"Eu espero que aquilo que se passou nos Estados Unidos sirva de lição para todos nós e que seja um alerta de que a democracia está em perigo e de que [os membros da] extrema-direita não uns cómicos que aparecem nas televisões para darem audiências aos programas. São um perigo real", frisou o fundador do Instituto de Estudos Estratégicos e Internacionais de Lisboa em declarações à Lusa.

Para Álvaro Vasconcelos, "o que se passou na quarta-feira nos Estados Unidos, uma tentativa de golpe de Estado, deve ser um alerta para todos”.

“Nós costumamos dizer que 'isto não pode acontecer e não vai acontecer’, mas acabamos por contemporizar com grupos muito radicais de extrema-direita e que não existem só na América, também existem em Portugal e em muitos países da Europa", disse à Lusa o analista de assuntos internacionais.

Para o fundador do Instituto de Estudos Estratégicos Internacionais, os acontecimentos de quarta-feira na capital norte-americana foram uma tentativa de tomada do poder por parte da extrema-direita, impulsionada por Donald Trump.

"Nós assistimos ontem (quarta-feira), nos Estados Unidos, em Washington, na sede do poder democrático norte-americano a uma tentativa de golpe de Estado. Trump não aceitou o resultado das eleições e já há muito que dizia que não aceitaria e que não sairia da Casa Branca"

Na opinião de Álvaro Vasconcelos, o chefe de Estado cessante foi tentando todas as formas possíveis para não abandonar o cargo: Recorrendo aos tribunais, "inventando as teorias conspirativas mais loucas", recorrendo ao Supremo Tribunal e tentando que os responsáveis pelos processos eleitorais alterassem os resultados das eleições de novembro em alguns estados.

"Como não conseguiu nada, recorreu à última tentativa que era criar o caos absoluto em Washington para poder declarar o estado de sítio", disse o especialista em assuntos internacionais, acrescentando que os Estados Unidos têm de tomar medidas constitucionais urgentes sobre o assunto.

Segundo Álvaro Vasconcelos deve verificar-se uma penalização por parte do Estado - com recurso aos processos constitucionais legítimos - e nomeadamente através da 25ª emenda, o que levaria a que o vice-presidente dos Estados Unidos (Mike Pence) e aqueles que trabalham mais diretamente com Trump declarassem o chefe de Estado "incapaz" para continuar a desempenhar funções.

O processo de destituição é longo e precisaria de um apoio claro dos partidos, sendo que, afirma Vasconcelos, os republicanos têm de se definir urgentemente em relação aos acontecimentos.

"Esta é a hora do Partido Republicano. É preciso saber-se se o Partido Republicano tirou as devidas lições sobre o que se passou, se vai continuar a apoiar as teorias conspirativas de Trump. Já vimos que há uma parte do partido que se demarcou das posições do chefe de Estado", disse Álvaro Vasconcelos, que considera viável a realização de um processo judicial contra Trump.

"O que Trump fez, provocou, dirigiu e incentivou é um crime e possivelmente acabará por ser julgado. Trump gostaria de se amnistiar a si próprio, mas isso seria considerado inconstitucional. Uma administração democrática, com uma parte dos republicanos a demarcarem-se de uma forma tão clara o possível julgamento de Trump é uma real possibilidade", considera.

Álvaro Vasconcelos recorda que a manifestação do movimento Black Lives Matter (BLM), no ano passado, frente ao Capitólio, mostrou um aparato policial muito diferente, assim como foi o comportamento da polícia nas manifestações dos negros americanos no combate ao racismo, nos últimos tempos.

"Um dos mistérios de quarta-feira é a falta de segurança, sabendo-se que uma coisa destas podia acontecer. Estava escrito e havia declarações nesse sentido. Há aqui um mistério que ainda não está resolvido: porque não houve mais segurança?" questiona.

"O que é claro é que a violência que a polícia usa contra o BLM e os afro-americanos é muitíssimo maior do que aquela que usou contra a extrema-direita que tentou um golpe de Estado", sublinhou.

Apoiantes do presidente cessante dos EUA, Donald Trump, entraram em confronto com as autoridades e invadiram o Capitólio, em Washington, na quarta-feira, enquanto os membros do congresso estavam reunidos para formalizar a vitória do Presidente eleito, Joe Biden, nas eleições de novembro.

Pelo menos quatro pessoas morreram na invasão do Capitólio, anunciou a polícia, que deu conta de que tanto as forças de segurança, como os apoiantes de Trump utilizaram substâncias químicas durante a ocupação do edifício.

Já hoje o Congresso dos Estados Unidos ratificou a vitória de Joe Biden nas eleições presidenciais de novembro, na última etapa antes de ser empossado em 20 de janeiro.

O vice-presidente republicano, Mike Pence, validou o voto de 306 grandes eleitores a favor do democrata contra 232 para o Presidente cessante, Donald Trump, no final de uma sessão das duas câmaras, marcada pela invasão de apoiantes de Trump.​​​​​​​

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