“O futuro de um país não deve depender ou estar ligado a uma única pessoa. Devemos investir em criar Estados e instituições democráticas fortes, porque só elas podem garantir a segurança, a liberdade e a ordem. Quando temos instituições fracas, a democracia fracassa e caímos ou na anarquia ou na ditadura”, disse Mahamadou Issoufou.
O ex-presidente do Níger, que falava numa conversa com o empresário e filantropo sudanês Mohamed Ibrahim no último dia do Ibrahim Governance Weekend 2021, apontou esta como a “grande lição” a tirar dos acontecimentos recentes no país vizinho Chade.
O Chade está sob escrutínio da comunidade internacional, que ameaçou a imposição de sanções, depois de uma junta militar ter substituído o Presidente Idriss Déby Itno, alegadamente morto numa batalha com os rebeldes em abril último, pelo seu filho Mahamat Idriss Déby, que demitiu o governo, dissolveu o parlamento e revogou a Constituição do país.
“O Chade tem um papel central na luta contra o terrorismo na região do Sahel e na região do Lago Chade, batendo-se ao lado de outros exércitos naquelas regiões. O desaparecimento do Presidente Idriss Déby Itno é uma verdadeira tragédia que pode destabilizar o Chade e ampliar os problemas de segurança nas duas regiões”, estimou Mahamadou Issoufou.
O ex-chefe de Estado do Níger considerou que a situação de segurança no Sahel e no seu próprio país “continua muito difícil” mais de uma década depois da intervenção internacional na Líbia, que, considerou, “ampliou grandemente” as ameaças que pesavam sobre aquela região.
Aos desafios de segurança somaram-se nos últimos anos, segundo Mahamadou Issoufou, os problemas demográficos e de desenvolvimento económico e social, agravados pela baixa no preço das matérias-primas.
“O Sahel e todos os países africanos devem ser dotados de instituições democráticas fortes. São elas que permitirão fazer face aos desafios que enfrentamos hoje”, sublinhou.
O político e engenheiro nigerino abordou também, durante a conversa com o anfitrião do evento, o impacto da pandemia de covid-19 nos países africanos, considerando que a solidariedade mundial na resposta “foi insuficiente”.
Destacando das desigualdades na vacinação entre os países africanos e o resto do mundo, Mahamadou Issoufou defendeu que África, que importa mais de 95% dos seus medicamentos, “não pode voltar a ficar dependente da boa vontade dos outros”, devendo avançar com a produção das suas próprias vacinas.
Mahamadou Issoufou, que deixou a presidência do Níger em abril após dois mandatos de cinco anos, foi o vencedor da edição de 2020 do Prémio Ibrahim para a Excelência na Liderança Africana.
O ex-presidente nigerino é a sexta individualidade galardoada com o galardão, que visa distinguir líderes excecionais que, durante o seu mandato, tenham desenvolvido os seus países, reforçado a democracia e protegido o Estado de Direito em benefício das populações.
Questionado sobre se não pensou promover alterações na Constituição para se manter no poder ou de nomear um filho como sucessor, situações de que há vários exemplos no continente africano, Mahamadou Issoufou contrapôs que “a política faz-se com valores”.
“Estou convencido que a política é uma questão de valores e, por isso, fixei como objetivo a modernização política do Níger para que esses valores sejam cumpridos”, disse.
“Nunca me passou pela cabeça que pudesse ser substituído por um dos meus filhos ou que pudesse eternizar-me no poder como o fazem outros chefes de Estado, triturando a Constituição. Tem de haver confiança na política e em instituições fortes que possam proteger os nossos países da instabilidade”, acrescentou.
A conversa entre O ex-presidente do Níger com Mo Ibrahim encerrou três dias de debates do Ibrahim Governance Weekend 2021, que reuniu políticos, especialistas e ativistas da sociedade civil para debater o impacto da pandemia covid-19 em África e o caminho para a recuperação.
Entre os oradores estiveram, entre outros, o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde, Tedros Adhanom Ghebreyesus; o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres; a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen; o presidente da Comissão da União Africana, Moussa Faki Mahamat, o diretor do Centro de Controlo e Prevenção de Doenças da União Africana (África CDC), John Nkengasong, e o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel.
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