"Adoro Joe Biden, mas precisamos de outro candidato", escreveu o ator, realizador e produtor num artigo publicado no jornal The New York Times.

Clooney lembrou um evento de angariação de fundos para o presidente americano no meio de junho: "É terrível dizer isso, mas o Joe Biden com quem estive há três semanas não era o mesmo Joe Biden de 2010, nem mesmo o Joe Biden de 2020. Era o mesmo homem que todos nós testemunhamos no debate” com Donald Trump em junho.

Naquela noite, Biden parecia muito confuso e cansado, travando ao falar e perdendo o raciocínio várias vezes.

A opinião de Clooney não é isolada, já que Biden sempre teve o apoio tanto mediático quanto financeiro de Hollywood. O ator Michael Douglas também se mostrou "muito preocupado" com as perspectivas eleitorais de Biden nesta quarta-feira.

Dentro do Partido Democrata, também há vozes dissidentes. Nancy Pelosi, 84, ex-presidente da Câmara dos Representantes, colocou Biden entre a espada e a parede de uma forma subtil, porém firme.

"É uma decisão do presidente se ele se vai candidatar", declarou à emissora MSNBC. "Todos o encorajamos a tomar essa decisão porque o tempo está a esgotar-se", acrescentou.

Até ao momento, apenas oito democratas da Câmara dos Representantes pediram publicamente a Biden que atire a toalha ao chão. A eles uniu-se na esta terça-feira um primeiro senador. “Acho que Donald Trump caminha para vencer as eleições, talvez de forma esmagadora, e levar o Senado e a Câmara", disse o senador Michael Bennet à estação CNN.

O senador de Vermont Peter Welch foi mais direto e pediu ao presidente que “se retire da corrida” à Casa Branca “pelo bem do país”, numa colaboração publicada pelo Washington Post.

Biden escreveu na última segunda-feira aos congressistas democratas dizendo que estava "firmemente determinado a continuar na corrida" e pedindo o seu "apoio". Agora o presidente quer "virar a página", como disse ontem a sua porta-voz Karine Jean-Pierre.

O democrata, que tenta dissipar as dúvidas sobre a sua forma física e acuidade mental, teve outro dia movimentado nesta quarta-feira. Ele falou brevemente durante uma reunião da principal associação sindical americana, a AFL-CIO. Depois, compareceu à abertura da cimeira da NATO em Washington, onde o presidente francês Emmanuel Macron, que também está politicamente enfraquecido, lhe deu um abraço.

Paralelamente a essa reunião, Biden concederá esta sexta-feira uma aguardada conferência de imprensa, que servirá para avaliar a acuidade mental do presidente. Biden voltará a expor-se na segunda-feira, em entrevista à NBC.

No momento, as dúvidas sobre a condição física e as capacidades cognitivas de Joe Biden minam completamente as tentativas da sua equipa de chamar a atenção para os planos de Donald Trump sobre o direito ao aborto.

O republicano, 78 anos, desafiou Joe Biden a outro debate, “de homem para homem”, e para uma partida de golfe. Durante um comício na Flórida na terça-feira, Trump acusou Biden de orquestrar “o maior encobrimento da história da política” sobre a sua saúde.

Trump, que permaneceu relativamente calmo desde o debate, criticou Pelosi na sua plataforma Truth Social e chamou-a um "desastre cognitivo" após os seus comentários. Além disso, apelidou Clooney de "falso ator de cinema" e disse que "deveria sair da política e retornar à televisão".

Muitos congressistas temem que Joe Biden possa fazer com que eles percam os seus assentos nas eleições legislativas de novembro, que ocorrem simultaneamente às eleições presidenciais. Sondagens realizadas desde o debate alimentam esse medo, mostrando que Trump mantém ou amplia a sua vantagem sobre o rival democrata.

"O importante não é o que sentimos, mas o que os números nos dizem", escreveu hoje Ritchie Torres, membro do influente grupo de congressistas afro-americanos, numa rede social.

O site Axios afirma que o líder do partido no Senado, Chuck Schumer, outra figura democrata proeminente, está disposto a considerar outra candidatura. Os senadores democratas devem almoçar amanhã com assessores do entorno de Biden.

Um estudo do instituto Cook Political Report, baseado em 21 grandes sondagens, atribui ao republicano de 78 anos 47% das intenções de voto a nível nacional, em comparação com 44% de Biden. Nota-se, especialmente, que o democrata perdeu apoio entre afro-americanos, jovens e hispânicos.