"As greves em Lisboa e em Setúbal não têm nada a ver com a defesa dos interesses dos trabalhadores. Têm apenas a ver com o interesse do presidente do SEAL no seu desejo de protagonismo e poder. E com a sua política de greves permanentes. A sua atividade preferida é decretar greves quando devia ser a defesa do futuro dos trabalhadores", acusa, em comunicado, a AGEPOR.
A tomada de posição da AGEPOR surge após o fracasso das negociações realizadas na semana passada para tentar acabar com a paralisação dos estivadores precários do Porto de Setúbal desde o passado dia 5 de novembro.
"Agora vamos ouvir a ladainha da solidariedade que de tanto usada, com prejuízo dos trabalhadores de Lisboa, e agora também dos de Setúbal, já cansa", acrescenta o comunicado, lembrando que "tudo isto foi despoletado pelo SEAL ao decretar mais uma greve em Lisboa, nos dias 27 e 28 de julho, na semana seguinte a ter fechado um novo acordo com as empresas".
De acordo com a AGEPOR, o acordo de Lisboa "era bom para os trabalhadores" e contemplava melhores condições salariais, mas acabou cancelado devido à greve nacional ao trabalho extraordinário decretada pelo SEAL.
A AGEPOR afirma ainda que os armadores não têm interesse em escalar portos que estão sempre em greve, que estão sempre em conflito, que o Porto de Lisboa já passou de primeiro para terceiro porto nacional e que “por este caminho há de chegar a último”.
"E parece que Setúbal lhe pode seguir as pegadas. O que têm de comum? O SEAL! Será que os trabalhadores se vão continuar a deixar enganar pela bravata do SEAL. Pela ilusória alegria de aparecer nos telejornais? É que os telejornais ficam, mas os navios não. E sem navios não há trabalho, e sem trabalho não há emprego, e sem emprego não são precisos trabalhadores", questiona o comunicado da AGEPOR.
"Esperemos que quando os trabalhadores de Lisboa e de Setúbal acordarem para a realidade não seja tarde demais. Apetece-nos gritar "Estivadores de Lisboa, estivadores de Setúbal: deixem de ser carne para canhão para interesses que não são os vossos", acrescenta o comunicado, que critica o SEAL e elogia outros sindicatos do setor.
O Porto de Setúbal está praticamente parado devido à recusa dos cerca de 150 trabalhadores precários - inicialmente cerca de 90 estivadores eventuais da empresa de trabalho portuário Operestiva, a que se juntaram, a semana passada, mais algumas dezenas de eventuais da Setulsete - em se apresentarem ao trabalho, em protesto contra a situação de precariedade em que trabalham, alguns há mais de 20 anos.
Estes trabalhadores eventuais são contratados ao turno, não têm quaisquer direitos para além do salário que recebem, não têm direito a baixa médica, não recebem subsídio de férias ou de Natal e podem ser dispensados temporariamente, ou mesmo a título definitivo, a qualquer momento, se as empresas concessionárias do Porto de Setúbal assim o decidirem.
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