“Vamos aconselhar vivamente os agricultores a não as fazerem porque as possibilidades de haver água para elas são muitíssimo escassas”, disse à agência Lusa Luís Bulhão Martins, responsável pela associação de beneficiários da Obra da Vigia.

Neste perímetro de rega alentejano, que serve cerca de 100 agricultores, explicou, cerca de “20 a 25%” das terras costumam ser ocupadas por culturas de primavera/verão, mas, por causa da seca, está em risco a sua utilização na próxima campanha.

“Se não houver uma mudança climática expressiva, culturas como o milho ou o tomate, que se fazem no perímetro, vão estar com seríssimos problemas”, pelo que, insistiu, a associação vai “aconselhar os agricultores a não as fazerem”.

A albufeira da Vigia, que está ligada ao sistema do Alqueva, desde 2015, tem uma capacidade de armazenamento total que ronda os 17 milhões de metros cúbicos de água e serve para o abastecimento público do concelho de Redondo e para a rega agrícola.

Segundo Luís Bulhão Martins, a barragem está atualmente a 13% da sua capacidade, com 2,5 milhões de metros cúbicos de água, mas apenas “7% são capacidade útil”, ou seja, cerca de 1,4 milhões, porque o restante “é o volume morto, que não se consegue, nem deve retirar, por questões ambientais”.

Como “não vamos até ao volume morto”, isso significa que “temos um milhão de metros cúbicos de água para regar”, quando, num ano normal, os agricultores gastam “cinco a seis milhões de metros cúbicos na Vigia”, comparou.

Contactado pela Lusa, o presidente da Câmara de Redondo, António Recto, disse hoje que o abastecimento público “está garantido”, graças à ligação ao Alqueva, que está a injetar na Vigia “100 litros de água por segundo” 24 horas por dia.

Mas, reconheceu, se o abastecimento à população está salvaguardado, existe “um outro problema e bastante sério que tem a ver com a agricultura e com a possibilidade de os agricultores regarem durante a próxima campanha”.

“E isso também nos deixa preocupados, uma vez que a economia também assenta, principalmente na freguesia de Montoito, a partir da zona de regadio”, sublinhou.

Com as culturas de primavera/verão em risco de não serem semeadas, assinalou Luís Bulhão Martins, o objetivo é garantir água para as culturas de outono/inverno, como cereais, e salvaguardar a sobrevivência das culturas permanentes, nomeadamente o olival, que representa “50% da área regada” no perímetro, e a vinha, “que não chega bem aos 10%”.

“Estamos em fevereiro e já tivemos de dar um bocadinho de água a agricultores aflitos para regarem culturas de outono/inverno”, quando, nesta altura, costuma acontecer o contrário, afirmou o responsável da associação: “Estaríamos com problemas de água a mais, por causa da chuva”.

Luís Bulhão Martins alertou para o “impacto terrível em termos económicos” que a situação representa na zona de Montoito, cujos agricultores “vão ter este ano uma perda de rendimento terrível”, e reclamou medidas de apoio da parte do Ministério da Agricultura.

“Esperamos que o ministério tome as devidas medidas e procure, junto das verbas que tem da Política Agrícola Comum (PAC), arranjar qualquer coisa que tenha significado em termos de minimização da perda de rendimento”, reivindicou.

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