“Não basta apenas ter material são necessários recursos humanos especializados e, neste momento, operamos em todas as instituições do SNS em condições inferiores ao necessário, prestamos cuidados sub-ótimos em enfermarias gerais que evidentemente vão ter consequências sobre a saúde de todos os doentes que nos procuram”, afirmou Alexandre Lourenço numa audição na Comissão Eventual para o acompanhamento da aplicação das medidas de resposta à pandemia da doença covid-19 e do processo de recuperação económica e social.

“Passados dez meses a respondermos a esta pandemia, quantas unidades de cuidados intensivos estão ainda por construir por atrasos devido a problemas de contratação pública, quantos profissionais poderíamos ter contratado de forma estável e não precária, quanto profissionais podíamos ter treinado, quantas camas temos disponíveis para doentes com covid-19 no setor público e no setor privado”, questionou.

Alexandre Lourenço afirmou que já em maio se tinha percebido a descoordenação de meios através de respostas unilaterais e a pressão desajustada sobre os hospitais Fernando da Fonseca (Amadora-Sintra) e Beatriz Ângelo, em Loures, em detrimento de uma resposta em rede diluída por vários hospitais.

“Desde junho, que alertamos para a necessidade de termos um plano concreto de respostas para o período outono-inverno e não um enunciado de intenções”, sublinhou.

“Chegamos ao dia de hoje e ainda observamos a coordenação de meios hospitalares e extra-hospitalares” que “ainda está longe do razoável”, disse Alexandre Lourenço, aludindo a uma carta de vários hospitais de Lisboa.

Para o presidente da APAH, devem ser previstas medidas específicas face aos diferentes cenários nos hospitais, lembrando que os hospitais têm os seus planos de contingência desde o início de setembro, mas que neste momento foram todos ultrapassados.

“Os hospitais devem ter autonomia na sua resposta operacional, mas se não participam ativamente no desenvolvimento de cenários e planeamento da resposta apenas por mera sorte podem acertar”, sublinhou.

Alexandre Lourenço lembrou as palavras que um colega há poucos dias lhe disse: “fizemos tudo o que pudemos, não posso pedir mais aos nossos profissionais” e defendeu que “as respostas agora estão fora do hospital”.

Dirigindo-se aos deputados, afirmou que “o limite de recursos não depende apenas dos hospitais públicos, nem mesmo dos hospitais privados, depende um conjunto de estratégias hospitalares e daí ser exigida uma coordenação nacional de meios, como em qualquer situação de catástrofe”.

“Como sempre dissemos, o colapso da rede hospitalar não é nem nunca foi, nem nunca poderia ter sido uma inevitabilidade”, vincou.

No final, Alexandre Lourenço agradeceu a todos profissionais de saúde, afirmando que “não mereciam trabalhar nestas condições”.

“A pandemia covid-19 exige demasiado de todos nós, aos responsáveis políticos cabe a difícil tarefa de liderar, incluindo a humildade necessária na hora de assumir responsabilidades”, salientou.