Na semana passada, o diretor-geral da UNRWA, Philippe Lazzarini, anunciou que a organização não tinha dinheiro para pagar os salários de novembro e dezembro aos seus 28.000 funcionários, a maioria deles refugiados, que prestam serviços nas áreas de educação e saúde a mais de cinco milhões de palestinianos nos campos da Jordânia, Síria, Líbano e Territórios Palestinianos.
A agência das Nações Unidas admitiu estar a passar a “pior crise financeira da sua história” desde a suspensão da ajuda dos EUA e adiantou precisar de cerca de 60 milhões de euros até ao final do mês para pagar integralmente os salários.
A situação é particularmente crítica na Faixa de Gaza, um enclave palestiniano com dois milhões de habitantes, onde o desemprego já ultrapassa os 50% da população ativa e onde a pandemia de covid-19 levou as autoridades a reduzirem os salários dos funcionários públicos em 40%.
Neste contexto, uma suspensão dos programas da UNRWA poderia ter efeitos económicos e de segurança “devastadores” neste território sob controle do islamita Hamas, e onde a agência da ONU, com 13.000 funcionários só em Gaza, é o “principal empregador” depois das autoridades locais.
“Representamos 80% da ajuda a Gaza. Se suspendermos os serviços, pode ser um desastre total. E não acho que seja do interesse de ninguém ver as atividades das escolas suspensas e os cuidados de saúde parados no meio de uma pandemia”, destacou Lazzarini, numa entrevista à AFP, realizada no domingo à noite por videoconferência.
“E isto também pode acontecer no Líbano”, onde vivem mais de 470 mil refugiados palestinianos, adiantou o diretor-geral, explicando que se trata de “um país atingido por uma crise financeira sem precedentes, onde a taxa de desemprego disparou” e onde a suspensão dos programas de ajuda aos refugiados palestinianos pode causar uma “nova fonte de instabilidade”.
A crise de financiamento desta agência da ONU é um assunto recorrente nos círculos diplomáticos e humanitários, e o diretor da UNRWA admite que os doadores expressam ocasionalmente “cansaço” por financiarem ajuda a refugiados de um conflito que dura há mais de 70 anos.
“Estamos à beira do abismo”, considerou Philippe Lazzarini, que assumiu o cargo este ano, após uma crise interna na liderança da organização que também levou a um distanciamento dos doadores da agência, já fragilizada pelo afastamento decidido pela administração Trump.
Em 2018, os Estados Unidos cortaram, por decisão do Presidente, Donald Trump, o financiamento à agência, privando-a de mais de 360 milhões de dólares (cerca de 305 milhões de euros) por ano, ou seja, quase 30% do seu orçamento anual.
Face à crise que se instalou, 40 Estados aumentaram a sua contribuição desse ano à agência para limitar os impactos da retirada norte-americana, mas, desde então, as contribuições diminuíram e a crise da covid-19 ajudou a piorar a situação este ano.
A UNRWA tem, no entanto, esperança de que a eleição de Joe Biden para a presidência dos Estados Unidos possa alterar a situação e reaproximar o país das causas palestinianas e humanitárias, admitiu o diretor-geral.
“Todas as mensagens indicam que há vontade por parte do (futuro) Governo dos Estados Unidos de restaurar a relação de longo prazo com a UNRWA. Como e quando isso realmente se traduzirá ainda é uma questão a discutir quando a nova administração tomar posse”, acrescentou.
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