Em comunicado, a Zero, "a par de diversas outras organizações não governamentais portuguesas e espanholas, denuncia que este depósito de resíduos nucleares se destina a prolongar a vida da central além dos 40 anos, e não para a desmantelar", salientando que a licença de operação dos dois reatores da Almaraz expira a 08 de junho de 2020 e os 40 anos de de operação "atingem-se em 2021 e 2022, respetivamente".
O Conselho de Segurança Nuclear (CSN) de Espanha deu esta semana parecer favorável para a construção da ATI, que permitirá à central depositar resíduos de elevado nível radioativo gerados pela central a partir de 2018.
"Este armazenamento será composto por um muro de proteção e uma laje" onde serão depositados "até 20 contentores com o combustível nuclear utilizado", refere a Zero.
Atualmente, falta a autorização do ministério do Ambiente que, juntamente com o relatório do CSN, "são obrigatórios para que seja concedida a autorização final à central", mas segundo a associação, "perspetiva-se que esse licenciamento virá a ser concedido".
Para a associação, a decisão de construir a ATI "é apenas um esforço para permitir a extensão da vida da central além de 40 anos e a tentativa mesmo de a fazer chegar a 60 anos de funcionamento".
A Zero considera que a Almaraz "deve ser encerrada desde já, ou no limite, no termo da sua licença de operação, em junho de 2020" e apontou que "este processo que está agora a ser viabilizado põe em forte risco e constitui uma séria ameaça futura ao território português a acrescentar à sequência de sucessivas denúncias e resultados graves de segurança identificados por inspeções recentes", pelo que "o Governo português tem justificação e obrigação para agir".
PSD pede esclarecimentos ao Governo
Na sexta-feira, o deputado do PSD Manuel Frexes disse estar "muito preocupado" com o anúncio da construção do armazém de resíduos nucleares em Almaraz e considerou que o Governo português não pode continuar indiferente à situação.
"Isto significa também que, ao fazer este investimento, eles [espanhóis] preparam-se para alargar o prazo de laboração da própria central [de Almaraz], que é aquilo que querem há muito tempo", frisou o deputado eleito pelo círculo de Castelo Branco, em declarações à Lusa.
O deputado social-democrata disse que vai avançar com um pedido de esclarecimento sobre este assunto ao Governo português, na próxima segunda-feira.
"Queremos saber o que é que o Governo português vai fazer perante esta situação preocupante. Até agora, a resposta do Governo na comissão do Ambiente é que está a acompanhar o caso", sublinhou.
Manuel Frexes disse que chegou a altura de o ministro do Ambiente, João Matos Fernandes, interpelar o seu homólogo espanhol e confrontá-lo com esta situação.
"Enorme preocupação", diz Bloco de Esquerda
O presidente da Comissão Parlamentar de Agricultura, Ambiente e Ordenamento do Território, manifestou também hoje "enorme preocupação" com o anúncio da construção de um armazém de resíduos nucleares em Almaraz, Espanha, situação que aumenta o risco de acidentes.
"Esta autorização para a construção de um armazém de resíduos nucleares a poucos quilómetros da fronteira [portuguesa], aumenta a pressão nuclear sobre toda esta região e, como é óbvio, aumenta em muito o risco de acidentes e de poluição precisamente a partir da atividade nuclear em Almaraz", afirmou Pedro Soares.
O deputado do Bloco de Esquerda (BE), que falava em Vila Velha de Ródão, no distrito de Castelo Branco, à margem da marcha pelo Tejo, organizada pelo BE, adiantou que a notícia da construção de um armazém para resíduos nucleares no perímetro da central de Almaraz, só pode significar que o governo espanhol está determinado em prolongar o período de vida da central nuclear.
"Isso é uma preocupação enorme. Repare que na Assembleia da República conseguimos aprovar, por unanimidade, da direita à esquerda, uma resolução que pede ao governo português que inicie conversações com o governo espanhol, no sentido de se iniciar um processo de desativação da central nuclear [Almaraz]", sublinhou.
O deputado do BE adiantou também que as informações que tem tido é que o governo português tem manifestado alguma preocupação junto das entidades espanholas e tem procurado obter esclarecimentos sobre a central nuclear de Almaraz.
Adiantou ainda que segundo o governo português, este impasse relativamente ao governo espanhol, deve-se ao facto de não haver ainda um governo pós eleitoral em Espanha, o que trouxe algumas dificuldades.
"Agora o problema é este. O governo espanhol está a ter dificuldades em dar esclarecimentos ao governo português, argumentando que ainda não existe um governo pós-eleitoral, mas para decidir sobre a instalação de uma lixeira nuclear parece que não há problemas nenhuns e já tem capacidade e competências para o fazer. É evidente que tem que se alterar esta situação", concluiu.
A funcionar desde o início da década de 1980, a central está situada junto ao Tejo e faz fronteira com os distritos portugueses de Castelo Branco e Portalegre, sendo Vila Velha de Ródão a primeira povoação portuguesa banhada pelo Tejo depois de o rio entrar em Portugal.
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