Com sede em Bruxelas, a organização divulgou hoje o relatório “Um problema de três fronteiras: restringindo as fronteiras criminosas da Amazónia”, em que destacou que há uma variedade de organizações criminosas “explorando o fraco alcance estatal, a abundância de recursos naturais e a pobreza das comunidades locais para crescer, diversificar e criar novos empreendimentos transfronteiriços” nessas zonas da maior floresta tropical do planeta.
Segundo a International Crisis Group, o aumento da produção de cocaína no Peru e a disseminação de outros esquemas, como a exploração de ouro e a extração ilegal de madeira, tem atraído e colocado diversas organizações criminosas em contacto.
“Encorajados pelo controlo irregular das autoridades governamentais sobre essa vasta área, grupos criminosos brasileiros estabeleceram parcerias com fações guerrilheiras colombianas e organizações de tráfico de drogas peruanos. Eles exploram uma série de empreendimentos ilegais, desde o cultivo de coca e seu processamento em cocaína até a extração de madeira, a dragagem de ouro e a pesca em áreas protegidas”, destacou.
Segundo a ONG, a crescente influência de grupos criminosos nessa tríplice fronteira da América do Sul tem provocado um elevado número de assassinatos, muitos deles ligados a disputas por território ou à punição de populações locais que ousam resistir à invasão das suas terras por essas organizações.
“Nesta parte da Amazónia, o novo senhor ilegal é o grupo brasileiro Comando Vermelho (CV), que ganhou vantagem nas batalhas com dois outros grandes grupos criminosos: o grupo local Os Crías e o Primeiro Comando da Capital, um grupo imensamente poderoso originalmente de São Paulo, mas que agora atua em todo o Brasil”, afirmou.
“As autoridades policiais acreditam que o Comando Vermelho pode estar em conluio com o grupo guerrilheiro colombiano Carolina Ramírez, que se separou das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), agora desmobilizadas”, acrescentou.
O Peru, por sua vez, tornou-se o motor da produção de cocaína na região, causando sérios danos ambientais ao longo da fronteira.
No relatório frisa-se que as plantações de coca, que são cultivadas em florestas derrubadas, cresceram na província fronteiriça peruana de Mariscal Ramón Castilla, muitas vezes financiadas por investidores colombianos ou brasileiros, e a folha de coca acaba processada em laboratórios que despejam contaminantes no solo e na água.
“Os grupos ilegais frequentemente reinvestem os lucros do tráfico de droga em outras atividades prejudiciais ao meio ambiente, como a extração ilegal de madeira, a dragagem e a pesca, o que lhes permite branquear a sua renda e gerar ainda mais. As comunidades indígenas têm procurado defender os seus territórios das incursões de grupos criminosos, mas muitas afirmam não ter recebido apoio do Estado ou das forças de segurança”, pontuou a ONG.
A região onde Brasil, Colômbia e Peru se encontram está particularmente distante de áreas populosas, numa zona de floresta, e o estudo avaliou que as autoridades dos três países precisam elaborar uma resposta conjunta para combater a expansão dos grupos criminosos.
“É essencial padronizar a legislação sobre crimes ambientais entre os países e utilizar ferramentas tecnológicas, como imagens de satélite, para detetar atividades ilegais, incluindo a operação de plantações de coca e projetos de dragagem [de rios para extrair ouro] ilícitos”.
A organização também instou órgãos judiciários e policiais do Brasil, Colômbia e Peru a organizarem projetos transfronteiriços para fazer cumprir as leis contra branqueamento de dinheiro e o tráfico de narcóticos, madeira, ouro e mercúrio, a ouvirem a população local e a realizarem ações sociais e económicas para evitar que os moradores das áreas de fronteiras sejam cooptados pelo crime.
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