A AIEA explicou que não está em condições de “garantir que o programa nuclear iraniano seja exclusivamente para fins pacíficos”, devido à ausência de respostas de Teerão sobre a questão dos locais não declarados onde está armazenada parte do urânio enriquecido produzido nos últimos anos.

Num relatório que será apresentado ao Conselho de Governadores da agência do sistema da ONU na próxima semana, o diretor-geral da AIEA, Rafael Grossi, diz estar “cada vez mais preocupado” porque “nenhum progresso foi feito na resolução” dos vestígios de urânio enriquecido encontrados em vários lugares no passado.

Grossi pede à República Islâmica “que cumpra as suas obrigações legais” e coopere o mais depressa possível com a agência, encarregue de monitorizar o programa nuclear iraniano.

Este ponto tem sido um dos principais obstáculos nas novas negociações iniciadas em abril de 2021 em Viena.

A capital austríaca tem acolhido conversações na tentativa de recuperar o acordo nuclear de 2015, firmado entre o Irão e as principais potências mundiais, que foi abandonado unilateralmente pelos Estados Unidos em 2018, sob a administração do então Presidente Donald Trump.

Na terça-feira, Teerão pediu novamente o encerramento da investigação da AIEA para chegar a um compromisso com os seus interlocutores diretos (Alemanha, França, Reino Unido, China e Rússia), enquanto os Estados Unidos têm participado indiretamente nas conversações.

A AIEA também lamenta a decisão anunciada em junho pelo Irão de remover várias câmaras de vigilância, alegando “consequências prejudiciais para a capacidade” de verificar a natureza civil do programa nuclear.

Ao mesmo tempo que restringiu o acesso a dados por parte da agência da ONU, o Irão continuou nos últimos meses a acumular urânio enriquecido a um ritmo acelerado.

O armazenamento de urânio enriquecido já ultrapassa mais de 19 vezes o limite permitido pelo acordo internacional de 2015.

Até 21 de agosto, Teerão tinha aumentado as suas reservas totais para 3.940,9 quilogramas, contra 3.809,3 quilogramas em meados de maio, muito acima do limite de 202,8 quilogramas com que se tinha comprometido.

O Irão aumentou, em particular, a sua reserva de 20% de material enriquecido para 331,9 quilogramas contra os anteriores 238,4 quilogramas.

Este nível, que é superior aos 3,67% estabelecidos pelo acordo, permite teoricamente produzir isótopos médicos, utilizados nomeadamente no diagnóstico de certos cancros.

A República Islâmica também dispõe de 55,6 quilogramas de urânio enriquecido a 60%, um limite próximo aos 90% necessários para desenvolver uma arma atómica, valores que contribuem para a denúncia de Grossi de que não há nenhuma garantia que Teerão tenha em mente apenas um programa nuclear para fins pacíficos.