"O destino da democracia e de tudo a que chamamos de 'civilização' depende da nossa capacidade, agora, para construirmos sociedades plurais e harmoniosas. Este será, estou certo, a grande obra deste século", afirmou o escritor, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.
Amin Maalouf agradeceu a distinção que lhe foi atribuída por um júri presidido pelo antigo chefe de Estado Jorge Sampaio e, numa curta intervenção em francês, defendeu que não se pode quebrar o princípio da universalidade em matéria de direitos fundamentais.
O escritor, autor de obras como "As Cruzadas Vistas Pelos Árabes" e do recente ensaio "O Naufrágio das Civilizações", afirmou que "a humanidade é uma só" e que "não há direitos inalienáveis para os habitantes de um continente e direitos diferentes para os habitantes de um outro".
"Há uma exigência de dignidade humana que transcende todas as diferenças, todas as filiações e todas as crenças seculares ou religiosas. No momento em que nos permitimos admitir, mesmo implicitamente, mesmo inconscientemente, que existem várias humanidades distintas, cada uma com suas próprias normas, perdemos toda a bússola moral e derivamos para a barbárie", advertiu.
Segundo Amin Maalouf, "evitar esta deriva exige de todos uma vigilância permanente" e há que "agir a montante, para identificar o surgimento de preconceitos, discriminações, impaciências e intolerâncias".
"A primeira tarefa dos dirigentes políticos, como dos professores, dos escritores e dos artistas, assim como dos jornalistas, é construir nas mentes dos seus contemporâneos uma cultura da paz e da coexistência. Trata-se de uma missão delicada, mas é a missão que a História atribuiu às nossas gerações, e não temos outra escolha senão assumi-la plenamente, com coragem, com eficiência e com paixão", disse.
Em seguida, o Presidente da República elogiou o escritor, considerando-o um "defensor do humanismo, da tolerância, do multilinguismo, da coexistência", e referiu o seu conceito de identidade como "a soma de várias pertenças", em vez de "uma pertença exclusiva, tomada como suprema e que frequentemente se torna um instrumento de exclusão e de guerra".
Marcelo Rebelo de Sousa, que utilizou a língua francesa ao falar sobre Maalouf, retomou depois o discurso em português e voltou a elogiá-lo, descrevendo-o como "um humanista, um militante humilde, mas tenaz pelos direitos humanos, incansavelmente convicto da força da razão contra a razão da força, da bondade da paz contra a intolerância da guerra".
O chefe de Estado enalteceu ainda os galardoados com os Prémios Gulbenkian 2019 nas categorias de Coesão, a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, de Conhecimento, o programa da Antena 1 "90 segundos de ciência", e de Sustentabilidade, o Teatro Metaphora - Associação de Amigos das Artes.
Além de Marcelo Rebelo de Sousa e de Jorge Sampaio, nesta cerimónia esteve também presente o anterior Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva.
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