“Os Açores acabam por ganhar protagonismo e importância, em virtude da transferência geoestratégica no Atlântico Norte dos ingleses para os americanos”, salientou, em declarações à Lusa, o historiador que lança este sábado, em Angra do Heroísmo, o livro “A Grande Guerra nos Açores: Património e Memória Militar”.
Segundo o investigador da Universidade dos Açores e do Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa, desde o início da Primeira Guerra Mundial que os comandantes militares dos Açores perceberam que a estratégia alemã passava pelo reabastecimento pelo mar, no Atlântico Norte, mas apesar dos sucessivos apelos o ainda jovem Governo da Primeira República não reforçou os meios para o arquipélago.
“Mesmo com o cabo submarino, as respostas são lentas, tardias ou não existem e quando existem são por intensa pressão. O material que nos vem em 1916 estava a ser pedido desde 1914 e quando chega é material de transição, antigo e obsoleto. Chegou a ser ridicularizado pelos órgãos de comunicação social, porque as granadas ficavam a meio do caminho”, revelou.
Segundo Sérgio Rezendes, por um lado, o país enfrentava “problemas gravíssimos”, com instabilidade política, social e económica, e, por outro, os Açores não eram uma prioridade.
“Até à chegada dos americanos, o verdadeiro arquipélago que importava a Portugal não era os Açores, nem mesmo a Madeira, era Cabo Verde. Cabo Verde é que era a menina dos olhos do governo central, porque era Cabo Verde que estava no centro do regresso das embarcações mercantes que vinham das colónias ultramarinas, nomeadamente Angola e Moçambique”, explicou.
Os Açores tinham material obsoleto e com a entrada de Portugal na guerra passam a ter três ilhas em situação vulnerável: São Miguel e Faial, pelos seus portos atlânticos, e a Terceira, onde foi criado um depósito de prisioneiros alemães.
Os receios dos militares do arquipélago confirmaram-se a 04 de julho de 1917, com um ataque de um submarino alemão a Ponta Delgada, que “apenas foi salva devido à intervenção de um navio americano que estava no porto”.
Segundo o historiador micaelense, este ataque “vai não só expor a vulnerabilidade da defesa das ilhas, como a flagrante incapacidade de controlar e policiar o mar dos Açores”.
Entre 1914 e 1915, o patrulhamento do mar dos Açores foi assegurado pela marinha inglesa, que acabou por desviar meios para a costa britânica, com o levantar do confronto no mar do Norte.
“Sem o conhecimento do Estado português”, os ingleses cedem essa missão de patrulhamento aos Estados Unidos e cerca de uma semana e meia depois do bombardeamento instalam-se no porto de Ponta Delgada navios norte-americanos, causando “algum desconforto” nas autoridades portuguesas civis e militares.
Em novembro de 1917, é feito o pedido oficial e é criada a primeira base aéreo-naval dos Marines fora dos Estados Unidos, em Ponta Delgada.
Apesar da ajuda dos norte-americanos e do então criado Alto-Comissariado da República para os Açores, a população das ilhas enfrentou muitas dificuldades até ao final da guerra.
A presença de submarinos no mar dos Açores afastou as embarcações privadas que transportavam bens alimentares e a falta de concorrência fez aumentar os preços.
Para além da fome, os Açores foram afetados por um surto de gripe espanhola, que matou menos de 3.000 pessoas no espaço de um mês.
O livro apresentado este sábado resulta de cerca de 18 anos de pesquisa de Sérgio Rezendes e de uma tese de mestrado defendida em 2008.
A primeira versão, editada em 2014, foi selecionada pelo Centro República como parte integrante de uma coleção de teses sobre a Primeira República.
A importância da posição geoestratégica dos Açores é reforçada com a Primeira Guerra Mundial, que levou à criação da primeira base aeronaval norte-americana fora dos Estados Unidos, em Ponta Delgada, segundo o historiador Sérgio Rezendes.
“Os Açores acabam por ganhar protagonismo e importância, em virtude da transferência geoestratégica no Atlântico Norte dos ingleses para os americanos”, salientou, em declarações à Lusa, o historiador que lança este sábado, em Angra do Heroísmo, o livro “A Grande Guerra nos Açores: Património e Memória Militar”.
Segundo o investigador da Universidade dos Açores e do Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa, desde o início da Primeira Guerra Mundial que os comandantes militares dos Açores perceberam que a estratégia alemã passava pelo reabastecimento pelo mar, no Atlântico Norte, mas apesar dos sucessivos apelos o ainda jovem Governo da Primeira República não reforçou os meios para o arquipélago.
“Mesmo com o cabo submarino, as respostas são lentas, tardias ou não existem e quando existem são por intensa pressão. O material que nos vem em 1916 estava a ser pedido desde 1914 e quando chega é material de transição, antigo e obsoleto. Chegou a ser ridicularizado pelos órgãos de comunicação social, porque as granadas ficavam a meio do caminho”, revelou.
Segundo Sérgio Rezendes, por um lado, o país enfrentava “problemas gravíssimos”, com instabilidade política, social e económica, e, por outro, os Açores não eram uma prioridade.
“Até à chegada dos americanos, o verdadeiro arquipélago que importava a Portugal não era os Açores, nem mesmo a Madeira, era Cabo Verde. Cabo Verde é que era a menina dos olhos do governo central, porque era Cabo Verde que estava no centro do regresso das embarcações mercantes que vinham das colónias ultramarinas, nomeadamente Angola e Moçambique”, explicou.
Os Açores tinham material obsoleto e com a entrada de Portugal na guerra passam a ter três ilhas em situação vulnerável: São Miguel e Faial, pelos seus portos atlânticos, e a Terceira, onde foi criado um depósito de prisioneiros alemães.
Os receios dos militares do arquipélago confirmaram-se a 04 de julho de 1917, com um ataque de um submarino alemão a Ponta Delgada, que “apenas foi salva devido à intervenção de um navio americano que estava no porto”.
Segundo o historiador micaelense, este ataque “vai não só expor a vulnerabilidade da defesa das ilhas, como a flagrante incapacidade de controlar e policiar o mar dos Açores”.
Entre 1914 e 1915, o patrulhamento do mar dos Açores foi assegurado pela marinha inglesa, que acabou por desviar meios para a costa britânica, com o levantar do confronto no mar do Norte.
“Sem o conhecimento do Estado português”, os ingleses cedem essa missão de patrulhamento aos Estados Unidos e cerca de uma semana e meia depois do bombardeamento instalam-se no porto de Ponta Delgada navios norte-americanos, causando “algum desconforto” nas autoridades portuguesas civis e militares.
Em novembro de 1917, é feito o pedido oficial e é criada a primeira base aéreo-naval dos Marines fora dos Estados Unidos, em Ponta Delgada.
Apesar da ajuda dos norte-americanos e do então criado Alto-Comissariado da República para os Açores, a população das ilhas enfrentou muitas dificuldades até ao final da guerra.
A presença de submarinos no mar dos Açores afastou as embarcações privadas que transportavam bens alimentares e a falta de concorrência fez aumentar os preços.
Para além da fome, os Açores foram afetados por um surto de gripe espanhola, que matou menos de 3.000 pessoas no espaço de um mês.
O livro apresentado este sábado resulta de cerca de 18 anos de pesquisa de Sérgio Rezendes e de uma tese de mestrado defendida em 2008.
A primeira versão, editada em 2014, foi selecionada pelo Centro República como parte integrante de uma coleção de teses sobre a Primeira República.
Comentários