“Foi uma missão histórica, extremamente difícil por várias razões. Primeiro, porque demorando os fundos da então Comunidade Europeia a chegar, a missão arrancou exclusivamente com fundos próprios da minha irmã Leonor, da Luísa Nemésio, hoje minha mulher, e sobretudo meus, numa altura em que ainda tinha o meu consultório no Algarve”, recorda o fundador da Assistência Médica Internacional (AMI), Fernando Nobre, num artigo publicado no ‘site’ da organização.
Depois, “as acessibilidades a Lugadjole eram muito duras e o isolamento, total”, conta o médico, lembrando o chefe de missão dos primeiros dois anos de missão, Jorge Gaspar.
“Lugadjole foi o meu Lambaréné, o lugar onde mais me aproximei do meu herói e mentor, o Dr. Albert Schweitzer. Aí tive o meu hospital do mato, tendo lá operado em condições incríveis”, lembra Fernando Nobre, que regressou na sexta-feira de uma nova missão, esta exploratória na Turquia.
Ao longo das três décadas, a AMI desenvolveu missões em cenários de guerra em Angola, na Bósnia, Kosovo, no Iraque, apoiou as vítimas dos terramotos no Irão, Paquistão, Haiti e Nepal, do tsunami no Sri Lanka, das chuvas torrenciais e ciclones no Bangladesh, Honduras, Venezuela e Moçambique, do genocídio no Ruanda, da crise em 1999 em Timor-Leste, entre muitas outras situações.
“Fizemo-lo sem olhar a credos, raças e regiões do planeta, respeitando sempre a nossa carta de princípios desde os primórdios da nossa causa: cada ser humano é um ser único e insubstituível merecedor de toda a nossa atenção e do nosso incondicional amor”, afirma Fernando Nobre.
No total, foram realizadas cerca de 400 missões e projetos em 82 países, “alguns deles feitos em parceria com organizações locais, que nós promovemos, financiámos e apoiámos no sentido de fortalecer a sociedade civil desses países”, disse à agência Lusa a diretora do Departamento Internacional da AMI, Tânia Barbosa.
Na base de todas estas intervenções está “dar ajuda às populações mais vulneráveis”, um trabalho que se divide em “duas áreas completamente diferentes”.
Uma das áreas consiste em dar resposta em missões de emergência (catástrofes naturais, conflitos ou um surto epidémico), em que o objetivo é assegurar as necessidades básicas às populações afetadas.
A outra área de intervenção é “tentar combater as causas da pobreza”, uma ação “muito mais complexa, muito mais prolongada no tempo e muito mais estrutural”.
São “projetos que duram anos e décadas e que implicam mudanças de comportamento na comunidade onde estamos a trabalhar”, sublinhou a responsável.
Uma parte dos projetos da AMI foi feita com voluntários internacionais. “Neste 30 anos já contabilizámos 692 expatriados, que partiram em missão connosco”, adiantou.
Traçando o perfil destes voluntários, Tânia Barbosa disse que são “pessoas que, por períodos de meses e alguns por períodos de anos, suspenderam as suas vidas” em Portugal “para integrar projetos da AMI no terreno”.
Uma grande parte destes voluntários é da área da saúde: “São mais de três centenas de médicos e quase três centenas de enfermeiros que partiram em missão connosco”, adiantou,
Para celebrar os 30 anos de missões internacionais a organização realiza hoje, em Cascais, uma homenagem a todos os voluntários que apoiaram a AMI e um jantar no Porto em que serão leiloadas 30 obras de arte originais.
“São muitos anos de trabalho, muitas intervenções na América Latina, na Ásia, na África e até na Europa que este ano queremos assinalar de uma forma especial com um evento que vamos realizar em queremos homenagear todos estes voluntários internacionais que estiveram connosco durante tanto tempo”, sublinhou.
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