Se apostasse, 90% das fichas de Ana Gomes iam para a vitória do MPLA - Movimento Popular de Libertação de Angola. Não pelo desempenho do presidente João Lourenço - que falhou a vários níveis, diz -, mas pelo regime instituído, a começar no processo eleitoral.

Para o pessimismo de que tudo fique na mesma foi determinante o momento em que o governo recusou uma missão de observação eleitoral independente "autêntica", porque "a que está na calha é uma farsa, são observadores de candonga", afirma a antiga deputada do Parlamento Europeu, que já integrou diversas missões profissionais, incluindo em Angola. E explica as regras.

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A este propósito, Ana Gomes recorda um episódio: "Em 2012, Durão Barroso, que era presidente da Comissão Europeia, fez o frete ao presidente José Eduardo dos Santos e foi a Luanda dizer que Angola era uma democracia madura, não precisava de observadores eleitorais". "'Infelizmências' que não ajudam o país", garante.

"O nível de captura de Portugal é enorme e explica boa parte da corrupção em Angola", denuncia. Ana Gomes diz que João Lourenço frustrou as promessas que fez e acredita que o combate à corrupção só é possível com mudanças no sistema de Justiça ou no MPLA, o partido que sustenta o governo.

"O esquema de cleptocracia que José Eduardo dos Santos instituiu leva a família a interferir no processo [eleitoral], determinado pelo ódio a João Lourenço". Ana Gomes fala dos rumores sobre Isabel dos Santos estar a financiar a campanha de Adalberto da Costa Júnior, líder da UNITA - União Nacional para a Independência Total de Angola, ou do apelo de Tchizé dos Santos ao voto na UNITA.

Apesar das sondagens, "que se encomendam à medida de todos os gostos e à medida de todas as bolsas", Ana Gomes acredita que muitos vão votar, porque este "é um momento de encruzilhada para o país".

E recorda que "os jovens" - a maioria dos 14 milhões de eleitores -, já não têm o lastro da guerra" e "são menos suscetíveis a recordações do passado que ainda assustam os mais velhos", "têm mais consciência de que vivem num país riquíssimo e na pobreza, sem oportunidades".