar para ver o que a investigação chinesa vai concluir, adiantando que os Estados Unidos estão também a fazer investigações.

A administração Trump disse ainda não poder excluir a possibilidade de o novo coronavírus ter sido espalhado acidentalmente a partir de um laboratório de investigação de morcegos em Wuhan.

Pequim já tinha rejeitado na segunda-feira um pedido de uma investigação independente ao modo como a situação do vírus foi gerida pelas autoridades chinesas, feito pela chefe da diplomacia da Austrália, Marise Payne.

O Missouri é o primeiro estado a avançar judicialmente contra a China, mas não foi o primeiro a ter esta ideia: Pequim enfrenta um processo similar nos EUA levantado por empresários.

Segundo a Reuters, que consultou especialistas em direito internacional, é provável que os esforços para responsabilizar a China não tenham sucesso. A lei prevê imunidade a governos estrangeiros, que não podem ser julgados nos Estados Unidos, explica Tom Ginsburg, professor da Universidade de Chicago.

Todavia, a questão é mais política do que prática — quer de ponto de vista externo, quer do ponto de vista interno, ou não fossem os Estados Unidos ter eleições presidenciais este ano.

"Estamos a ver várias pessoas na ala conservadora da direita a focarem-se na China para encobrir os erros do próprio governo norte-americano", diz Ginsburg.

É de referir que Trump começou por minimizar a severidade deste coronavírus, tendo depois sido obrigado a tomar medidas mais duras face aos mais de 800 mil infetados e 45 mil óbitos que se registam até agora.

Só no Missouri, mais de 5.800 pessoas foram contagiadas e registam-se pelo menos 177 mortos, segundo as autoridades locais.

A pandemia de covid-19 já matou quase 178 mil pessoas e há mais de 2,5 milhões de infetados em todo o mundo, desde que surgiu em dezembro na China, segundo um balanço da AFP às 11:00.

De acordo com os dados da agência de notícias francesa, a partir de dados oficiais, foram registadas 177.822 mortos e mais de 2.571.880 infetados em 193 países.
Pelo menos 583.000 foram consideradas curadas pelas autoridades de saúde.

Os Estados Unidos, que registaram a primeira morte ligada ao coronavírus no final de fevereiro, lideram em número de mortos e casos, com 45.075 mortos para 825.306 casos.

Pelo menos 75.673 pessoas foram declaradas curadas pelas autoridades de saúde nos Estados Unidos.

Depois dos Estados Unidos, os países mais afetados são Itália, com 24.648 mortes em 183.957 casos, Espanha com 21.717 óbitos (208.389 casos), França com 20.796 (158.050 casos) e Reino Unido com 17.337 mortos (129.044 casos).

A China (excluindo os territórios de Hong Kong e Macau), onde a epidemia começou no final de dezembro, contabilizou 82.788 casos (30 novos entre terça-feira e hoje), incluindo 4.632 mortes e 77.151 curados.

Até às 11:00 de hoje, a Europa totalizou 110.522 mortes para 1.248.469 casos, Estados Unidos e Canadá 46.985 mortes (863.728 casos), Ásia 7.372 mortes (176.914 casos), Médio Oriente 5.886 mortes (134.870 casos), América Latina e Caraíbas 5.767 mortes (115.347 casos), África 1.195 mortes (24.611 casos) e Oceânia 95 mortes (7.942 casos).

A AFP alerta que o número de casos diagnosticados reflete apenas uma fração do número real de infeções, já que um grande número de países está agora a testar apenas os casos que requerem atendimento hospitalar.