Merkel emitiu estas declarações numa comparência perante a imprensa convocada de urgência para avaliar a situação no Afeganistão, de onde a Alemanha está a tentar, apesar do caos que reina desde que os talibãs entraram no domingo em Cabul, retirar os seus cidadãos e os afegãos que colaboraram durante anos com as suas tropas e pessoal diplomático.

“Todos – e por isso também assumo a minha responsabilidade — avaliámos erradamente a situação. Toda a comunidade internacional deu como certo que poderíamos prosseguir com a ajuda ao desenvolvimento” no Afeganistão, afirmou.

A chanceler classificou os acontecimentos dos últimos dias, que culminaram com a tomada de Cabul pelos talibãs, como “amargos, dramáticos e horríveis”, considerando que a intervenção internacional além das operações antiterroristas foi “um esforço sem êxito”.

Segundo Merkel, a intervenção dos Estados Unidos e seus aliados durante quase 20 anos no Afeganistão fez com que atualmente não se possa preparar naquele país um atentado terrorista como o de 11 de Setembro de 2001.

No entanto, todos os esforços internacionais para criar um Estado democrático e de direito “não foram conseguidos como nós o tínhamos proposto”.

É uma “lição amarga” para milhões de afegãos que apostaram numa “sociedade livre”, em “democracia, educação e direitos das mulheres”, observou.

A chefe do executivo alemão indicou que, além dos cidadãos nacionais no país, Berlim está a trabalhar para retirar todos os afegãos que colaboraram com o exército e a polícia alemães, um grupo de cerca de 2.500 pessoas, 1.900 das quais já se encontram na Alemanha e noutros países.

“Faremos tudo o que estiver ao nosso alcance para os retirar do país”, assegurou.

Merkel sublinhou que a tomada de poder pelos talibãs no Afeganistão gerará uma onda de refugiados e que será preciso ajudar os países vizinhos para estabilizar a situação e não desencadear uma crise de migrantes como em 2015.

Por isso, adiantou que os líderes da União Europeia deverão reunir-se num conselho europeu extraordinário para acordar como ajudar os países vizinhos do Afeganistão.

A chegada dos talibãs a Cabul no domingo precipitou a saída do país do Presidente afegão, Ashraf Ghani, após terem tomado o controlo de 28 das 34 capitais provinciais em dez dias, e sem grande resistência das forças de segurança governamentais, no âmbito de uma grande ofensiva iniciada em maio — altura em que começou a retirada das tropas norte-americanas e da NATO do país, que deverá ficar concluída no final deste mês.

Um porta-voz do movimento islâmico radical, que governou no Afeganistão entre 1996 e 2001, disse no domingo à televisão pública britânica BBC que os talibãs pretendem assumir o poder no Afeganistão “nos próximos dias”, através de uma “transição pacífica”, 20 anos após terem sido derrubados por uma coligação liderada pelos Estados Unidos, pela sua recusa em entregar o líder da Al-Qaida, Osama bin Laden, após os atentados de 11 de setembro de 2001.

Hoje, numa mensagem de vídeo, o ‘mullah’ Baradar Akhund, chefe do gabinete político talibã no Qatar, fez a primeira declaração pública de um líder talibã após a conquista do país, anunciando o fim da guerra no Afeganistão, com a vitória dos talibãs, após a fuga no domingo do Presidente Ghani, e a tomada de Cabul.

Com a partida de Ghani, um grupo de líderes políticos formou o Conselho de Coordenação para a transição de poder para os talibãs, composto pelo ex-presidente afegão Hamid Karzai, o presidente do Alto Conselho para a Reconciliação, Abdullah Abdullah, e o líder do partido Hizb-e-Islami e antigo senhor da guerra, Gulbuddin Hekmatyar.

No entanto, os talibãs não forneceram, até agora, informações sobre como funcionará o processo de transição ou a tomada do poder.