Três quartos das amostras de refeições para animais compradas e testadas na Suíça excederam os limites recomendados de bactérias conhecidas por causar infeções gastrointestinais e mais de metade tinha bactérias resistentes aos medicamentos criados para matá-las, relataram investigadores na revista Royal Society Open Science.

"É realmente preocupante termos encontrado bactérias produtoras de EBSL em mais de 60% das amostras", disse a autora principal do estudo, Magdalena Nuesch-Inderbinen, investigadora da Universidade de Zurique, referindo-se a uma enzima que torna alguns antibióticos ineficazes.

"Estas bactérias incluem vários tipos de E. coli, que podem causar infeções em humanos e animais", especificou.

As vendas de alimentos crus para animais de estimação — por vezes chamados de "alimentos crus biologicamente apropriados", ou Barf, na sigla em inglês — aumentaram nos últimos anos, especialmente para cães. Diz-se que dietas do tipo paleolítica aumentam a vitalidade e imunidade caninas, embora existam poucos estudos para validar tais alegações.

De facto, associações médicas veterinárias nos Estados Unidos e no Canadá levantaram preocupações sobre alimentos com carne crua para animais de estimação, com relatos mostrando que são uma fonte de salmonella e yersiniose infecciosa em cães. E isso, disse Nuesch-Inderbinen à AFP, é um problema para os humanos.

"As dietas à base de carne crua podem estar contaminadas com bactérias que são resistentes a vários antibióticos, incluindo aqueles classificados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como extremamente importantes para a medicina humana", afirmou por e-mail.

"Há evidências crescentes de que esses patogénicos representam um risco de doenças infecciosas para os humanos, não apenas durante o manuseio da ração, mas também pela contaminação das superfícies domésticas e pelo contacto próximo com os cães e com as suas fezes", acrescentou.

Estima-se que há 140 milhões de cães e gatos na União Europeia e uma quantidade similar na América do Norte.

De maneira mais geral, a resistência a antibióticos tornou-se uma grande crise de saúde em todo o mundo.

"A situação das bactérias resistentes a vários medicamentos saiu do controlo nos últimos anos", disse o coautor Roger Stephan, professor do Instituto de Segurança e Higiene dos Alimentos da Universidade de Zurique.

O uso indiscriminado e às vezes inadequado de antibióticos permitiu que as bactérias sobreviventes se transformassem em superbactérias que ultrapassam o desenvolvimento de novos medicamentos.

Devido ao uso excessivo de antibióticos na produção pecuária, os animais criados para consumo tornaram-se um importante reservatório de resistência antimicrobiana.

"Como alimentos convencionais para animais de estimação, a maioria das dietas à base de carne crua é baseada nos subprodutos de animais abatidos para consumo humano", observa o estudo.

Para descobrir exatamente o quão contaminados estão os alimentos crus para animais, os investigadores testaram 51 amostras de diferentes fornecedores na Suíça, compradas em lojas e na Internet.

"Aconselhamos a todos os donos de cães e gatos que desejam alimentar os seus animais de estimação com uma dieta 'Barf' que manuseiem os alimentos com cuidado e mantenham rígidos padrões de higiene", disse Nuesch-Inderbinen.

"Os donos de animais de estimação devem estar cientes do risco de estes transportarem bactérias resistentes a vários medicamentos e de poderem possam espalhá-las", concluiu.

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