Luís Pina descreveu hoje aos juízes o que se passou horas antes do jogo Benfica-Sporting, que aconteceu em 21 de abril de 2017, começando por explicar que tinha ido ao estádio “por volta das 19:30/20:00” levantar os bilhetes para o jogo, “mas, como estava muita gente”, deixou os cartões de sócio e voltou já depois da 01:00.
“Só me apercebi que estava muita gente já na rotunda. Foi lá que apareceram à frente do carro, tentei assustá-los, guinei, mas numa questão de segundos aconteceu a fatalidade”, explicou Luís Pina, referindo que o seu carro tinha sido atacado com pedras e barras de ferro, pelo que só tinha visibilidade se estivesse “inclinado para o lado direito, por cima das mudanças”.
Marco Ficini pertencia à claque do clube italiano Fiorentina 'O Club Settebello', era adepto do Sporting e morreu após um atropelamento e fuga junto ao Estádio da Luz, na sequência de confrontos ocorridos na madrugada de 22 de abril.
Durante os confrontos e perseguições entre adeptos do Sporting e do Benfica, Luís Pina, de 35 anos e com ligações à claque do Benfica 'No Name Boys', atropelou mortalmente Ficini, “arrastando o corpo por 15 metros”, imobilizando o carro só “depois de ter passado completamente por cima do corpo da vítima”, descreve a acusação, acrescentado que o arguido abandonou o local “sem prestar qualquer auxílio”.
Hoje, Luís Pina explicou que teve de deixar o carro no meio da confusão, perto da rotunda, porque o estavam a atacar e “teve medo”.
Disse ainda que, quando fugiu na direção da ‘casinha’ dos bilhetes do Benfica, alguém o perseguiu, mas, pouco depois, essa pessoa desistiu e voltou a correr para a rotunda.
“Eu também corri depois, mas na direção do meu carro, queria sair dali, tirar o meu carro da confusão”, explicou, acrescentando: “entrei no carro, no momento em que acelerei sinto que passei em cima de alguma coisa – fez tumtumtum - e bato num carro cinzento que ia à minha frente”.
“Foi uma questão de segundos. Para mim só tinha batido no carro. Parei mais para cima e sai do carro, vi um indivíduo a dizer que achava que eu tinha feito asneira e para desaparecer dali. Fiquei em pânico”, continuou.
O advogado de Luís Pina, Melo Alves, pediu alguma calma no tom das perguntas do coletivo de juízes ao cliente, referindo que ele era uma pessoa “com algumas limitações”.
Luís Pina reconheceu em tribunal que só soube que tinha passado por cima de uma pessoa de manhã, pelas notícias, depois de ter passado a noite no sofá.
Questionado por um dos juízes sobre o que era para si pânico, Luís Pina referiu que era estar “super assustado”.
Entre outras perguntas, a procuradora do Ministério Público questionou Luís Pina acerca da carrinha BMW em que terá batido e se, na altura em que esta se encontrava à sua frente, viu alguma porta a abrir-se ou alguém a correr na sua direção.
Às duas questões Luis Pina respondeu que não: “Só senti o impacto e o estrondo”.
Na quarta sessão que decorreu durante a manhã, foi ouvido novamente o consultor técnico Rui Silva, testemunha da defesa, que esteve a analisar as imagens apresentadas na última sessão.
Hoje, Rui Silva disse em tribunal que as imagens que ainda não tinha analisado “corroboram tudo aquilo que disse anteriormente”.
A procuradora questionou Rui Silva quanto à possibilidade de o primeiro embate em Ficino ter sido feito pelo BWM que seguia à frente do Renault Clio de Luís Pina, ao que o perito respondeu “estar afastada essa hipótese”.
Para a tarde estão previstas as alegações finais.
O Ministério Público acusou, em outubro de 2017, 22 arguidos (10 adeptos do Benfica com ligações aos ‘No Name Boys’ e 12 adeptos do Sporting da claque ‘Juventude Leonina’) do atropelamento mortal de Ficini.
Luís Pina está acusado do homicídio de Marco Ficini e de outros quatro homicídios, na forma tentada, enquanto os restantes arguidos estão acusados de participação em rixa, dano com violência e omissão de auxílio.
Em 16 de abril de 2018, o Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa decidiu levar a julgamento Luís Pina pelo homicídio do italiano.
Ainda na fase de instrução, o homem acusado de atropelar mortalmente o adepto italiano disse que "nunca teve intenção" de atropelar e “muito menos matar um ser humano”, pedindo para não ir a julgamento, o que não veio a verificar-se.
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